Milei, de 52 anos, apelidado de "o leão" por seu cabelo despenteado, é um deputado de extrema direita que abalou o cenário político argentino com um discurso contra a "casta política parasitária" e propostas polêmicas que vão desde "explodir" o Banco Central e dolarizar a economia até permitir a livre venda de órgãos humanos.
Sua popularidade foi construída na televisão, onde era um comentarista econômico frequente, e se expandiu nas redes sociais.
Foi assim que Tiago e muitos outros jovens o conheceram, cativados por seus discursos passionais e agora pela promessa de conquistar a liberdade.
"Eu o acompanho desde os 10, 11 anos", explica Tiago à AFP no comício em San Martín, na província de Buenos Aires, o maior colégio eleitoral da Argentina, onde Milei concentra suas energias.
"Você vê que seus pais estão com dificuldades financeiras, que estão sempre xingando os políticos, e um dia você o vê no YouTube, aperta o play, começa a ouvi-lo falar e é algo que fica com você. Ele não quer te fazer de bobo como todos os outros políticos", continua o rapaz que veste uma camisa branca com uma fina gravata preta e tem cabelos loiros e com tranças.
"Ele vai direto ao ponto, é muito explícito, não vai te contar mentiras".
- Relação "volátil" -
Um total de 35,3 milhões de argentinos estão habilitados para ir às urnas em 22 de outubro, dos quais 9,5 milhões têm entre 16 e 29 anos - o voto é facultativo a partir dos 16 anos e obrigatório a partir dos 18.
De acordo com as pesquisas, Milei deve avançar para o segundo turno em 19 de novembro junto com o ministro da Economia, Sergio Massa, candidato do peronismo. A conservadora Patricia Bullrich está ficando para trás.
Alfredo Serrano, diretor do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (Celag), afirma que o voto em Milei tem uma predominância de jovens com menos de 24 anos.
"Isso se explica por uma crise de representatividade dos partidos", diz o especialista, que garante que o voto jovem não é monolítico. "A relação é altamente volátil. Hoje estão aqui, amanhã não sabemos".
"À medida que a cidadania argentina vai envelhecendo, ela acaba se afastando dessas preferências", acrescenta.
- "Revolucionário" -
Especialistas concordam que Milei tem mais influência entre os jovens do sexo masculino e que as mulheres o rejeitam porque o veem como uma ameaça aos direitos conquistados, como o aborto, ou às políticas de combate à violência de gênero.
Noelia González (25) discorda. "Há muitas mulheres trabalhando com ele", afirma antes de se juntar a uma distribuição de panfletos em Vicente López, uma abastada localidade também na província de Buenos Aires.
Antes, ela tem uma reunião com outros cinco jovens militantes, todos homens, e o candidato a prefeito, também homem.
"Eu não via uma saída, estava prestes a ir para a Espanha, visto, tudo, e de repente vejo um louco na TV dizendo 'não viajem, fiquem, apostem no país'", lembra.
Ela ficou, se juntou à campanha e até convenceu seus pais a votarem nele e não em Massa.
"Ele defende muito a família, a propriedade privada... ele é um revolucionário", continua esta mulher que trabalha em sistemas de segurança e gosta da comparação de Milei com Jair Bolsonaro ou Donald Trump.
"Quem quer fazer algo diferente é rotulado de mau, de nazista", reclama.
- "Obrigado pela situação" -
Milei chega à carreata em San Martín. A bordo de uma caminhonete pick-up, ele cumprimenta, autografa livros, notas e balança uma motosserra ligada, que se tornou o símbolo de sua campanha.
Até mesmo uma criança traz uma motosserra de papelão. Ele está lá com seu pai neste comício de cerca de 200 pessoas, que não são apenas jovens; há pessoas na faixa dos 40, 50 e até idosos, cercando o veículo durante o trajeto de uma quadra.
"Ooooooh, a casta está com medo!", cantam os presentes ao ritmo dos cânticos tradicionais de futebol. Entre eles está Tiago, que não para: ele pula, acena com bandeiras e encoraja as pessoas.
Depois de sair da escola, ele quer ser chef de cozinha. "A política não me apaixona", ele afirma. "Estou aqui porque me vejo obrigado pela situação".