O casal de jornalistas brasileiros Airton Gontow, gaúcho, de 61 anos, e Maria Gontow, mineira, de 59 anos, vive em Haifa, cidade no Norte de Israel, há dois anos. Ele conta que acordou na manhã deste sábado (7/10), tranquilamente, desfrutou o café da manhã com a mulher, planejou um dia bom, para passear e, ao falar com o primo assustado pelo telefone, foi pego de surpresa com a notícia da guerra que começou no país.
Israel e Gaza entraram novamente em um embate neste sábado (7), após o lançamento de uma ofensiva surpresa do grupo islâmico palestino Hamas, que disparou milhares de foguetes e infiltrou combatentes por terra, mar e ar. O conflito entre Israel e Hamas já matou ao menos 238, sendo 40 israelenses e 198 palestinos.
Gontow conta que a cidade é conhecida pela diversidade. São laicos, judeus religiosos ou não, árabes, cristãos ou muçulmanos, dursos e bahá'í (Haifa tem o maior templo dedicado a essa religião abraâmica monoteísta do mundo), além de estudantes do mundo inteiro (na cidade estão duas importantes universidades ao nível global) e da população LGBTQIA+ (na cidade também acontece a segunda maior parada LGBTQIA+ de Israel).
"Israel despertou com a notícia dos ataques. Estamos todos tensos e, mesmo sabendo que é improvável que a guerra que começou no Sul do país possa chegar até aqui, no Norte, a sensação é de apreensão. O Hamas quer sabotar um possível movimento pela paz entre Israel e a Arábia Saudita, o que poderia acabar se estendendo também para outros países árabes. A esperança pela paz é um sentimento presente entre nós", diz Gontow, que sabe as notícias sobre a violência acompanhado o noticiário e recebendo diversos relatos.
Para ele, o ataque mais ousado de que se tem conhecimento até então. "Existem pessoas em vilas que estão dentro de casa, no escuro, tudo trancado, falando baixo, vendo os terroristas na rua, alguns até dentro das casas. Mas não está claro tudo o que realmente está acontecendo, quantas pessoas foram sequestradas, onde estão ou para onde vão os terroristas, onde podem ser lançados os mísseis, por exemplo", conta o jornalista que, olhando pela sacada de casa, avista um parque que costuma ser lugar de diversão para famílias e suas crianças, e que neste sábado está deserto.
"Geralmente eu me incomodo com o barulho que acontece das 16h às 19h e fecho a porta de vidro que tem isolamento acústico. Mas hoje olhei para o parquinho vazio e me deu uma tristeza infinita. Como eu quis que as crianças estivessem lá brincando. Abriria a janela para deixar o barulho da vida, do amor e da paz entrar na minha sala", relata, dizendo que às 17h, no horário local, deste sábado, finalmente apareceram algumas famílias para se divertirem por lá.
Ele e a mulher estão seguindo as recomendações do governo: não sair às ruas, trancar a casa e colocar água e comida nos bunkers, abrigos para emergências que existem em praticamente todas as edificações da cidade e que, na casa do casal, está em um dos quartos. A orientação é também por estar atento a qualquer alarme.
"Por enquanto os mísseis ainda não chegaram aqui. Estão avançando e já castigam o centro do país. As mortes também já começaram do lado palestino. A sensação de tristeza e impotência diante da violência já nos atinge e arrasa. O Hamas tenta arrastar o Hezbollah, que está no Sul do Líbano (fronteira Norte de Israel) para a guerra, mas os analistas dizem que é difícil que a guerra também se estenda por lá. Mas, sabemos, uma guerra pode começar por qualquer detalhe. Às vezes um atentado pode despertar uma guerra que ambos não desejam", diz Gontow. "Nosso sentimento também é de indignação pelo governo não ter percebido a iminência do ataque em grande escala que estava sendo planejado. As forças de segurança e de inteligência israelense falharam", constata.
Guerra
"Estamos em guerra", declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que ordenou uma "ampla mobilização de reservistas". "O inimigo pagará um preço sem precedentes", prometeu o presidente em uma mensagem de vídeo, na qual reconheceu que o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, lançou "um ataque criminoso surpresa".O aumento da violência começou com uma onda de foguetes lançada de vários pontos da Faixa de Gaza a partir das 6h30 (00h30 no horário de Brasília) deste sábado. O braço armado do Hamas assumiu a responsabilidade pelo ataque e afirmou que milhares de projéteis foram lançados.
As forças israelenses responderam com ataques aéreos contra alvos do Hamas em Gaza, e garantiram que também lutavam em solo israelense, perto do enclave palestino, contra milicianos infiltrados de Gaza por terra, mar e ar. "Houve um ataque combinado com a ajuda de parapentes", disse o porta-voz do Exército israelense, tenente-coronel Richard Hecht, alertando que "algo grande" estava acontecendo.
As forças armadas israelenses informaram o acionamento de sirenes no Sul do país, enquanto a polícia pedia à população que permanecesse perto de abrigos antibombas. Sirenes também foram ativadas em Jerusalém, segundo jornalistas da AFP.
O braço armado do Hamas assumiu a responsabilidade pelo ataque com foguetes e afirmou que mais de 5 mil foguetes foram lançados. "Decidimos pôr fim a todos os crimes da ocupação (israelense); o seu tempo de violência sem responsabilização acabou", declarou o grupo. "Anunciamos a operação Dilúvio Al Aqsa e disparamos, no primeiro ataque de 20 minutos, mais de 5 mil foguetes". O Hamas recebeu elogios de dois inimigos jurados de Israel na região: o movimento xiita libanês Hezbollah e o Irã, por meio de um conselheiro militar do líder supremo.
Centenas de palestinos na Faixa de Gaza abandonaram as suas casas para se afastar das zonas fronteiriças com Israel. Homens, mulheres e crianças fugiram com cobertores e alimentos, a maioria deles da parte nordeste do enclave palestino, confirmou um jornalista da AFP. Em Gaza, já são cerca de 198 mortos. A escalada da violência provocou inúmeras reações internacionais.
(Com informações da AFP)