As equipes de resgate no Marrocos têm escavado até com as próprias mãos enquanto continuam os esforços desesperados na busca por sobreviventes do forte terremoto que atingiu o país na sexta-feira (08/09).
Pelo menos 2.681 pessoas morreram no tremor – o mais mortal no país em 60 anos.
Por outro lado, o governo de Marrocos está sob pressão para aceitar mais ajuda internacional, enquanto as equipes de resgate lutam contra a exaustão.
Até agora, o Marrocos aceitou ajuda de apenas quatro países: Espanha, Reino Unido, Catar e Emirados Árabes Unidos.
As autoridades defenderam a negativa, alegando que seria caótico se equipes de todo o mundo chegassem subitamente ao país.
O tremor de magnitude 6,8 atingiu as montanhas do Alto Atlas, ao sul de Marrakech, e destruiu muitas aldeias rurais e remotas.
Uma delas – Tafeghaghte – teve a sua população de 200 pessoas reduzida quase pela metade, e muitos ainda estão desaparecidos.
Equipamentos pesados de escavação ainda estão presos em estradas bloqueadas por pedras e outros detritos.
Helicópteros são usados para entregar ajuda nas regiões montanhosas.
Albert Vasquez, oficial de comunicações de uma equipe de 30 bombeiros espanhóis, disse à agência de notícias AFP que "é muito difícil encontrar pessoas vivas depois de três dias, mas ainda há esperança".
Na aldeia de Moulay Brahim, Said, de 26 anos, disse à BBC que viu a casa do seu vizinho desabar.
"Lá morava uma família de seis pessoas. O pai estava fora e sobreviveu, mas sua esposa e quatro filhos morreram", disse ele, em choque.
“As filhas tinham 15, oito e cinco anos. O mais novo era um menino que estava prestes a completar três anos”, explicou.
Said não consegue dormir nem comer desde sexta-feira à noite.
"A situação é catastrófica. Não sei como vou me recuperar disso", disse ele.
Tom Godfrey, líder da equipe da instituição de caridade e resgate EMT, do Reino Unido, disse que o pior cenário está no sudoeste, onde a ajuda humanitária é ainda mais necessária.
Em entrevista à BBC a caminho da aldeia de Amizmiz, ele disse que sua equipe espera tratar inicialmente lesões, com o risco de doenças aumentando se a ajuda for adiada ainda mais.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que mais de 300 mil pessoas foram afetadas pelo terremoto, o mais mortal no Marrocos desde desde 1960, quando um tremor destruiu Agadir, matando entre 12 mil e 15 mil pessoas.
A Mesquita Tinmel, um local histórico nas montanhas, foi severamente danificada dessa vez, e a cidade velha de Marrakech, considerada um patrimônio da humanidade, sofreu com o colapso de edifícios.
Pressão por mais ajuda
Os pedidos por mais ajuda internacional estão pressionando cada vez mais o governo do Marrocos.
Estados Unidos, Tunísia, Turquia, Taiwan e França – a antiga colonizadora do Marrocos – são alguns dos países que ofereceram apoio.
A vizinha Argélia, que tem uma longa história de relações tensas com Marrocos, ofereceu equipes de resgate especializado, pessoal médico e cães farejadores, bem como camas, tendas e cobertores.
Mas o governo marroquino disse que não quer arriscar uma situação caótica com dezenas de países e organizações humanitárias chegando para ajudar.
"A falta de coordenação em tais casos seria contraproducente", disseram as autoridades.
A médica Clare McCaughey, de uma clínica em Marrakech, disse à BBC que instituições privadas como a dela não vão hesitar em "fornecer atendimento gratuito a qualquer vítima do terremoto".
"Os marroquinos estão fazendo o melhor que podem", disse ela, acrescentando que tem sido "incrível" ver a solidariedade da comunidade.
"Há caminhões enormes subindo as montanhas, mas também há moradores indo aos mercados e levando mantimentos morro acima até às pessoas."