O ataque surpresa do grupo islâmico Hamas contra Israel é resultado de uma operação cuidadosamente coordenada e que pode se estender ao longo do tempo, com as acusações do Ocidente contra o Irã como pano de fundo.
- Surpresa -
A ofensiva começou na madrugada de sábado em pleno "sabbat" - dia sagrado para os judeus - em um momento simbólico: os 50 anos da guerra árabe-israelense do Yom Kippur.
"É um grande fracasso para Israel e um grande sucesso para o Hamas", lamenta Kobi Michael, investigador da organização independente INSS, afiliada à Universidade de Tel Aviv. "Não estávamos preparados", reforça.
O alcance da ofensiva não deixa dúvidas. "Para lançar uma operação como essa, é preciso muita preparação, planejamento, coordenação e ter perspectivas e objetivos importantes", acrescentou, afirmando que o Hamas "sabe muito bem que o preço de uma operação assim será muito alto".
- O precedente de 2021 -
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Se o Hamas mantiver este ritmo, "seria o maior ataque com foguetes contra Israel até agora", disse ele à AFP.
"O Hamas ainda deve ter um significativo arsenal de foguetes de reserva e parece provável que possa manter o fogo durante muito tempo", alertou Fabian Hinz, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês).
- Arsenal variado -
Este grupo islâmico palestino possui um arsenal difícil de decifrar, porém, muito variado.
O armamento provém do Irã, da Síria, da Líbia e de outros países do Oriente Médio, afirma um especialista em armas, que pede anonimato e mantém uma conta na rede social X (antigo Twitter) sob o pseudônimo Calibre Obscura.
Já suas armas rápidas têm como origem a China e a antiga União Soviética, com "quantidades importantes roubadas ou apreendidas durante os combates com o Exército israelense", afirma o especialista, evocando também drones e lançadores de granadas.
A maior parte dos foguetes do Hamas são fabricados localmente: "sistemas de mísseis não guiados", que "não requerem tecnologia avançada" e são pouco precisos, explica Elliot Chapman.
Mas segundo Fabian Hinz, o Hamas poderia se inspirar no Hezbollah, organização paramilitar do Líbano, que esconde suas capacidades militares.
"Poderíamos ver o surgimento de capacidades inteiramente novas no caso de uma invasão terrestre da Faixa de Gaza" por Israel, acrescenta.
- À sombra do Irã -
"É muito cedo para dizer" se o Irã está "diretamente envolvido" na ofensiva lançada pelo Hamas contra Israel, e os Estados Unidos "não têm nenhuma indicação" que aponte para esta direção até o momento, disse a Casa Branca.
A Presidência americana reforçou, entretanto, que não existe dúvida de que o Hamas tem sido "financiado, equipado e armado" pela República Islâmica.
Teerã declarou, por sua vez, que apoia a "legítima defesa da nação palestina" e rejeitou as acusações de um eventual papel na operação, alegando que esta havia sido motivada por razões "políticas", e reforçando que não intervém "na tomada de decisões de outras nações, incluindo a Palestina".
"Houve transferências de armas, de conhecimentos. Está claro que existe um toque iraniano que permite que os mísseis sejam fabricados localmente", sobretudo no Oriente Médio, disse à France Info no sábado David Rigoulet-Roze, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) de Paris.
Para Kobi Michael, "o Hamas não teria ousado lançar tal operação sem ter garantias de segurança sérias, e eles as obtêm do Hezbollah e do Irã", analisa.
- Outras frentes? -
Israel diz que há meses teme um ataque em várias frentes, medo que foi reforçado quando o Hezbollah anunciou o lançamento de "obuses e mísseis guiados" na fronteira entre o Líbano e Israel.
"Há boas razões para pensar que os israelenses têm tentado evitá-lo há anos" diz Fabian Hinz. O Hamas, por sua vez, "teve tempo para se preparar para este tipo de cenário", acrescentou o especialista.
Outros grupos poderiam ser tentados a intervir contra Israel, entre outros o Hezbollah, que "declarou que trabalha em coordenação total com os combatentes palestinos", observa Chapman. Segundo ele, o grupo afirmou que iria intervir "se Israel lançasse um ataque à Faixa de Gaza, o que parece provável neste momento".