Às 14H00 (9H00 de Brasília), os pátios das escolas de toda a França estavam lotados de alunos, que fizeram um minuto de silêncio para recordar Bernard, assim como o professor Samuel Paty, que foi decapitado por outro radical islâmico há três anos.
"Três anos depois, a dor continua sendo forte. Três anos depois, a barbárie e o obscurantismo voltam a atacar", disse a primeira-ministra Elisabeth Borne, antes de destacar que a França "nunca se curvará diante do terrorismo".
Em 16 de outubro de 2020, Abdoullakh Anzorov, um refugiado russo de origem chechena, decapitou Paty em Conflans-Sainte-Honorine, ao noroeste de Paris, por exibir charges de Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão. O criminoso foi morto pelas forças de segurança.
A recordação de Paty ressurgiu na sexta-feira, quando Mohammed Mogouchkov - russo da região da Inguchétia, com idade por volta de 20 anos - invadiu uma escola de Arras (norte da França), onde foi aluno, e matou Bernard.
A embaixada da Rússia em Paris afirmou que o jovem, que estava detido, "se radicalizou" na França, onde chegou quando "tinha cinco anos".
O funeral de Dominique Bernard acontecerá na quinta-feira, em Arras. O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou sua presença.
"Enquanto tentava proteger seus alunos, ele foi vítima do terrorismo islamita", afirmou o presidente Emmanuel Macron, que prometeu que a escola continuará sendo um "baluarte contra o obscurantismo" e um "santuário".
Após o crime de Arras, o governo centrista elevou o nível de alerta para "emergência de atentado". No sábado, o Palácio de Versalhes foi evacuado por um alerta de bomba e o Museu do Louvre também foi fechado por "motivos de segurança".
Nesta segunda-feira o alvo foi a escola onde Bernard trabalhava. "Começou de novo. Nunca termina. Estamos em um estado de ansiedade e medo o tempo todo", disse Nathalie Morcel, com flores na mão, enquanto olhava para o centro de ensino isolado onde sua filha estuda.
A situação é tensa na França, país com a maior comunidade judaica da Europa, em pleno conflito entre Israel e o grupo islamita palestino Hamas após o ataque surpresa del 7 de outubro.
Diante do temor de "importar" o conflito, que agita há vários dias a vida política francesa, e para desativar as críticas da direita e da extrema-direita pelo ataque em Arras, o governo tenta demonstrar mais firmeza.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, indicou que desde 7 de outubro foram detidas 102 pessoas por atos antissemitas ou apologia do terrorismo. Também anunciou a intenção de acelerar a expulsão de 193 estrangeiros radicalizados.
Na oposição de esquerda, a posição sobre o conflito no Oriente Médio do líder da ala radical Jean-Luc Mélenchon, pressionado para classificar o Hamas como grupo "terrorista", pode provocar a ruptura da frente esquerdista Nupes.
No domingo, o Partido Comunista francês defendeu o fim da aliança - que se encontra "estagnada" - com a legenda de Mélenchon, França Insubmissa.