"Metade do nosso mundo afunda em um desastre do desenvolvimento, alimentado pela esmagadora crise da dívida", disse Guterres, ao apresentar um relatório sobre o estado da dívida no mundo.
"Em torno de 3,3 bilhões de pessoas, cerca de metade da população (mundial), vivem em países que gastam mais com o pagamento de juros de suas dívidas do que com educação ou saúde", lembrou.
Essas dívidas insustentáveis estão concentradas em países pobres e "não são consideradas um risco sistêmico para o sistema financeiro global", acrescentou.
"É uma miragem. 3,3 bilhões de pessoas são mais do que um risco sistêmico. São uma fracasso sistêmico", disse ele.
Segundo o relatório "Um mundo de dívidas", o total da dívida pública mundial subiu para 92 trilhões de dólares em 2022, cinco vezes mais do que em 2000, quando registrou 17 trilhões de dólares.
Os países em desenvolvimento têm 30% dessa dívida, que aumenta mais rápido porque os juros que pagam são cada vez altos, apesar de a dívida cair em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).
Do total, 52 países - cerca de 40% do mundo em desenvolvimento - "têm problemas significativos de dívida", lembrou Guterres, que vem pedindo, sem sucesso, uma reforma das instituições financeiras internacionais.
"É um resultado da desigualdade intrínseca de um sistema financeiro mundial obsoleto, que reflete as dinâmicas coloniais da época em que foi criado", afirmou.
A composição dessa dívida dos países em desenvolvimento evoluiu, disse a secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Rebeca Grynspan.
Em 2010, os credores privados representavam 47% da dívida externa dos países em desenvolvimento, mas, em 2021, esse percentual subiu para 62%.
"Embora essas fontes privadas possam fornecer liquidez vital para os países, os termos costumam ser menos favoráveis, e isso torna a reestruturação mais complexa, e a dívida pública, mais cara", comentou.
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