Na manhã do quinto dia do conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas, militares israelenses disseram que centenas de milhares de soldados estão perto de Gaza “prontos para executar a missão que nos foi dada”.
Em Gaza, bairros inteiros foram destruídos devido a ataques aéreos de Israel. Na manhã (horário local) desta quarta, a Força Aérea Israelense disse que os ataques continuavam. A população em Gaza procura abrigo em escolas e hospitais. A informação de Israel era de que 450 alvos foram atingidos em 24 horas.
Segundo os relatos, o número de mortos em Israel chegou a 1.200, enquanto 1.055 pessoas foram mortas em Gaza.
A única central elétrica de Gaza ficou sem combustível nesta quarta-feira (11/10), depois de Israel ter anunciado corte no fornecimento de energia, de alimentos e água.
Em Israel, corpos continuam a ser removidos, na cidade de Sderot, quatro dias depois dos ataques mortais feitos pelo Hamas. A imagem abaixo foi feita perto de uma delegacia destruída, em local onde ocorreu um tiroteio.
Também na manhã desta quarta-feira, houve mais violência na fronteira de Israel com o Líbano. A milícia libanesa Hezbollah afirmou ter disparado dois mísseis contra um posto do Exército israelense em resposta à perda de três de seus combatentes em conflitos com Israel nesta semana. Israel bombardeia uma área no sul do Líbano em resposta.
Na terça-feira (10/10), o conflito contou com um novo componente bélico: militares israelenses anunciaram que foguetes também foram lançados a partir do território da Síria.
As Forças de Defesa israelenses afirmaram que repeliram "com artilharia contra a origem de lançamentos na Síria".
Os israelenses também continuam contabilizando os estragos causados pelos ataques do Hamas desde o sábado.
Em um vilarejo em Israel, a ação do grupo teria sido um "massacre" que incluiu bebês e crianças entre os mortos, afirmaram autoridades israelenses na terça-feira.
Segundo o general israelense Itai Veruv, foram encontrados corpos de famílias inteiras no kibutz Kfar Aza, próximo à divisa com a Faixa de Gaza.
"Vimos bebês, as mães e os pais em suas camas, e vimos como os terroristas os mataram", afirmou o militar à agência Reuters. "Não é uma guerra, não é um campo de batalha. É um massacre", acrescentou.
De acordo com relatos de militares ao editor internacional da BBC, Jeremy Bowen, o Hamas invadiu o vilarejo, incendiando casas e matando seus moradores.
Um oficial israelense disse que alguns dos mortos foram decapitados.
Os residentes das comunidades fronteiriças em Israel esperavam ataques periódicos de foguetes depois de o Hamas ter tomado o controle de Gaza em 2007, diz Jeremy Bowen.
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"Eles aceitaram o perigo como o preço da vida no campo em uma comunidade unida que ainda tinha vestígios do espírito pioneiro dos primeiros assentamentos sionistas", afirma o jornalista da BBC.
Os residentes de Kfar Aza e de outras comunidades israelenses perto de Gaza gozavam de boa qualidade de vida - apesar da ameaça do Hamas.
"Nas casas, nos gramados e nas áreas abertas do kibutz, um abrigo de concreto nunca estava a mais de um passo de distância. Todas as casas também possuíam salas seguras reforçadas", aponta Bowen.
"Mas ninguém – aqui em Kfar Aza ou em qualquer outro lugar de Israel – imaginou que o Hamas seria capaz de romper as defesas de Israel e matar tantas pessoas. O horror e a raiva dos israelitas misturaram-se com a incredulidade."
Em outro kibutz, um homem disse que dezenas de seus amigos e vizinhos foram mortos quando o local, onde ele mora com seus filhos e netos, foi atacado no sábado.
“O kibutz Nir Oz não existe mais. Ele foi destruído em um ataque bárbaro e desumano no qual dezenas de meus amigos e vizinhos foram mortos", disse Jonathan Dekel-Chen.
"Sabe-se que dezenas de outras pessoas são reféns ou estão desaparecidas."
'Corredor humanitário'
A Unicef, agência das Nações Unidas que cuida das crianças, pediu a abertura de um corredor humanitário dentro e fora de Gaza, já que Israel cortou o fornecimento de combustível, eletricidade e água para o território.
A ONU também calcula que mais de 187 mil pessoas tiveram que deixar as próprias casas em Gaza.
Segundo números divulgados pelas forças armadas de Israel no domingo (08), cerca de 100 pessoas (civis e militares) foram capturadas por combatentes do Hamas e são mantidas em cativeiro.
