Jornal Estado de Minas

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Clima de balada marca evento de influenciadores católicos

Entre selfies, coreografias e músicas exaltando o amor de Deus, milhares de jovens compareceram ao primeiro Festival de Influenciadores Católicos, realizado nesta sexta-feira (4) em Lisboa.

 

O encontro, que reuniu um time internacional de criadores de conteúdo cristão, fez parte da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), considerada o maior evento da Igreja Católica. Em clima de balada, jovens de todo o mundo se reuniram, depois das atividades principais do congresso, para aproveitar os shows.





 

De Jacareí, no interior de São Paulo, Murilo Mancília, 22, diz acompanhar com regularidade o trabalho de influenciadores católicos. "Eu sigo muitos no Instagram, de várias regiões do Brasil. Também acompanho muitos podcasts. Por sorte, tivemos agora a oportunidade de ver o pessoal do Brasil aqui", conta, em referência aos dois representantes brasileiros no line-up do festival, o grupo missionário Shalom e o músico e apresentador Pitter di Laura.

 

Antes do início dos shows, o ator Jonathan Roumie, que interpreta Jesus na série "The Chosen", apareceu de surpresa e animou a multidão, que o recebeu aos gritos de "Jesus, Jesus, Jesus".

 

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O americano disse que seu papel na produção o transformou. "Desenvolvi uma relação profunda com Jesus e isso me fez querer ser uma pessoa melhor", afirmou, arrancando gritos e aplausos da plateia.

 

Frequentes, as manifestações do público chegaram a dificultar a comunicação em alguns momentos do evento. No palco, um dos idealizadores do festival, o secretario do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Lucio Adrian Ruiz, precisou pedir silêncio diversas vezes para divulgar a mensagem do papa Francisco para o encontro.





Embora o pontífice apoie a evangelização digital, Francisco deixou críticas ao "vazio interior" das redes sociais em seu discurso no dia anterior.

 

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Em meio à festa e ao mar de bandeiras carregadas pelos peregrinos, um grupo de jovens espanhóis exibia o emblema do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQIA+.

"Achamos que no século 21 a Igreja tem espaço para todos, como disse o papa. Independentemente da orientação que tenha, se é homem ou mulher. A igreja também avança com a humanidade, temos de dar esses passos", diz a espanhola Angela Torres, 20.

 

Apesar de episódios recentes de hostilidade contra católicos homossexuais durante a JMJ, o grupo afirma que só recebeu dois comentários negativos até agora. "Pelo contrário, temos recebido muitos sorrisos quando mostramos a bandeira. Muita gente pede para tirar fotos", conta Pablo Clemente, 22.





 

Na quinta (3), fundamentalistas católicos invadiram uma missa organizada pelo Centro Arco-Íris, organização de defesa de direitos LGBTQIA+, e a polícia precisou intervir para garantir a continuidade do culto. A secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Isabel Almeida Rodrigues, divulgou nota em que "apela ao respeito pelos direitos humanos das pessoas LGBT+ e ao princípio da igualdade" como previsto na Constituição portuguesa.

 

Do outro lado da praça em que acontecia o festival católico, um grupo se reuniu para protestar, relembrando principalmente os casos de abuso sexual contra menores por membros do clero e os gastos de dinheiro público com o evento religioso.

 

Segurando um cartaz relembrando os mais de 4.800 casos de abusos contra crianças por membros da Igreja em Portugal -cifra revelada pelo relatório de uma comissão independente que investigou os casos--, a analista de dados Maria Santos questiona o investimento do governo com o evento.





 

"Eles têm dinheiro para isso, mas não para a saúde e a habitação", queixa-se. "Nós não somos contra a fé ou a religião de ninguém, mas questionamos essas prioridades."

 

Protagonista da Jornada Mundial da Juventude, o papa Francisco voltou a reunir uma multidão para vê-lo em Lisboa. Antes de arrastar 800 mil pessoas -segundos dados da Santa Sé- para o palco principal do encontro, o pontífice visitou o bairro da Serafina, um dos mais vulneráveis da capital portuguesa.

 

No local, o argentino criticou aqueles que têm aversão à pobreza. O pontífice instou os presentes a se questionarem sobre o tema: "Tenho nojo da pobreza, da pobreza dos outros?". Com dificuldades para ler as páginas com o discurso, o papa improvisou boa parte de sua fala.





 

Francisco insistiu com o pedido de autorreflexão aos presentes. "Quando dou a mão a uma pessoa necessitada ou a um doente, se tiro a mão para que não me contagiem, eu tenho horror à pobreza?".

 

No fim da tarde, Francisco voltou ao palco da JMJ para participar de uma via sacra, uma representação, dividida em 14 paradas, alusivas aos principais eventos das horas finais da vida de Jesus Cristo, da prisão ao sepultamento. Em cada uma das estações, foi apresentada a reflexão sobre a "angústia" da juventude, em uma lista que foi desde questões de saúde mental até intolerância e individualismo.

 

No sábado, o papa viaja até Fátima pela manhã, mas regressa a Lisboa para comandar o início da vigília, um dos pontos mais esperados do encontro. Francisco volta ao Vaticano no domingo, depois de celebrar uma missa e participar da cerimônia de encerramento, na qual será anunciada a próxima cidade a sediar a jornada da juventude.