O assassinato a tiros do candidato presidencial de centro Fernando Villavicencio, segundo nas intenções de voto, chocou o país na quarta-feira. Seis colombianos foram presos pelo crime, e um sétimo morreu em um confronto com a polícia.
O magnicídio aconteceu às vésperas das eleições gerais antecipadas de 20 de agosto no Equador, onde a violência relacionada ao tráfico de drogas levou disparou a taxa de homicídios a um recorde de 26 por 100.000 habitantes em 2022, quase o dobro do ano anterior.
Em guerra contra o narcotráfico e sem conseguir conter a violência, o presidente Guillermo Lasso, o presidente Guillermo Lasso acusou o "crime organizado" pelo assassinato do ex-jornalista que denunciou milionários casos de corrupção e que havia recebido ameaças de morte do grupo Los Choneros.
O ministro do Interior, Juan Zapata, destacou que mais de 13 organizações criminosas operam no Equador, incluindo Los Choneros, o mais antigo e poderoso, agora aliado do cartel mexicano de Sinaloa. A Inteligência militar contabiliza até 26 quadrilhas ligadas ao narcotráfico. O rival mais importante de Los Choneros, Los Lobos, está associado ao cartel mexicano Jalisco Nueva Generación.
Especialistas ouvidos pela AFP explicam que a guerra contra as drogas no México e na Colômbia levou cartéis desses dois países e máfias albanesas a se instalarem no Equador.
Para o tráfico de drogas, são fundamentais os portos estratégicos do Pacífico, ponto de partida da cocaína para a Europa e para os Estados Unidos.
Também foram atraídos pelas fronteiras porosas do país, pela economia dolarizada, pela corrupção do Estado e pela falta de controle sobre a lavagem de dinheiro, dizem os especialistas.
- Golpe por golpe -
Para o diretor do centro de estudos colombiano Cerac, Jorge Restrepo, os cartéis operam no Equador "com menor custo de produção", porque estão infiltrados em órgãos estatais.
"Há um problema no Equador que a Colômbia não tem hoje em dia e é que o Equador tem uma política de combate ao crime organizado que não impediu que a força pública e as organizações judiciais fossem infiltradas pelo crime organizado relacionado ao narcotráfico", disse à AFP.
O diretor do programa de pesquisa sobre Ordem, Conflito e Violência da Universidade Central do Equador, Luis Córdova Alarcón, acredita que o início da "violência criminosa extrema" remonta à explosão de um carro-bomba em janeiro de 2018. O inusitado atentado deixou um quartel policial semidestruído, e 23 feridos leves, em uma localidade na fronteira com a Colômbia.
O autor do crime foi um dissidente da guerrilha colombiana FARC, que assassinou três integrantes de uma equipe do jornal El Comercio, de Quito, e morreu nas mãos das forças de segurança colombianas nesse ano. Entre as vítimas da violência no Equador também estão prefeitos, juízes, promotores e dezenas de civis sem antecedentes criminais.
As apreensões de cocaína estão em alta e, nos últimos três anos, passaram de 530 toneladas. Especialistas acreditam que o aumento das apreensões e da ação do Estado nas prisões de onde operam muitos chefões do crime organizado apenas agravou o problema.
"O Equador se torna cada vez mais violento pela forma como o Estado intervém, por meio de suas forças de segurança, no mercado de cocaína, ao 'decapitar' (capturar) chefões e aumentar as apreensões de cocaína", disse Córdova Alarcón.
Os criminosos tentam defender o negócio das drogas e outros ,como a extração ilegal de ouro e o tráfico de armas, disse o especialista.
O crime organizado "já está tomando conta do Estado", afirmou.
- 'Estado emboscado' -
Ao atentado com carro-bomba, seguiram-se sangrentos massacres prisionais, devido às disputas entre traficantes que deixaram mais de 430 presos mortos em quase três anos.
Ao estilo do "narco" mexicano, começaram a aparecer nas ruas do país cadáveres desmembrados, corpos pendurados em pontes, além de sequestros para extorsão em que os captores cortaram os dedos e as orelhas de suas vítimas.
"Temos um Estado emboscado pelo crime organizado, e uma economia e uma sociedade sitiadas pelo mesmo crime organizado", disse outro especialista em segurança à AFP, pedindo para não ser identificado por medo de represálias.
As organizações criminosas têm o poder de desafiar o Estado.
"Têm Inteligência, muitos recursos, alta tecnologia, uma grande capacidade de infiltração", afirmou.
As gangues têm dezenas de milhares de integrantes - tantos quanto a polícia, que conta com cerca de 60 mil agentes - e armas ainda mais sofisticadas.