Por sua vez, o Hamas anunciou que executará um refém israelense a cada novo bombardeio de Israel contra edifícios civis na Faixa de Gaza sem aviso prévio.
O vice-chefe do gabinete político do Hamas, Saleh al-Arouri, afirmou que "oficiais de alta patente" do Exército de Israel estão entre os reféns.
Ele disse ao canal Al Jazeera que “o que está em nossas mãos libertará todos os prisioneiros” em Israel — uma aparente referência aos palestinos detidos em prisões israelenses.
“Há muitos palestinos mortos e muitos israelenses mortos, bem como prisioneiros, e a batalha ainda está no auge”, disse al-Arouri.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou no início da semana, em um pronunciamento na TV, que os "bombardeios em Gaza são só o começo".
Há relatos não confirmados oficialmente de que o Catar — país que abriga algumas das lideranças do Hamas e que há anos fornece suporte financeiro à Faixa de Gaza — estaria iniciando negociações entre ambos os lados para garantir a libertação de alguns reféns.
Tanto o Hamas quanto Israel negaram que estariam avaliando a possibilidade de trocar prisioneiros detidos anteriormente em Israel por reféns capturados nos últimos dias pelo Hamas.
Editor da BBC para assuntos relacionados ao mundo árabe, Sebastian Usher afirma que a detenção de reféns pelo Hamas é "compreensivelmente uma questão altamente emotiva em Israel".
"Para os israelenses traumatizados pelos acontecimentos dos últimos três dias, pode não haver estômago para qualquer tipo de negociação com o Hamas, mesmo que o país tenha aderido há muito tempo ao princípio de que nenhum prisioneiro, vivo ou morto, deve ser deixado para trás", diz Usher.
Assim, o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem diante da mesa a urgência de decidir sobre como lidará com a questão dos reféns — pressão que é intensificada pelo fato de que o presidente americano Joe Biden afirmou que "provavelmente" há cidadãos dos Estados Unidos, grande aliado de Israel, entre os reféns.
"Como Israel poderá garantir a libertação [dos reféns] é uma grande questão — seja através de operações de forças especiais, de uma invasão em grande escala a Gaza, de negociações ou de uma mistura dos métodos."
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O início do conflito
Nas primeiras horas do sábado (7/10), final do feriado judaico de Sucot, dezenas de homens armados do grupo palestino Hamas se infiltraram no sul de Israel a partir da Faixa de Gaza.
As invasões ocorreram por terra, por mar e por ar, com o auxílio de parapentes.
Também foram registrados disparos de milhares de foguetes vindos de Gaza, governada pelo Hamas.
Logo após os ataques, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, postou um vídeo nas redes sociais dizendo que o país estava "em guerra".
O ministro da Defesa de Israel disse que o Hamas “cometeu um grave erro e lançou uma guerra” contra eles mesmos.
“As tropas [israelenses] estão lutando contra o inimigo em todos os locais”, acrescentou Yoav Gallant. “O Estado de Israel vencerá esta guerra."
Pouco depois, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse que o seu povo tem o direito de se defender contra o “terror dos colonos e das tropas de ocupação”.
Refugiados
As Nações Unidas afirmam que 187 mil pessoas foram deslocadas em Gaza, principalmente "devido ao medo, às preocupações com a proteção e à destruição das casas".
O Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) acrescentou que 137 mil pessoas estão abrigadas em 87 escolas mantidas pela ONU.
Adnan Abu Hasna, porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), espera que os números aumentem.
Existem 2,3 milhões de palestinos vivendo em Gaza.
Antes de lançar os ataques aéreos de retaliação no sábado, Israel alertou as pessoas que viviam em certas áreas para deixarem suas casas. “Digo ao povo de Gaza: saiam daí agora, porque estamos prestes a agir em todos os lugares com toda a nossa força”, afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no sábado (7/10).
'Falha de inteligência'
Militares israelenses disseram que o ataque surpresa lançado pelo Hamas no sábado (7/10) pode ser comparado aos atos terroristas de 2001 contra os Estados Unidos.
“Este é o nosso 11 de setembro. Eles nos pegaram”, admitiu um porta-voz das forças armadas do país, enquanto outro militar comparou os eventos recentes ao ataque de Pearl Harbor, realizado em 1941.
Em entrevista ao programa Today, da BBC, o ex-chefe de um dos serviços de inteligência de Israel avaliou que as táticas do país "colapsaram totalmente" no sábado.
