A menos de 150 quilômetros da costa da Tunísia, a ilha é um dos pontos de trânsito de migrantes que atravessam o Mar Mediterrâneo para chegar à Europa, um perigoso trajeto, no qual mais de 2 mil pessoas morreram desde janeiro.
No entanto, a situação nunca foi tão dramática em Lampedusa, onde desembarcou a maioria dos 11 mil migrantes que chegaram à Itália entre segunda e quarta-feira, de acordo com o Ministério do Interior italiano.
Um porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) informou que desembarcaram na ilha 8.512 migrantes entre 11 e 13 de setembro, um número superior à população da ilha.
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, afirmou na noite desta sexta que a pressão migratória sofrida pelo país é "insustentável", devido a uma "conjuntura internacional difícil", principalmente na África.
A representante da extrema direita indicou que "dezenas de milhões de pessoas" da África podem querer deixar seus países devido aos golpes de Estado ou a fome, considerando que "nem a Itália, nem a Europa podem acolher esta massa" de migrantes.
O centro de acolhida da ilha, gerenciado pela Cruz Vermelha, com capacidade para 400 pessoas, ficou superlotado, o que levou as autoridades a transferirem estes migrantes para a Sicília e para outros portos na península.
Nesta sexta-feira, longas filas se formaram para pegar os ônibus e caminhões que seguiriam até o porto de Lampedusa, onde acontece o embarque.
- 'Comer é um problema' -
Centenas de pessoas foram obrigadas a dormir ao relento em camas de plástico improvisadas, muitas envoltas em mantas térmicas, e contando com a generosidade dos moradores da ilha que levavam água e alimentos.
"Não é fácil estar aqui. Somos tantos (...) Até comer é um problema", desabafou o jovem gambiano Omar, que espera encontrar com o irmão na Holanda, seis meses depois da viagem perigosa.
Ao todo, mais de 127 mil pessoas chegaram por essa rota desde o início do ano, de acordo com Roma, quase o dobro em comparação ao mesmo período de 2022.
Os números ainda não superam, contudo, os de 2016, quando mais de 181 mil migrantes, muitos deles sírios fugindo da guerra, desembarcaram ilegalmente na Europa.
- 'Ato de guerra' -
As chegadas de migrantes provocaram uma série de reações políticas, tanto na Itália como nos países vizinhos, os quais Roma acusa de abandoná-la à sua própria sorte.
O vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, líder da Liga (anti-imigração), disse ver as chegadas em massa como "um ato de guerra" contra a Itália. Ele acusou a Tunísia, implicitamente, de onde procede a maioria dos migrantes que chegaram a Lampedusa.
O governo de extrema direita italiano atribuiu recentemente um montante de 45 milhões de euros (em torno de R$ 239 milhões, na cotação atual) para ajudar a ilha a administrar melhor a questão migratória.
Meloni, eleita há um ano após prometer acabar com a migração em massa, pediu ajuda à União Europeia e quer abordar a questão em uma cúpula do bloco em outubro.
A situação em Lampedusa mostra que "as soluções exclusivamente nacionalistas têm seus limites", disse o presidente francês, Emmanuel Macron, que defendeu que "não se deve deixar a Itália sozinha".
Na quarta-feira, a Alemanha decidiu suspender o acolhimento voluntário de solicitantes de asilo provenientes da Itália, como era previsto nos acordos europeus, devido à "forte pressão migratória" e à recusa de Roma em aplicar estes acordos.
Dois dias depois, o Acnur pediu aos países da UE que demonstrem "um espírito de responsabilidade compartilhada e de solidariedade" para com estas pessoas.
LAMPEDUSA