A situação dos habitantes do enclave esteve presente nos debates deste sábado em Nova York, na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde a Armênia pediu o envio "imediato" de uma "missão" da ONU a Nagorno-Karabakh.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha [CICV] "passou pelo corredor [humanitário] de Lachin para fornecer 70 toneladas de ajuda humanitária à população", disse à AFP um funcionário da Cruz Vermelha presente no posto de controle armênio de Kornidzor.
Desde o final de 2022, Erevan acusa Baku de bloquear esta rodovia, a única que liga Nagorno-Karabakh à Armênia, e de agravar a situação dos moradores deste enclave montanhoso, majoritariamente habitado por armênios.
Na terça-feira (19), o Exército azeri anunciou uma ofensiva "antiterrorista" de um dia contra as tropas separatistas armênias. Neste sábado, informou que o lado derrotado entregou suas armas.
Durante uma viagem com a imprensa, da qual a AFP pôde participar, soldados azeris mostraram centenas de armas leves e blindados marcados com uma cruz branca, que foram entregues pelos separatistas.
- Retirada das tropas -
Além da entrega de armas, os separatistas também negociam com Baku a retirada de suas tropas.
As negociações, que começaram na quinta-feira "sob os auspícios das forças de manutenção da paz russas", permitirão "organizar o processo de retirada das tropas e garantir o retorno dos cidadãos deslocados pela agressão militar", segundo as autoridades do enclave.
Além disso, também está sendo discutido "o procedimento de entrada e saída dos cidadãos do enclave.
O ministro das Relações Exteriores do Azerbaijão, Jeyhun Bayramov, prometeu, na Assembleia Geral da ONU, que seu país tratará "os residentes de etnia armênia da região de Karabakh, no Azerbaijão, como cidadãos iguais".
Apesar dessa promessa, seu par armênio, Ararat Mirzoyan, pediu "o envio imediato" de uma missão da ONU no enclave "com o objetivo de monitorar e avaliar os direitos humanos e a situação humanitária e de segurança".
Em sua intervenção em Nova York, o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, criticou Erevan por "jogar mais lenha na fogueira" e acusou o Ocidente de "mexer os pauzinhos" para minar a influência de Moscou na Armênia.
Desde a última guerra em 2020, a Rússia mantém tropas de paz para monitorar o cessar-fogo em trono do enclave, governado por separatistas armênios durante por décadas.
No início de setembro, Erevan anunciou a realização de exercícios militares conjuntos com soldados americanos, uma decisão que desagradou a Rússia, aliada histórica da Armênia.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, manifestou neste sábado ao primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, a "profunda preocupação" dos Estados Unidos pelos armênios em Nagorno-Karabakh, segundo um porta-voz do Departamento de Estado.
- Retiradas -
Apesar das negociações em curso e do cessar-fogo alcançado na quarta-feira, um soldado azeri ficou ferido neste sábado, informaram as forças de paz russas.
Milhares de civis vivem em situação de emergência humanitária nesta região separatista, cuja "capital" Stepanakert está cercada de soldados azeris, de acordo com autoridades locais.
Yana Avanessian, uma professora de Direito natural desta localidade, conta que a situação na capital está "horrível".
"Esperamos retiradas em breve, especialmente das pessoas cujas casas foram destruídas", disse a mulher, de 29 anos, no posto de controle armênio na fronteira de Kornidzor.
"Não tenho muita esperança [de ver os familiares], mas não podia fazer nada. Só de estar aqui, ver a base russa a um quilômetro de distância, já me faz sentir melhor", diz Garik Zakarian, de 28 anos.
Segundo um correspondente da AFP, Stepanakert está sem eletricidade e combustível. Seus habitantes também sofrem com a falta de alimentos e remédios.
A incursão militar de Baku, que durou cerca de 24 horas, deixou pelo menos 200 mortos e 400 feridos, segundo os separatistas armênios.
Criticado por sua passividade diante do Azerbaijão, o primeiro-ministro armênio admitiu na sexta-feira que a situação continua "tensa" no enclave, onde persiste "a crise humanitária".
Desde o início dos conflitos recentes, críticos ao premiê se manifestam todos os dias na capital Erevan para protestar contra sua gestão de crise.
SHUSHA