Danny Yatom, ex-chefe da agência de espionagem Mossad e político do Partido Trabalhista, de oposição, diz que "tudo deu errado" e "ninguém tinha a menor ideia" de que Hamas atacaria Israel a partir de Gaza.
Ele disse que a segunda camada de defesa de Israel foi insuficiente para impedir os ataques, lembrando como o país foi pego de surpresa quase 50 anos depois da Guerra do Yom Kippur.
"A quantidade de forças era muito pequena — e isso se deve principalmente ao fracasso da inteligência, que disse que 'embora tenhamos testemunhado muitos exercícios do Hamas, eles não têm qualquer intenção de [atacar Israel]'."
Frank Gardner, correspondente para assuntos de segurança da BBC News, avalia que "os eventos revelam uma colossal falha de inteligência de Israel".
"O país possui uma das redes de inteligência mais extensas e sofisticadas do Oriente Médio. Israel mantém informantes em grupos militantes não apenas nos territórios palestinos, mas também no Líbano, na Síria e em outros locais."
"O Hamas conseguiu planejar e lançar este ataque cuidadosamente coordenado contra Israel, aparentemente em total sigilo", escreve Gardner.
Para Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC News, os últimos acontecimentos em Israel não têm precedentes nos mais de 15 anos desde que o Hamas ganhou controle sob a Faixa de Gaza.
"O ataque ocorre depois de meses de violência e tensão crescente entre israelenses e palestinos, embora a maior parte dos conflitos esteja concentrada na Cisjordânia, que é o território ocupado por Israel desde 1967, que se estende entre Jerusalém e a fronteira com a Jordânia", escreve ele.
"A situação atual vai evoluir rapidamente e é provável que se agrave. Uma grande questão é o que acontece agora — não apenas nos arredores de Gaza — mas também em Jerusalém e na Cisjordânia, onde há meses se verifica uma violência cada vez mais profunda."
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Reação internacional
Os líderes mundiais reagiram de diferentes maneiras ao ataque do Hamas e à retaliação de Israel:
Estados Unidos: o presidente Joe Biden afirmou que o apoio de seu país a Israel é “sólido e inabalável”. Os EUA mandaram navios e aviões para a região e disseram que enviarão munições adicionais para Israel. Além disso, o país disponibilizou seus serviços de inteligência e especialistas para auxiliar "em cada aspecto da crise dos reféns", nas palavras de Biden.
Reino Unido: o primeiro-ministro Rishi Sunak prometeu “apoio constante” a Benjamin Netanyahu. "Faremos tudo o que pudermos para ajudar. O terrorismo não prevalecerá", discursou ele.
Irã: o presidente Ebrahim Raisi disse que o Irã apoia o direito dos palestinos à autodefesa e alertou que Israel deve ser responsabilizado por colocar a região em perigo ao longo dos anos. O Hamas é apoiado pelo Irã.
Líbano: o Hezbollah, um poderoso grupo armado também apoiado pelo Irã, trocou tiros e foguetes com Israel no domingo. Isso suscitou receios de um conflito mais amplo entre Israel e os seus Estados oponentes.
China: Pequim apelou a ambos os lados para “cessarem fogo imediatamente”. A mídia estatal reiterou a “solução de dois Estados”, que inclui o estabelecimento de um Estado independente da Palestina.
Rússia: o Ministério das Relações Exteriores apelou a um “cessar-fogo imediato” e a negociações para “uma paz abrangente, duradoura e há muito esperada”.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse no sábado estar "chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas".
"Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas."
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil divulgou uma nota em que "condena a série de bombardeios e ataques terrestres realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza".
"O Brasil lamenta que em 2023, ano do 30º aniversário dos Acordos de Paz de Oslo, se observe deterioração grave e crescente da situação securitária entre Israel e Palestina. Na qualidade de Presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil convocará reunião de emergência do órgão."
"O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. Reafirma, ainda, que a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina, sendo urgente a retomada das negociações de paz", conclui o texto.
Na atualização mais recente sobre a situação dos brasileiros na região, o MRE informou que "a embaixada em Tel Aviv identificou, até o presente momento, três brasileiros desaparecidos e um ferido, todos binacionais, que participavam de festival de música no distrito sul de Israel, a menos de 20 km da Faixa de Gaza".
"O brasileiro ferido, também binacional, recebeu, hoje, alta do hospital e se encontra bem."
"A Embaixada em Tel Aviv colheu, até agora, por meio de formulário online, os dados de cerca de mil nacionais e seus dependentes, a maioria dos quais turistas, hospedados em Tel Aviv e Jerusalém", conclui a nota.