Jornal Estado de Minas

NOVA DÉLHI

Razões da espiral de violência no estado indiano de Manipur

Ao menos 120 pessoas morreram desde maio em confrontos violentos no estado de Manipur, no nordeste da Índia, abalado pela rivalidade entre os meitei, uma comunidade de maioria hindu, e a minoria cristã kuki.



O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, enfrentou nesta semana um voto de desconfiança por sua gestão desta espiral violenta, contra a qual, segundo a oposição, o governo central não atua.

A AFP analisa as causas e consequências deste conflito.

- Quando começou a última onda de violência? -

As tensões são comuns entre os meitei, que vivem nos grandes centros urbanos, e os kuki, etnia que representa 16% da população do estado de Manipur. Seus membros residem nas áreas mais elevadas.

Os conflitos são geralmente motivados por tentativas de controle da terra e da nomeação para cargos públicos.

A rivalidade aumentou em maio, quando se discutiu o possível reconhecimento dos meitei como "tribo catalogada", status que os kuki já têm e que os beneficia em políticas de ação afirmativa.



Membros da minoria cristã organizaram manifestações contra a decisão, que rapidamente provocaram distúrbios.

- O que aconteceu desde então? -

No início dos confrontos, a multidão saqueou delegacias - quase 3.000 armas e 600.000 munições desapareceram -, segundo a agência Press of India.

Desde então, milícias rivais dos meitei e kuki organizaram pontos de controle e impedem as passagens dos integrantes das etnias rivais.

Os confrontos deixaram pelo menos 120 mortos, um número que pode ser muito maior, segundo os moradores da região.

Mais de 220 igrejas e 17 templos hindus foram incendiados, e quase 50.000 pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas, procurando refúgio em outros estados indianos.

- A tensão é frequente em Manipur? -

Esta região, próxima da fronteira com Bangladesh, China e Mianmar, caracteriza-se pela presença de grupos separatistas e pelos confrontos recorrentes entre várias etnias.



O final da década de 1970 marcou o início de uma revolta armada em Manipur contra o governo central de Nova Délhi.

Vinte grupos armados atuavam na região no momento de maior tensão. Quase 10.000 pessoas morreram entre 1990 e 2010 nos confrontos.

Desde o último ataque relevante em 2015, porém, quando 20 soldados morreram em uma emboscada, a situação era relativamente tranquila na região.

- Qual a resposta do governo? -

O Executivo mobilizou soldados desde o início da atual espiral de violência, além de impor um toque de recolher noturno e de cortar o acesso à Internet.

O ministro indiano do Interior, Amit Shah, visitou a capital da região em junho e pediu aos moradores que entregassem todas as armas roubadas das delegacias.

A ONG Human Rights Watch acusou o partido de Modi, que também lidera o governo regional de Manipur, de favorecer as rivalidades com "suas políticas de divisão que promovem a maioria hindu".

Criticado por seu nacionalismo hindu, o primeiro-ministro também foi acusado de inação.

Após dois meses de silêncio sobre o que acontecia no nordeste do país, Modi criticou em julho a repressão sofrida por duas mulheres da etnia Kuki, obrigadas a desfilar nuas por uma multidão de hindus.