O Exército israelense insta desde sexta-feira os 1,1 milhão de habitantes do norte de Gaza a partirem rumo ao sul, em vista de uma possível incursão no enclave, atualmente sitiado por dezenas de milhares de soldados.
As tropas aguardam a ordem de entrar em ação para cumprir o objetivo de destruir o Hamas, que governa Gaza desde 2007, informaram porta-vozes do exército.
O enclave de 362 km², onde vivem mais de 2,3 milhões de habitantes, é cenário de bombardeios diários desde a ofensiva lançada pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro.
O ataque, o mais mortal que Israel sofreu desde sua criação em 1948, deixou mais de 1.400 mortos, em sua maioria civis, segundo o exército.
Os comandos do Hamas, organização classificada como terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia (UE) e Israel, também capturaram 155 pessoas que mantêm como reféns.
Em Gaza, os bombardeios até agora mataram 2.670 pessoas, incluindo mais de 700 crianças, de acordo com as autoridades locais.
- "Catástrofe humanitária inédita" -
Os ultimatos de Israel para evacuar o norte do território provocaram um deslocamento "em massa" da população, indicou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Segundo a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), há cerca de um milhão de deslocados e esse número ameaça aumentar.
Após a incursão do Hamas, Israel impôs um "cerco total" ao enclave, cortando o fornecimento de água, eletricidade e alimentos para a Faixa e Gaza, que já estava sob um bloqueio estrito desde 2006
O ministro de Energia de Israel, Israel Katz, anunciou neste domingo que o fornecimento de água foi restaurado para o sul do enclave.
A ajuda humanitária, vinda de vários países, está acumulada na fronteira do Egito, disseram testemunhas à AFP.
O Egito controla a única passagem terrestre para Gaza que não está sob controle israelense, o posto de Rafah, que permanece fechado, deixando os habitantes de Gaza literalmente encurralados no enclave.
A UNRWA afirmou que uma "catástrofe humanitária sem precedentes" está ocorrendo em Gaza.
"Nenhuma gota de água, nenhum grão de trigo, nenhum litro de combustível foi autorizado a entrar em Gaza nos últimos oito dias", afirmou Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA.
O papa Francisco afirmou em sua tradicional oração dominical do Angelus que era "urgente e necessário garantir corredores humanitários e socorrer a população" de Gaza.
Milhares de residentes estão fugindo desde sexta-feira para o sul entre ruínas e com seus pertences amontoados apressadamente em reboques, carrinhos, motos e carros.
Mas a parte sul do enclave também está sendo alvo de bombardeios, de acordo com os habitantes, e seus hospitais estão sobrecarregados.
Do outro lado da fronteira, os israelenses também estão se deslocando para áreas mais seguras.
- Risco de conflito regional -
A situação em Gaza preocupa tanto pelo aspecto humanitário quanto pelo potencial de provocar uma conflagração regional.
A Liga Árabe e a União Africana afirmaram em um comunicado conjunto que uma invasão da Faixa de Gaza "poderia levar a um genocídio de proporções sem precedentes".
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Husein Amir Abdollahian, advertiu que "ninguém poderá garantir" o controle da situação se Israel invadir Gaza.
Os Estados Unidos têm apoiado com firmeza Israel, mas também expressaram preocupação com a situação em Gaza e temem que o conflito se espalhe.
Washington enviou dois porta-aviões ao Mediterrâneo oriental "para dissuadir ações hostis contra Israel", anunciou o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin.
O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, alertou para um possível "envolvimento direto" do Irã. "Temos que nos preparar para qualquer eventualidade", enfatizou.
O Irã é o inimigo número um de Israel e apoia o movimento libanês Hezbollah, que indicou na sexta-feira estar "preparado" para se juntar ao Hamas quando necessário.
A tensão está aumentando no sul do Líbano, na fronteira com Israel, onde um foguete atingiu neste domingo o quartel-general dos capacetes azuis da ONU (Finul).
O Exército israelense anunciou no sábado que matou "vários terroristas" que tentavam se infiltrar em seu território a partir dessa área e o Hamas reivindicou neste domingo duas infiltrações vindas do Líbano.
Pelo menos 10 pessoas morreram até agora no sul do Líbano, cenário de duelos de artilharia. Outras duas morreram em Israel.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou que seu país "não está interessado" em abrir uma frente de batalha com o Líbano.
- "Estão prontos?" -
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, visitou as tropas posicionadas perto de Gaza no sábado e avisou que a ofensiva ainda está longe de terminar.
"Estão preparados para o que está por vir? Vai continuar", declarou em seu discurso às tropas.
O Exército israelense já realizou incursões no enclave, onde encontrou alguns "cadáveres" dos reféns sequestrados. O Hamas afirmou que 22 "prisioneiros" morreram nos bombardeios israelenses.
O Exército israelense comunicou no fim de semana que matou três comandantes do Hamas envolvidos na ofensiva de 7 de outubro.
Segundo o porta-voz militar Richard Hecht, o chefe do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, considerado o cérebro dessa operação, é o próximo alvo.