A menos de 150 quilômetros da costa da Tunísia, a ilha é um dos pontos de trânsito de migrantes que atravessam o Mar Mediterrâneo para chegar à Europa, um perigoso trajeto, no qual mais de 2 mil pessoas morreram desde janeiro.
Entre segunda e quarta-feira, 10 mil migrantes chegaram a Lampedusa, de acordo com o Ministério do Interior italiano, mais do que toda a população da ilha.
Com capacidade para apenas 400 pessoas, o abrigo central da região, administrado pela Cruz Vermelha Italiana (CVI), ficou superlotado, o que levou as autoridades a transferirem estes migrantes para a Sicília e para outros portos ao longo da costa do país.
Nesta sexta-feira, longas filas se formaram para ônibus e caminhões que seguiriam até o porto de Lampedusa, onde acontece o embarque.
- 'Comer é um problema' -
A Cruz Vermelha Italiana afirmou que, até a manhã desta sexta-feira, 700 pessoas já haviam sido transferidas. Outras 2.500 devem deixar a ilha ao longo do dia.
Simultaneamente, mais migrantes foram chegando ao local, tanto por conta própria, quanto após serem resgatados pela Guarda Costeira, de acordo com um fotógrafo da AFP.
"Os migrantes continuam chegando, mas estamos orientando", garantiu Francesca Basile, responsável pela migração da CVI.
Centenas de pessoas foram obrigadas a dormir do lado de fora do abrigo em camas de plástico improvisadas, muitas envolvidas em mantas térmicas, e contando com a generosidade dos moradores da ilha que levavam água e alimentos.
"Não é fácil estar aqui. Somos tantos (...) até comer é um problema", desabafou o jovem gambiano Omar, que espera encontrar com seu irmão na Holanda, após seis meses da perigosa viagem.
O governo italiano indicou que pelo menos 126 mil pessoas chegaram por essa rota desde o início do ano, contra 65 mil no mesmo período do ano passado. Os números ainda não superam, contudo, os de 2016, quando mais de 181 mil migrantes, muitos deles sírios em fuga da guerra, desembarcaram ilegalmente na Europa.
- 'Ato de guerra' -
A situação provocou uma série de reações políticas, tanto na Itália como nos países vizinhos, os quais Roma acusa de abandoná-la à sua própria sorte.
O vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, líder da Liga (anti-imigração), disse ver as chegadas em massa como "um ato de guerra" contra a Itália. Acusou a Tunísia, implicitamente, de onde procede a maioria dos migrantes que chegaram a Lampedusa.
O governo de extrema direita de Giorgia Meloni atribuiu recentemente um montante de 45 milhões de euros (em torno de US$ 48 milhões, ou cerca de R$ 239 milhões, na cotação atual) para ajudar a ilha a administrar melhor a questão migratória.
A situação também fez Meloni, eleita há um ano após prometer acabar com a migração em massa, pedir ajuda à União Europeia.
Na quarta-feira, a Alemanha decidiu suspender o acolhimento voluntário de solicitantes de asilo provenientes da Itália, como era previsto nos acordos europeus, devido à "forte pressão migratória" e à recusa de Roma em aplicar estes tratados.
Dois dias depois, o Alto Comissariado da ONU pra os Refugiados (Acnur) pediu aos países da UE que demonstrem "um espírito de responsabilidade compartilhada e de solidariedade" para com estas pessoas.