Preso desde 2008 por narcotráfico, Mancuso foi designado gestor de paz pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, no fim de julho. Sua nomeação foi ratificada ontem, em uma resolução oficial.
O antigo comandante das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), no entanto, ainda tem contas a acertar com a Justiça do país e estava em dúvida se poderia realizar tal tarefa em liberdade ou da cadeia.
"A designação como gestor de paz coloca a pessoa em liberdade, mas não a libera dos compromissos judiciais. Ele tem muitos processos em curso na Colômbia, que seguem seus trâmites", explicou hoje à W Radio o ministro colombiano da Justiça, Néstor Osuna.
Um tribunal da Colômbia condenou Mancuso a oito anos de prisão por centenas de deslocamentos, desaparecimentos e homicídios. A pena - que ele não cumpriu - foi a máxima estabelecida como parte de um acordo que pôs fim, em 2006, às AUC, associação de esquadrões que enfrentaram as guerrilhas de esquerda.
O ex-comandante, 58 anos, foi extraditado inesperadamente em 2008, por decisão do então presidente colombiano, o direitista Álvaro Uribe (2002-2010), sem dar a sua versão sobre os pormenores da guerra, nem fazer reparações às vítimas, como previa o acordo. Da prisão, ele ameaçou expor as relações sensíveis dos paramilitares com políticos e empresários.
As vítimas de Mancuso e o governo de esquerda esperam que, com seu retorno, sejam revelados o paradeiro de centenas de cadáveres e a verdade sobre quem patrocinou os paramilitares.
Em maio, Mancuso ofereceu ajuda nas buscas a cerca de 200 corpos de agricultores assassinados pelas AUC perto da Venezuela e sepultados do outro lado da fronteira.
Os Estados Unidos ainda não responderam ao pedido de extradição feito no mês passado pelo governo colombiano. O ex-paramilitar está tomando providências para ser enviado à Itália assim que for solto.
Na luta contra a insurgência, os paramilitares semearam o terror com massacres e perseguiram aqueles que, segundo eles, tinham ligação com organizações de esquerda.