Na primeira cave do hospital Rambam, em Haifa, dezenas de carros aguardam o regresso dos seus proprietários, mas nos dois andares inferiores, os carros desapareceram, substituídos por mais de mil leitos, antecipando os ataques ao norte de Israel, procedentes do Líbano.
Nos pisos -2 e -3 deste grande hospital universitário, cerca de 40.000 m2 de lugares de estacionamento foram convertidos em um lugar de cuidados médicos. Grandes envoltórios de tecido percorrem o teto, difundindo o ar-condicionado por todo o espaço.
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Plugues, canos e instalações de todos os tipos, que normalmente permanecem ocultos, tornam-se acessíveis quase instantaneamente quando ocorre uma crise.
Assim, esta semana, em apenas 30 horas foram instalados 1.300 leitos e todos os equipamentos médicos e de saúde necessários no terceiro subsolo.
Na quinta-feira (12), quando a AFP visitou o local, estavam sendo instaladas cerca de 700 camas extras no piso superior.
Israel, que lançou uma ofensiva militar contra a Faixa de Gaza em resposta aos ataques cometidos no sábado pelo movimento palestino Hamas, prepara-se para uma possível conflagração em seu flanco norte, onde houve vários incidentes nos últimos dias.
No hospital Rambam, aprenderam lições da ofensiva israelense contra o Líbano em 2006, que foi acompanhada por uma grande quantidade de tiros contra Haifa, uma cidade portuária a cerca de 50 km da fronteira libanesa que até então estava fora do alcance dos projéteis.
Na ocasião, cerca de 400 foguetes caíram ao redor do hospital e atingiram seu estacionamento, lembra Philippe Abecassis, anestesista de 62 anos. Todos os pacientes desceram para os porões onde o chão estava coberto de areia e não havia instalações, disse uma enfermeira.
A escavação de um estacionamento, que já estava decidida, foi reconsiderada "com a ideia de que se houvesse outra guerra - e infelizmente nos 75 anos de existência de Israel sabemos que as guerras voltam - poderíamos usar o parque de estacionamento como hospital subterrâneo", explicou Abecassis.
- "Não é um estacionamento" -
"Nunca pensei que veria isso na minha carreira, mas aqui estamos", suspira o médico, para quem esta medida é "filosoficamente muito difícil de entender", porque "os hospitais deveriam ser santuários".
Na quarta-feira, um foguete atingiu um hospital em Ashkelon, no sul de Israel, sem deixar vítimas.
"Não podemos confiar na sorte", disse o diretor do hospital, Michael Halberthal.
"Temos que oferecer (aos pacientes) um lugar fortificado, onde estejam seguros", completou.
No hospital Rambam, o primeiro subsolo será utilizado como câmara de descontaminação e área de triagem de pacientes, em caso de ataque químico.
Estão previstas quatro salas cirúrgicas subterrâneas, além das 14 dos andares superiores, cuja construção foi reforçada em caso de possíveis bombardeios.
Alimentos, combustível e oxigênio foram armazenados em quantidades suficientes para que o local seja autossuficiente durante três dias, destaca Halberthal, que espera que a paz prevaleça e que o hospital subterrâneo "não tenha de ser utilizado".
O local foi usado durante a crise da covid-19, quando os funcionários perceberam como "é difícil para os pacientes serem tratados em um estacionamento, sem separação", principalmente auditiva, "para isolá-los dos gritos dos demais internos", observou Abecassis.
"Este lugar pode não ser o mais bonito, mas é o mais seguro do hospital", diz a vice-chefe de enfermagem, Einat Perez.
Na quarta-feira, quando as sirenes soavam no norte do país, devido a "uma suspeita de infiltração aérea", posteriormente descartada por Israel, cerca de 100 pacientes foram levados para a cave, sendo devolvidos para seus quartos algumas horas depois, segundo Dan Kammoun, um reservista israelense.
"Este lugar é incrível", diz a enfermeira Perez. "É um hospital, não um estacionamento".