1) O que aconteceu?
Os incidentes ocorreram entre a última sexta-feira e esta quarta-feira (23).
Grupos supostamente auto-convocados pelas redes sociais forçaram a entrada em supermercados e outros estabelecimentos. Roubaram e causaram destruição nas províncias de Buenos Aires (a mais populosa, quase 40% do total do país), Mendoza (oeste), Córdoba (centro), Neuquén (sudoeste) e Río Negro (sul).
Uma loja na capital também foi alvo de um ataque, que conseguiu ser repelido por vizinhos.
De acordo com relatórios oficiais divulgados em coletivas de imprensa, foram 150 tentativas de saques e 94 pessoas detidas em bairros da periferia da capital.
Em Mendoza, foram 66 presos. "São criminosos que agem de forma organizada, com a participação de menores de idade", segundo o comunicado do governo.
O promotor de Córdoba, Ernesto de Aragón, informou que "foram presas 23 pessoas por diversos ataques a comércios".
Também foram registradas mais de uma dezena de detenções em Neuquén e Río Negro.
2) A quem se atribuem os ataques?
Raúl Castells, antigo dirigente de movimentos sociais grevistas e pré-candidato presidencial, disse ao canal TV Crónica: "Eles estão saindo em busca de comida e se não encontrarem comida, nós, que somos os que estamos convocando isso (saques), estamos dizendo a eles que, sem roubar dinheiro ou quebrar nada, levem o que puderem para trocar por comida".
A equipe de checagem da AFP identificou a circulação de vídeos, nas redes sociais, de saques que não correspondem ao momento atual.
Embora isolados, os acontecimentos remetem aos saques violentos registrados durante os governos dos sociais-democratas Raúl Alfonsín, em 1989, e Fernando de la Rúa, em 2001. No entanto, as tentativas reais de saques e roubos foram confirmadas pela polícia e pela imprensa.
Segundo o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, "moradores e moradoras não participaram em massa nisso", destacando que "muitos moradores tentaram impedir que os violentos realizassem essas ações".
3) Qual foi a reação do governo e da oposição?
O presidente peronista Alberto Fernández, que não concorre à reeleição, considerou os saques "fatos organizados", pediu para "cuidar da convivência democrática" e prometeu cuidar "dos problemas dos argentinos e suas rendas", mas lhes pediu "que preservem a paz social, por favor".
Sua porta-voz, Gabriela Cerruti, disse à imprensa que os candidatos opositores Javier Milei (extrema direita) e Patricia Bullrich (direita) "constroem seu discurso público com base no desejo que têm de que a democracia se desestabilize".
Já para Milei, o candidato mais votado nas primárias de 13 de agosto (30% dos votos), "é trágico ver novamente depois de 20 anos as mesmas imagens de saques que vimos em 2001. Pobreza e saques são duas faces da mesma moeda", compartilhou nas redes sociais.
Bullrich, que ficou em segundo lugar (27%), disse à rádio Rivadavia: "Precisamos de ordem e restaurar a autoridade".
Mas o ministro da Segurança, Aníbal Fernández, afirmou que "o que aconteceu não pode ser atribuído a fulano ou sicrano".
4) Em que contexto ocorrem os ataques?
Com uma das inflações mais altas do mundo - mais de 100% em comparação ao mesmo período no ano anterior -, a Argentina vê o índice de pobreza chegar a 40%.
Uma desvalorização de 21% foi acordada há 10 dias com o Fundo Monetário Internacional para desbloquear os desembolsos de um programa de crédito de US$ 44 bilhões (R$ 217 bilhões na cotação atual), disse o ministro da Economia e candidato presidencial pró-governo, Sergio Massa.
Seguiu-se uma enxurrada de reclamações da população após a revisão dos preços em 30%.
Segundo consultores, o custo de vida deve chegar aos dois dígitos em agosto e setembro.
BUENOS AIRES