"O inimigo ainda está no terreno", disse o Exército de Israel no domingo à noite.
O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, pediu aos israelenses que se preparassem para uma guerra "longa e difícil" e o exército anunciou que removeria todos os habitantes das áreas próximas da Faixa de Gaza.
A ofensiva lançada no sábado por terra, mar e ar pelo Hamas, que governa Gaza, deixou até agora mais de 700 mortos e 2.150 feridos em Israel, 200 deles em "estado crítico", segundo o balanço atualizado pelas Forças de Defesa de Israel.
Os bombardeios lançados em resposta por Israel contra Gaza causaram 413 mortos - incluindo 78 crianças - e 2.300 feridos, indicou o Ministério da Saúde do enclave palestino.
O governo israelense também indicou que o Hamas capturou "mais de 100" pessoas no seu ataque, tomando-as como "prisioneiras".
- "Matar cada terrorista" -
Israel enviou dezenas de milhares de soldados com a missão de "libertar reféns" e "matar cada terrorista presente" em seu território, disse o porta-voz do exército, Daniel Hagari.
Muitos israelenses em busca de familiares desaparecidos disseram tê-los visto em vídeos que circulavam nas redes sociais.
Yifat Zailer, de 37 anos, contou que reconheceu dessa forma sua prima e os filhos dela, de nove meses e três anos, supostamente capturados pelo Hamas. "É a única confirmação que temos" sobre eles, disse ela por telefone à AFP, angustiada.
Entre as pessoas capturadas, há vários cidadãos americanos e alemães, muitos com dupla nacionalidade israelense.
Na noite de domingo, um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos afirmou que "vários" cidadãos americanos morreram no ataque do Hamas, sem fornecer mais detalhes.
O Ministério das Relações Exteriores do Canadá informou sobre "a morte de um canadense e o desaparecimento de outros dois".
Também há "três brasileiros desaparecidos" e um "hospitalizado", todos com dupla nacionalidade, que estavam participando de um festival de música "a menos de 20 km da Faixa de Gaza", informou o Ministério das Relações Exteriores à AFP.
Na ofensiva do Hamas, dez nepaleses perderam a vida e quatro ficaram feridos, relatou a embaixada em Tel Aviv do país do Hamalaia.
Jornalistas da AFP viram corpos de civis baleados nas ruas em Sederot, no kibutz de Gevim e na praia de Zikim, ao norte de Gaza.
- Tensão internacional -
O Conselho de Segurança da ONU, atualmente presidido pelo Brasil, discutiu a crise neste domingo, e vários membros denunciaram o ataque do Hamas, enquanto os Estados Unidos lamentaram a falta de unanimidade.
Diplomatas relataram que o Conselho não considerou emitir uma declaração conjunta, muito menos uma resolução vinculante. Outros membros, liderados pela Rússia, esperavam uma abordagem mais ampla que incluísse a condenação ao Hamas.
O ataque do Hamas foi condenado pelo Brasil, Estados Unidos e diversos países europeus e latino-americanos.
Washington começou neste domingo a enviar ajuda militar adicional a Israel e a aproximar sua força naval do Mediterrâneo oriental, indicou o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, em um comunicado.
Após o anúncio, o Hamas equiparou a ajuda militar americana a uma "agressão" contra os palestinos.
"O anúncio dos EUA de que fornecerá um porta-aviões para apoiar a ocupação implica uma participação real na agressão contra nosso povo", disse em um comunicado.
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, declarou que "o Irã apoia a defesa legítima da nação palestina".
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan ofereceu seus bons ofícios para encerrar um conflito que está causando numerosas vítimas civis.
A França, por meio do Ministério das Relações Exteriores, declarou que "está ativamente trabalhando para evitar que o conflito piore, com uma conflagração na Cisjordânia, no Líbano ou na região".
- "Sem precedentes em Israel" -
O braço armado do Hamas denominou a sua ofensiva como "Dilúvio Al Aqsa", que visava "pôr fim a todos os crimes da ocupação ".
Israel ocupa a Cisjordânia, território palestino, e Jerusalém Oriental desde 1967.
Os combatentes palestinos dispararam "mais de 5.000 foguetes" a partir da Faixa de Gaza e conseguiram infiltrar-se utilizando veículos, barcos e até parapentes motorizados.
Os milicianos chegaram a áreas urbanas como Ashkelon, Sderot e Ofakim, a 22 quilômetros de Gaza, e atacaram posições militares e civis no meio da rua.
Um ex-soldado israelense declarou que a guerra árabe-israelense de 1973, que ainda é um trauma nacional no Estado hebreu, foi "uma coisa pequena" comparada com a atual ofensiva do Hamas.
"O que aconteceu não tem precedentes em Israel", reconheceu Netanyahu, naquele que é o maior ataque em décadas, 50 anos depois da guerra do Yom Kippur, que deixou mais de 2.600 israelenses mortos em três semanas de combates.
As forças israelenses bombardearam vários alvos em Gaza, incluindo vários edifícios que apresentavam como "centros de comando" do Hamas.
O Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA) afirmou estar "profundamente preocupado" com essas medidas no enclave muito pobre de 2,3 milhões de habitantes, sujeito a um rígido bloqueio israelense há mais de 15 anos.
No norte, a partir do Líbano, o movimento xiita pró-Irã Hezbollah atacou com projéteis três posições israelenses em uma zona fronteiriça disputada, em "solidariedade" com a ofensiva do Hamas.
O exército israelense respondeu com bombardeios no sul do Líbano.