A tensão regional em torno da guerra entre Israel e o Hamas cresceu neste domingo (15). Foi o dia de maior violência entre a facção libanesa Hizbullah e os israelenses, que levou a uma troca de advertências entre os Estados Unidos, fiador de Tel Aviv, e o Irã, que apoia os libaneses e o grupo terrorista palestino.
O Irã fez a mais grave advertência até aqui contra Israel —apesar de o país negar ter participado dos ataque do grupo palestino contra o Estado judeu. "Se a agressão sionista não parar, as mãos de todos os envolvidos estão no gatilho", afirmou o chanceler Hossein Amirabdollahian, segundo a imprensa estatal iraniana.
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A resposta veio na mão contrária. O conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan afirmou que os EUA procuraram o Irã por canais informais para alertar o país persa de que não deveria haver envolvimento na crise de Israel. "Há um risco de escalada, com a abertura de uma segunda frente no norte e, claro, o envolvimento do Irã", disse à rede CBS.
Já o presidente do Irã, o ultraconservador Ebrahim Raisi, recebeu um telefonema do colega Emmanuel Macron, cujo país foi potência colonial no Líbano, no qual o francês o admoestou a não permitir a escalada.
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Em solo, a situação se agrava enquanto Israel prepara a ofensiva terrestre contra Gaza. Um ataque do Hizbullah matou uma pessoa na cidade israelense de Shtula, no norte o país. Mísseis antitanque e foguetes foram lançados ao longo do dia, e no começo da noite caças de Israel bombardearam posições do grupo no sul libanês, enquanto soldados de ambos os lados trocavam fogo.
Os incidentes dão sequência a uma lenta escalada desde que o Hamas cometeu o maior ataque terrorista da história de Israel, matando mais de 1.300 pessoas no sábado retrasado (7). A retaliação do Estado judeu matou até aqui 2.600 palestinos da Faixa de Gaza, controlada pelos terroristas.
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Tudo começou na manhã deste domingo, quando um míssil antitanque do Hizbullah foi disparado da área de Ayta a-Shaab, cidade que faz divisa com Shtula na chamada linha azul, uma fronteira estabelecida pela ONU desde 2000.
Uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas. As IDF (Forças de Defesa de Israel) determinaram então uma área tampão de 4 km a partir da dita linha azul, isolando a fronteira e deslocando civis. Depois, iniciou o bombardeio de posições do Hizbullah.
Ao todo, as IDF contaram cinco ataques com mísseis antitanque, nove com foguetes e diversos disparos com morteiros e armas leves. As ações continuaram durante a noite, com a inclusão do poderio aéreo israelense na equação.
Além disso, as IDF alertaram que estão bloqueando o sinal de GPS em toda região norte de Israel e que, por isso, é provável que aplicativos de celular apresentem problemas. O mecanismo atrapalha a precisão de mísseis e comunicações sobre eventuais infiltrados na área.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou neste domingo em um vídeo que seu país não tem interesse em um novo conflito com o Hizbullah, mas que o grupo precisava estar atento às consequências se o fizesse. Antes, o grupo libanês fez uma advertência semelhante, na mão contrária.
A troca de fogo, de resto algo usual na região, já havia ocorrido nesta semana como forma de os dois lados mostrarem prontidão em tempos de guerra. O Irã usa os grupos como prepostos para evitar uma confrontação direta com Israel, um Estado nuclear.
A escalada deste domingo vem um dia após o chanceler iraniano encontrar-se com o líder político do Hamas, Ismail Haniye, no Qatar. Ele também se reuniu com representantes do Hizbullah e da Jihad Islâmica, outro grupo anti-Israel que compõe, com a Síria e os aliados, o que Teerã chama de Eixo da Resistência.
No caso, resistência à existência de Israel e à normalização das relações de Tel Aviv com vizinhos árabes, como os Emirados. A principal negociação na mesa, mediada pelos EUA, é a aproximação com a Arábia Saudita, ora abalroada pela nova guerra —justamente o que o Hamas queria.
Neste domingo, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, se reuniu com o príncipe herdeiro e líder saudita, Mohammed bin Salman, em Riad. O anfitrião afirmou que "é necessário parar a atual escalada, respeitar a lei internacional e levantar o cerco a Gaza".
Os EUA têm agido de uma forma não vista desde que patrocinaram acordos de paz entre parte dos dos palestinos e Israel, em 1993. O governo de Joe Biden anunciou o envio de um segundo grupo de porta-aviões para unir-se ao do USS Gerald Ford, o maior navio de guerra do mundo, na costa israelense.
O motivo, assumido com desassombro, é avisar rivais regionais de Israel o que pode acontecer se eles interferirem na guerra contra o Hamas. O Departamento de Defesa também reforçou bases da região com aviões de ataque F-15, caças F-16 e, num sinal nada sutil, os "tanques voadores" A-10, especializados em atacar blindados.
Para os israelenses, a eventual entrada do Hizbullah, que possui um formidável arsenal de foguetes e mísseis e arrancou um empate da guerra de 2006 com Tel Aviv, seria um grande problema militar. Daí a frase do ministro Gallant.
A leste, há também a questão da Síria, que desde o início da crise já foi atacada duas vezes pelo que disse serem aviões de Israel. As IDF nunca comentam essas ações, que foram confirmadas também pela Rússia, aliada do eixo anti-Israel mas com relações próximas com o governo de Binyamin Netanyahu.
O presidente Vladimir Putin, assim como o turco Recep Tayyip Erdogan, vem criticando o cerco israelense a Gaza.
Aqui, o que parece estar em questão são alertas para que os sírios não enviem armas próprias ou iranianas para reforçar o Hizbullah ou o Hamas a partir de agora —há relatos de que unidades de elite de Teerã estariam se movimentando pela região. Não sem sentido, os alvos dos ataques foram pistas de dois aeroportos.