Primeiro, um chanceler afastado. Depois, um ministro da Defesa que sumiu dos eventos públicos. A China acumula casos intrigantes que envolvem a cúpula de poder, cada vez mais opaca sob a presidência de Xi Jinping.
O ministro da Defesa, Li Shangfu, nomeado para o cargo há apenas seis meses, não aparece em público há várias semanas. O jornal Financial Times informou que autoridades americanas acreditam que ele está investigado e foi afastado do cargo.
Algo parecido aconteceu em junho com Qin Gang, que era ministro das Relações Exteriores. Designado em março para a função e considerado um aliado de Xi, no fim de julho ele foi demitido sem explicação oficial, após semanas de ausência dos atos oficiais.
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Putin visitará a China em outubro a convite do presidente XiBiden: EUA não quer que relação com China 'degenere em conflito'China reduz taxa de juros de referência para apoiar a economiaSeu antecessor, Li Yuchao, também desapareceu algumas semanas antes, sem uma explicação oficial por parte da imprensa estatal.
"A formação do gabinete do presidente Xi parece agora o romance de Agatha Christie 'E Não Sobrou Nenhum'", afirmou em setembro o embaixador americano no Japão, Rahm Emanuel, na rede social X (antes Twitter).
"Não vimos ou ouvimos falar de Li Shangfu há várias semanas", disse o diplomata em 8 de setembro.
Para o analista Sun Yun, diretor do Programa sobre China no Centro Stimson em Washington, a situação "diz muito sobre a imprevisibilidade das decisões pessoais e da política interna da China hoje".
- Aliados -
Desde sua ascensão à liderança do Partido Comunista em 2012, Xi Jinping reforçou o controle sobre o governo, com aliados políticos leais nos cargos de maior responsabilidade.
"Caso Li também tenha sido destituído, isto não seria uma imagem positiva para Xi", disse Sun. "Qin e Li foram selecionados por ele", acrescenta.
O combate à corrupção é um tema central para o presidente chinês, que logo que assumiu o poder iniciou uma ampla campanha para abordar o problema.
Apesar de alguns elogios às medidas, os críticos também apontam a campanha como um meio eficaz de afastar os rivais.
"Xi Jinping começou rapidamente um expurgo nos altos escalões das forças militares e de segurança. E este continua atualmente", explica Sheena Chestnut Greitens, especialista em políticas autoritárias no Leste da Ásia e professora da Universidade do Texas.
Para o presidente chinês, a corrupção representa uma "ameaça fundamental porque torna as pessoas leais aos lucros pessoais, e não ao Partido", acrescenta a professora.
Se as primeiras etapas da campanha pareciam direcionadas contra possíveis rivais, as investigações mais recentes também afetaram aliados de Xi.
"A destituição tão rápida (após a nomeação) gera perguntas sobre quais informações Xi recebe ou não quando seleciona as pessoas para os ministérios e sobre o que está acontecendo para serem demitidos tão rapidamente", disse Chestnut Greitens.
Os interlocutores da China "precisam se perguntar se a pessoa com quem estão lidando tem realmente algum poder e influência em Pequim ou se vai desaparecer amanhã e ficará incomunicável por meses", acrescenta.
- Especulações -
A possível demissão de Li Shangfu e a saída sem explicações do ex-diretor da unidade que administra os mísseis, Li Yuchao, indicam que a campanha anticorrupção de Xi afeta os níveis mais elevados do exército chinês.
Lyle Morris, pesquisador de política externa e de segurança nacional no 'Asia Society Policy Institute', escreveu que o desaparecimento de Li Shangfu sugere que expurgo nas Forças Armadas "está longe de terminar".
"Ele não é um funcionário obscuro que pode ser varrido para debaixo do tapete", escreveu Morris na rede X.
A China não confirmou se algum dos três altos funcionários está sendo investigado e se nega a responder qualquer pergunta sobre o tema.
"Não estou a par da situação mencionada", afirmou a porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, ao ser questionada na terça-feira sobre um artigo do Wall Street Journal que atribuía o afastamento de Qin Gang a um caso extraconjugal.
A ausência de explicações oficiais permite todo tipo de especulações sobre a administração chinesa.
"Isto reforça a sensação de imprevisibilidade a respeito da política externa chinesa, no momento em que o sistema político da China já é menos transparente e mais difícil de ser compreendido pelos estrangeiros", destaca Chestnut Greitens.
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