O resgate de brasileiros que estão em Israel e nos territórios palestinos ocupados é a maior operação de repatriação já feita pela Força Aérea Brasileira (FAB). Até sábado, pelo menos 900 pessoas devem embarcar em um dos cinco voos previstos para deixar a capital israelense.
Mais de 2,3 mil pessoas procuraram a embaixada em Tel Aviv para tentar deixar o país — na maioria, turistas, mas também há funcionários de empresas e colaboradores de organizações não governamentais que não conseguiram passagens em voos comerciais.
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A diplomacia brasileira negocia com o Egito a abertura do posto de controle egípcio na estreita fronteira (apenas 11km) com Gaza, a única saída possível para os brasileiros que vivem na cidade. Os acessos a Israel estão fechados. A Faixa de Gaza está sob cerco e intensos bombardeios das Forças Armadas israelenses.
"O escritório de representação em Ramalá segue em contato com os brasileiros na Faixa de Gaza e com as autoridades responsáveis na região. A Embaixada do Brasil no Cairo, por sua vez, segue em contato com as autoridades egípcias para verificar a viabilidade da passagem segura para o Egito dos nacionais interessados em serem retirados da Faixa de Gaza", informou o Itamaraty, por nota. A Chancelaria também reforçou a recomendação para que sejam evitados "quaisquer deslocamentos não essenciais para a região".
Regresso
O primeiro voo, com 211 brasileiros, decolou nesta terça-feira do Aeroporto Internacional Ben Gurion, na capital israelense, com previsão de chegada na madrugada desta quarta-feira à Base Aérea de Brasília.
Uma segunda aeronave, do mesmo modelo e porte, decola na manhã desta quarta-feira de Tel Aviv com mais 211 passageiros, com aterrissagem prevista para 23h, no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro.
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Essas duas aeronaves retornarão a Tel Aviv imediatamente após os respectivos desembarques. Nesta terça-feira, o terceiro cargueiro destacado pela Aeronáutica para a missão decolou da Base Aérea para resgatar mais 60 brasileiros. Esse avião fará escalas em Cabo Verde e Roma.
Por enquanto, estão previstas cinco viagens saindo de Tel Aviv, com capacidade total de transporte de cerca de mil passageiros, mas a FAB deve ampliar a missão para mais cinco voos.
Milhares de pessoas estão deixando Israel por companhias aéreas comerciais, seguindo uma recomendação do próprio governo israelense. Mas o Itamaraty, que coordena a repatriação de brasileiros, vai manter a estrutura da FAB priorizando famílias com crianças pequenas, idosos e pessoas com deficiência.
O Brasil tem tradição de organizar operações de resgate. A última foi feita no ano retrasado, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, quando trouxe 42 brasileiros, 20 ucranianos, cinco argentinos e um colombiano, além de oito cães e dois gatos. Em 2020, uma aeronave da FAB repatriou 34 brasileiros que estavam na China, no início da pandemia de covid-19.
Dos três aviões usados para a Operação Voltando em Paz, como foi batizada pelos militares, dois são cargueiros turboélice C30, com capacidade para transportar até 230 passageiros e tripulantes. O terceiro é um Embraer KC 390, fabricado no interior de São Paulo, que pode levar até 60 pessoas além da equipe de bordo.
Na tripulação do KC 390, que decolou nesta terça-feira, estavam dois médicos, dois enfermeiros e dois psicólogos. O governo acredita que muitos passageiros estejam sob forte impacto emocional por causa das explosões, que são ouvidas em várias cidades israelenses, e do próprio noticiário da guerra.
A crise começou no sábado, após um ousado ataque do Hamas — grupo fundamentalista palestino que controla a Faixa de Gaza — a cidades israelenses, incluindo Tel Aviv, com lançamento de milhares de foguetes e incursões de vários comandos por terra, mar e ar.
Até parapentes foram usados pelos combatentes palestinos para cruzar a fronteira, como no ataque à festa em que brasileiros foram mortos. A reação do governo do premier Benjamin Netanyahu — que declarou estado de guerra — está sendo devastadora, com bombardeios a prédios e galpões supostamente usados pelo Hamas.
O governo brasileiro condenou formalmente os ataques a civis, lamentou as mortes no conflito e pediu o desbloqueio das negociações de paz.
O Brasil — que ocupa, neste mês, a presidência rotativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas — defende a solução de dois Estados, com o reconhecimento da Palestina "economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas".