Após a suspensão do acordo que permitia a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro, Moscou intensificou os ataques nesta região, que tem portos e outras infraestruturas necessárias para o comércio.
"O inimigo atacou as infraestruturas industriais civis da região do Danúbio", afirmou o gabinete do procurador-geral da Ucrânia no Telegram. "O ataque deixou dois feridos, que foram hospitalizados", acrescenta a nota.
Segundo a mesma fonte, as tropas ucranianas derrubaram 22 dos 25 drones utilizados no ataque.
O exército da Rússia anunciou que utilizou drones em um ataque contra o porto de Reni, na fronteira com a Romênia, país membro da Otan.
"Esta noite, o exército russo executou um ataque com drones em grupo contra instalações de armazenamento de combustível utilizado para abastecer equipamentos militares do exército ucraniano no porto de Reni", afirmou o exército. Todos os alvos "foram atingidos", acrescenta uma nota oficial.
- Romênia e Moldávia condenam -
Romênia e Moldávia condenaram o ataque.
O ministério romeno da Defesa "reitera, nos termos mais fortes, que os ataques contra alvos civis e infraestruturas na Ucrânia são injustificáveis e contradizem profundamente as regras do direito humanitário internacional", afirma um comunicado.
"Em nenhum momento os ataques russos geraram qualquer ameaça militar direta para o território nacional ou as águas territoriais da Romênia", acrescenta a nota.
Um ataque direto contra um país membro da Otan poderia provocar um agravamento do conflito, no momento em que Kiev insiste que sua contraofensiva, iniciada em junho e criticada por alguns aliados por sua suposta lentidão, pode apresentar resultados.
A Moldávia, que não pertence à Aliança Atlântica, denunciou uma operação russa "brutal".
"A Rússia deve ser considerada responsável por cada elemento de infraestrutura destruído", afirmou a presidente moldávia Maya Sandu, uma grande defensora da entrada de seu país na União Europeia (UE).
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou neste domingo que conversou com o homólogo francês, Emmanuel Macron, sobre como "reforçar a segurança na região de Odessa" e sobre os "meios para garantir o funcionamento" de um corredor estabelecido por Kiev no Mar Negro para permitir a navegação segura, depois que a Rússia abandonou o acordo sobre a exportação de grãos.
A conversa telefônica aconteceu um dia antes da reunião entre o presidente russo, Vladimir Putin, e seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, em Sochi, onde devem abordar uma eventual retomada do pacto de cereais, que teve a mediação da ONU e de Ancara.
Durante a semana, a Ucrânia anunciou que o corredor marítimo estabelecido provisoriamente no mês passado foi utilizado por mais quatro cargueiros.
- Avanços ucranianos -
O general Oleksander Tarnavskiy, que comanda a contraofensiva da Ucrânia no sul do país, assegurou que o exército de Kiev registrou avanços importantes nas linhas de defesa russa na região.
"Agora estamos entre a primeira e a segunda linha de defesa da Rússia", afirmou Tarnavskiy em uma entrevista publicada pelo jornal britânico The Guardian.
Durante a semana passada, a Ucrânia anunciou a tomada da localidade de Robotyne, no sul do país, no âmbito da contraofensiva que pretende retomar da Rússia os territórios que as tropas do Kremlin ocupam desde o início da invasão, em fevereiro de 2022.
"Estamos acabando de destruir as unidades inimigas responsáveis por proteger as tropas russas quando recuam para atrás da sua segunda linha de defesa", explicou o general, cujas tropas libertaram a cidade de Kherson (sul) no ano passado.
Ao comentar o ceticismo que a contraofensiva de Kiev despertou em alguns setores, o general Tarnavskiy alegou que o exército ucraniano enfrentou atrasos porque precisou de "mais tempo que o previsto para remover as minas dos territórios" ocupados pelos russos.
Apesar das dificuldades, ele expressou otimismo.
"O inimigo recorre a suas reservas, não apenas na Ucrânia, mas também na Rússia. Mais cedo ou mais tarde, aos russos restarão poucos bons soldados. Isto nos dará a oportunidade de atacá-los cada vez mais rápido", declarou o general. "Tudo está à nossa frente", completou.
O ex-presidente russo Dmitri Medvedev, que atualmente é vice-secretário do Conselho de Segurança do país, afirmou que Moscou recrutou 280.000 militares desde o início do ano, o que elevou o contingente em 50.000 soldados desde o começo de agosto.
"De acordo com dados do ministério da Defesa russo, quase 280.000 pessoas foram aceitas sob contrato nas Forças Armadas desde 1º de janeiro", afirmou Medvedev, citado pela agência oficial TASS.
O governo russo organiza uma grande campanha de recrutamento voluntário, estimulada por publicidade nas ruas e na internet, com a promessa de grandes salários e benefícios sociais para os futuros soldados.
Em setembro de 2022, diante das baixas registradas na frente de batalha, as autoridades russas recorreram a uma mobilização parcial que permitiu o recrutamento de pelo menos 300.000 soldados, mas que também provocou a fuga de centenas de milhares de russos para o exterior.