No domingo (10), organizações civis e familiares de vítimas da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) realizaram uma manifestação pacífica que foi marcada por um grupo de homens encapuzados que vandalizaram o exterior do palácio presidencial de La Moneda e os mausoléus do cemitério principal de Santiago.
"Infelizmente, os eventos do 11 de Setembro há muito tempo têm aspectos de violência nas ruas", lamentou o presidente Gabriel Boric, que condenou a violência e reconheceu um clima de retrocesso entre o ressurgimento daqueles que defendem Pinochet.
À noite, cerca de seis mil mulheres vestidas de preto protagonizaram o ato mais contundente nestes dias de divisões marcadas, principalmente, por líderes políticos que reivindicam o golpe de Estado de meio século atrás.
Ao ritmo de tambores, elas carregavam uma vela e cercaram o palácio presidencial sob o lema "Democracia bombardeada nunca mais", em referência ao ataque aéreo lançado contra o La Moneda em 11 de setembro de 1973.
Esta data, de grande repercussão internacional, não desperta grande interesse em uma sociedade preocupada, sobretudo, com a economia e com a falta de segurança. Meio século depois do golpe militar, o Chile ainda está dividido entre os que defendem e os que repudiam a ditadura.
Hoje, governam os herdeiros políticos de Allende, mas o Partido Republicano, que reivindica o legado de Pinochet, venceu as recentes eleições da Constituintes que elaboram um projeto de Carta Fundamental para substituir a da ditadura.
Segundo a pesquisa Criteria, 49% consideram que "relembrar o golpe é irrelevante para pessoas como eles", enquanto 48% dizem que "nos deixa presos ao passado e afeta a convivência futura". No entanto, 41% acreditam que "é preciso fechar as feridas".
A empresa Pulso Ciudadano afirmou que 56,5% da população "não tem nenhum, ou pouco, interesse pelo evento", e 25,8% se consideram "muito interessados, ou interessados".
- Recordação amarga -
A ex-presidente Michelle Bachelet (2006-2010 e 2014-2018) pediu à oposição de direita uma visão mais ampla, em meio à tensão que caracterizou o 50º aniversário do golpe de Estado no Chile.
"Como país, precisamos continuar refletindo e aprendendo com as lições do passado, porque teme-se que, quando há um grau significativo de polarização - como já disse, a política está um pouco tóxica -, o risco de um olhar breve e mesquinho não nos faz bem", disse Bachelet, que foi torturada durante a ditadura e é filha de um general da Força Aérea que morreu depois de também ter sido torturado.
Os eventos desta segunda-feira contam com a presença dos presidentes do México, Andrés López Obrador; da Colômbia, Gustavo Petro; da Bolívia, Luis Arce, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou. Também comparecem ex-presidentes, como o uruguaio José "Pepe" Mujica, o colombiano Juan Manuel Santos, além do ex-chefe do governo espanhol Felipe González e da presidente da associação Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto.
A oposição de direita se absteve de aderir ao compromisso de "defender a democracia das ameaças autoritárias" promovido pelo presidente, que foi assinado pelos quatro ex-presidentes do período democrático vivos. Essa declaração estará disponível para todos os convidados assinarem.