Jornal Estado de Minas

TEL AVIV

Biden nega culpa de Israel em bombardeio a hospital e garante entrada de ajuda em Gaza

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, eximiu Israel de responsabilidade, nesta quarta-feira (18), pelo bombardeio que deixou centenas de mortos em um hospital de Gaza, e obteve a autorização do governo israelense para a entrada de ajuda no enclave palestino, cercado desde a invasão de militantes do Hamas, no último dia 7.



"Segundo informações que temos até agora, parece que o impacto foi provocado por um foguete desgovernado, lançado por um grupo terrorista de Gaza", disse Biden durante uma breve visita a Israel, onde se reuniu com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

O presidente americano também anunciou que o Egito havia autorizado a entrada de "até 20 caminhões" de ajuda humanitária na Faixa de Gaza por Rafah, depois que Israel permitiu a entrada de "comida, água e remédios" no enclave.

A versão foi confirmada pouco depois pela presidência egípcia, que anunciou em um comunicado o acordo para "fornecer ajuda humanitária à Faixa de Gaza através do terminal de Rafah de forma sustentável".

A visita de Biden aconteceu um dia depois do bombardeio ao hospital Ahli Arab, localizado na cidade de Gaza, que comoveu a comunidade internacional e gerou protestos em países muçulmanos.

O ataque deixou 471 mortos, segundo o Hamas, mas um encarregado da inteligência europeia, que não quis ser identificado, indicou à AFP que o bombardeio havia deixado "dezenas de mortos, provavelmente entre 10 e 50".



Palestinos e israelenses se acusam mutuamente pelo massacre no enclave, bombardeado diariamente por Israel desde o começo da guerra desencadeada no último dia 7 pela ofensiva do Hamas em seu território, que deixou mais de 1.400 mortos e quase 200 reféns sequestrados. Os bombardeios de Israel já deixaram mais de 3.450 mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

"Esse massacre horrível foi realizado com a ajuda de um arsenal militar americano disponível apenas para o ocupante (Israel)", afirmou o Hamas, considerado uma organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel.

Já o porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, garantiu ter provas de que a explosão no centro de saúde se deveu "a um foguete da Jihad Islâmica que falhou", informação negada pelo grupo armado.

- Comida, água e remédios -

Ao concluir sua visita a Tel Aviv, o presidente americano anunciou que o colega egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, havia autorizado a passagem de "até 20 caminhões" com ajuda humanitária a Gaza, mas advertiu que, "se o Hamas a confiscar, não vai deixá-la passar, então terminará".



Centenas de caminhões esperam há vários dias a abertura do posto de Rafah, na fronteira com o Egito, para a entrada de ajuda ao enclave, onde 2,4 milhões de pessoas estão ficando sem água e comida.

"Diante do pedido do presidente Biden, Israel não frustrará o envio de ajuda humanitária via Egito", havia indicado o gabinete de Netanyahu previamente.

O pacto consiste na entrada de "comida, água e remédios" e será válido "desde que o fornecimento não chegue ao Hamas", ressaltou o comunicado israelense. O documento também detalha que não incluiria a entrada de ajuda no enclave desde Israel enquanto houver reféns em Gaza.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a situação na Faixa de Gaza, sem energia elétrica e cercada por Israel desde 9 de outubro, "está se tornando incontrolável" devido à falta de água, eletricidade e combustível.

Em outra demonstração de solidariedade a Israel, Biden anunciou que pedirá ao Congresso uma "ajuda sem precedentes" ao país aliado, como parte de um pacote que inclui ajuda à Ucrânia e Taiwan. Apesar do apoio oferecido, aconselhou o Estado hebreu a não se deixar levar "pela raiva" e a evitar "os erros" cometidos por Washington após o 11 de Setembro.



"Depois do 11 de Setembro, sentíamos raiva. Enquanto buscávamos justiça e a obtínhamos, também cometemos erros", admitiu Biden, afirmando que a guerra reforçava seu apoio a uma solução de dois Estados.

- "É um massacre" -

A visita de Biden a Israel foi marcada pelo bombardeio do hospital em Gaza, qualificado como um "crime contra a humanidade" pela Igreja Episcopal de Jerusalém, que administra o hospital, e como um "crime de guerra" pela Meia-Lua Vermelha palestina.

A versão israelense e americana que isenta o Estado hebraico de responsabilidade foi respaldada pelo chefe de um serviço de inteligência europeu. De acordo com "pistas sérias" obtidas por sua agência, "Israel provavelmente não fez isso", afirmou.

Biden havia assegurado que, de acordo com as informações transmitidas pelo Departamento de Defesa, o incidente poderia ter sido "provocado por um foguete fora de controle lançado por um grupo terrorista de Gaza".

Em Washington, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson, indicou que essas conclusões se baseavam na análise de "imagens aéreas e comunicações interceptadas".

Os apelos por um cessar-fogo se multiplicam nos últimos dias diante do temor de que a guerra se espalhe.



O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, visitará Israel e outros países da região nesta quinta-feira para tentar uma desescalada no conflito, anunciou seu gabinete.

Entretanto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fracassou em aprovar um projeto de resolução do conflito apresentado pelo Brasil, que preside este mês a principal instância da ONU. Os Estados Unidos vetaram o texto, que condenava expressamente os "ataques terroristas odiosos" do grupo Hamas, mas não reconhecia o direito de Israel à autodefesa.

Enquanto isso, a tensão aumenta na Cisjordânia ocupada, onde ocorreram confrontos em Ramallah na terça-feira.

Também na fronteira entre Israel e Líbano, onde ocorrem diariamente trocas de fogo entre o Exército israelense e o grupo xiita Hezbollah, aliado do Hamas.

Israel também bombardeou uma posição do Exército sírio no sul do país, ao mesmo tempo em que foram ouvidas explosões nas Colinas de Golã, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos.