Aviso: este artigo contém detalhes que alguns leitores podem achar perturbadores.
Um vídeo mostrando duas mulheres desfilando nuas em meio a uma multidão no Estado de Manipur, no nordeste do país, provocou indignação na Índia.
A polícia diz que abriu um inquérito de estupro coletivo e prendeu um homem, acrescentando que outros serão detidos em breve.
Na quinta-feira (20/7), a sessão do parlamento em Délhi foi interrompida porque os legisladores exigiram um debate sobre o assunto.
O primeiro-ministro Narendra Modi também disse que o incidente "envergonhou a Índia" e que "nenhum culpado será poupado".
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Quatro prisões e possível pena de morte por humilhação de duas mulheres na ÍndiaPor que esquerda pode perder eleição na Espanha mesmo com economia em altaPrefeitura de Amsterdã fechará porto para navios de cruzeiro"Garanto à nação que a lei seguirá seu curso com todas as suas forças. O que aconteceu com as filhas de Manipur nunca pode ser perdoado", disse ele.
O pronunciamento de Modi quebra um silêncio do premiê, que ainda não havia falado sobre a violência étnica em Manipur, que já dura dois meses.
O chefe de justiça da Índia, DY Chandrachud, também expressou preocupação com o ataque, dizendo que a Suprema Corte estava "profundamente perturbada com o vídeo".
O tribunal exigiu que o governo informasse quais medidas estão sendo tomadas contra o acusado. O presidente do tribunal disse: "Tomaremos medidas se o governo não o fizer".
A violência étnica mergulhou Manipur — um belo Estado indiano na fronteira com Mianmar — em turbulência há mais de dois meses, com confrontos entre membros das comunidades tribais Meitei e Kuki. Pelo menos 130 pessoas morreram e 60 mil foram deslocadas.
No vídeo, duas mulheres Kukis aparecem sendo agredidas por homens do grupo Meitei.
A polícia diz que o ataque às mulheres ocorreu em 4 de maio, mas ganhou as manchetes nacionais na quinta-feira (20/7), depois que o vídeo se tornou viral nas redes sociais. O governo federal pediu a todas as empresas de mídia social que excluam o vídeo de suas plataformas.
O vídeo das duas mulheres foi amplamente compartilhado nas redes sociais na quarta-feira. Ele mostra as mulheres sendo arrastadas e apalpadas por uma multidão
de homens que os empurram para um campo.
O Fórum de Líderes Tribais Indígenas (ITLF) disse em um comunicado que atrocidades foram cometidas em uma aldeia no distrito de Kangpokpi contra mulheres da comunidade tribal Kuki-Zo. Ele também alegou que as mulheres haviam sido estupradas por uma gangue.
"O estupro coletivo das mulheres aconteceu depois que a vila foi incendiada e dois homens — um de meia-idade e outro adolescente — foram espancados até a morte pela multidão", disse o ITLF.
Mas a queixa policial apresentada por um parente de uma das mulheres disse que apenas uma delas foi estuprada por uma gangue. E acrescentou que uma terceira mulher foi forçada a se despir, mas ela não aparece no vídeo.
A polícia disse que o incidente ocorreu em 4 de maio e que um incidente de sequestro, estupro coletivo e assassinato foi registrado no distrito de Thoubal.
O ataque foi condenado por políticos de todo o espectro.
O ministro federal Smriti Irani chamou o ato de "totalmente desumano".
Vários líderes da oposição também criticaram o governo do Partido Bharatiya Janata por não fazer o suficiente para conter a violência no Estado.
A líder do partido do Congresso, Priyanka Gandhi Vadhra, disse que "as imagens de violência sexual contra mulheres de Manipur são de partir o coração".
O ministro-chefe de Délhi, Arvind Kejriwal, também falou. "Esse tipo de ato hediondo não pode ser tolerado na sociedade indiana", disse ele.
Análise: Os corpos das mulheres viraram um campo de batalha (por Geeta Pandey, da BBC News em Délhi)
É sabido que os corpos das mulheres muitas vezes se tornam um campo de batalha durante tumultos e conflitos. Estupro e agressão sexual são usados como instrumentos de violência.
A agressão sexual das mulheres Kuki em Manipur é o exemplo mais recente. O vídeo que mostra as mulheres chorando, estremecendo de dor e implorando a seus agressores que mostrem alguma misericórdia é perturbador.
O fato de a primeira prisão ter ocorrido apenas agora, mais de dois meses após a denúncia do ataque à polícia, não inspira confiança nas autoridades — ainda mais porque muitos dos homens são claramente identificáveis nas imagens.
Mas a indignação que se seguiu ao surgimento do vídeo na Índia colocou os holofotes no crime horrível. Também levantou questões sobre o fracasso do Estado em confortar os sobreviventes — e finalmente forçou Modi a fazer uma declaração sobre a violência étnica que está destruindo Manipur.
Para restaurar algum tipo de confiança em Manipur, especialmente entre a comunidade minoritária Kuki, as autoridades estão agora sob pressão para agir rapidamente contra os perpetradores e fazer justiça. As pessoas em todo o país acham que isso não deveria estar acontecendo na Índia moderna.