O mau momento de Diniz, de 49 anos, chega justamente às vésperas do jogo de ida das oitavas de final da Copa Libertadores, nesta terça-feira (1), em que o Tricolor carioca vai enfrentar o Argentinos Juniors em Buenos Aires, e a pouco mais de um mês do início das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026.
O sucesso do "dinizismo', como foi batizada sua filosofia, fez com que o treinador fosse nomeado pela CBF para comandar a Seleção no dia 5 de julho até o mesmo dia de 2024.
Após esse período, Carlo Ancelotti, que tem contrato com o Real Madrid até o ano que vem, será o primeiro estrangeiro a assumir o Brasil em quase seis décadas, garantiu o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, apesar de o italiano ainda não ter confirmado a informação.
"A escolha de Fernando Diniz é baseada numa carreira de um dos treinadores que mais admiro, pelo estilo de jogo", disse o dirigente na apresentação de Diniz.
- Estagnação táctica -
Diniz irá dividir as atenções entre Fluminense e Seleção, um fato incomum e que gerou críticas devido a possíveis conflitos de interesses na hora montar as listas de convocados.
Mas a questão ficou em segundo plano após os tropeços do time carioca nas últimas semanas e antes de o Brasil enfrentar Bolívia e Peru pelas Eliminatórias, em setembro.
Imprensa e personalidades do futebol brasileiro se perguntam se o mau momento irá afetar o desempenho na Seleção e se o "encanto" do "dinizismo" acabou.
"Já demonstrou em diversas situações (e em diferentes clubes) que não tem controle emocional. Ele não tem variações táticas. Com o tempo, o seu esquema tático fica manjado e acaba muitas vezes dominado pelos adversários", escreveu o ex-jogador e comentarista Walter Casagrande, em sua coluna no portal UOL.
Após conseguir sete vitórias consecutivas em abril, o desempenho do Fluminense despencou: venceu sete dos últimos 20 jogos (sete derrotas, seis empates) e o jogo sedutor - com traços do "futebol total" de Rinus Michels - foi esporádico.
O Tricolor foi eliminado nas oitavas de final da Copa do Brasil para o rival Flamengo e garantiu vaga no mata-mata da Copa Libertadores na última rodada da fase de grupos. No Brasileirão, o time ocupa a quinta posição, a 15 pontos do líder Botafogo.
Além disso, Diniz tem dificuldades para encontrar soluções quando os adversários se fecham em blocos baixos, contra-atacam e pressionam a saída de bola, base da elaboração de seu jogo.
"Esse questionamento aparece quando você perde, mas quando ganha passa batido", se defende o treinador, que desde abriu sofreu com ausências por lesão de jogadores importantes, como o meia Paulo Henrique Ganso, o volante Alexander, o lateral Marcelo e o atacante Keno.
- "Prazo de validade" -
Os jogadores defendem Diniz e consideram que a oscilação é normal.
"Não vejo um clube que pode jogar os 70 jogos na temporada bem", afirmou o experiente Felipe Melo.
A situação atual, no entanto, fez com que várias vozes evocassem um fantasma na carreira do treinador: suas equipes têm "prazo de validade".
E com o agravante de que a crise tricolor pode coincidir com sua estreia na Seleção, onde terá menos tempo para dar treinamentos.
"Ele começa muito bem e depois da metade do campeonato para o final o time dele dá uma caída e não consegue se levantar de novo", disse o ex-atacante Müller, campeão do mundo em 1994, no programa Gazeta Esportiva.
Líder durante boa parte do Brasileirão de 2020, o São Paulo comandado por Diniz entrou em crise e viu uma vantagem de sete pontos se dissolver.
O treinador foi demitido com o campeonato em andamento e o time paulista terminou na quarta posição, cinco pontos atrás do campeão, o Flamengo.
"Assumir a Seleção Brasileira certamente aumentará as cobranças em torno da recuperação do Fluminense", escreveu o comentarista Rodrigo Coutinho no portal ge. "Diniz saberá lidar com frentes diferentes e tão desafiadoras?".