Há dias, o norte de Israel está cheio de soldados por todas as partes. Seja nos terraços dos bares, nas farmácias - para comprar curativos - ou nos pontos de ônibus, eles se preparam para uma eventual segunda frente contra o grupo libanês Hezbollah.
Desde 7 de outubro, quando o movimento islâmico palestino Hamas realizou um sangrento ataque a Israel, a troca de disparos entre o exército israelense e os combatentes do Hezbollah, grupo pró-Irã aliado do Hamas, aumentou no norte de Israel, perto da fronteira com o Líbano.
As autoridades tomaram nesta sexta-feira a atípica medida de evacuar Kiryat Shmona, uma cidade com cerca de 25.000 habitantes que faz fronteira com o território libanês. Muitos dos moradores já partiram.
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Na região, "a última casa está a 150 metros da fronteira, por isso temos um plano de evacuação, e quem ficou nervoso, foi embora", explica o chefe do conselho local do município de Shlomi, Yossef Luchy.
Ele afirma que 7.000 dos 9.000 moradores do município foram evacuados nos últimos dez dias.
Na segunda-feira, o Ministério da Defesa instou a evacuação de 28 povoados e kibutz situados a menos de dois quilômetros da linha azul, que separa Israel do Líbano.
No entanto, jornalistas da AFP observaram que até mesmo os habitantes das cidades mais afastadas decidiram deixar suas casas.
Cálculos do Israel Democracy Institute indicam que ao menos 300 mil pessoas foram evacuadas em Israel desde o começo da guerra. O gabinete utiliza dados do Escritório Central de Estatísticas de Israel.
"A maioria dos que ficaram aqui são veteranos do Exército, e estamos constantemente nos preparando; nós treinamos enquanto ficamos de olho nos abrigos", explica Luchy.
- "Prontos para lutar" -
Entre os 360.000 reservistas convocados por Israel, a grande maioria foi transportada para a fronteira - que possui cerca de 120 km de extensão.
Dois soldados morreram na terça-feira quando posições militares israelenses perto do Líbano foram atacadas, segundo o Exército.
No sul do Líbano, pelo menos 22 pessoas morreram violentamente desde o início da ofensiva, sobretudo combatentes, mas também quatro civis, inclusive um jornalista da agência Reuters, Issam Abdallah.
Em um ponto de ônibus do norte, sob anonimato, um dos reservistas se declarou "pronto para lutar" porque "os judeus não têm outro país".
Os poucos moradores que permaneceram em Kiryat Shmona não se sentem da mesma forma. A maior parte diz sentir medo quando ouvem as sirenes que alertam lançamentos de foguete.
Lianne Abutbul diz que o sistema antimísseis israelense, chamado "Iron Dome" (Domo de Ferro), interceptou foguetes na quarta-feira e que os destroços caíram a dois quarteirões de sua casa, "no pátio de uma escola".
"Isso poderia ter matado crianças, é realmente assustador", acrescentou, antes de classificar o exército de Israel como "poderoso". Dois de seus irmãos foram convocados pelo Exército e estão no terreno.
- Imitar foguetes -
A população da região ainda se lembra das guerras com o Líbano, em 2006 e 1982, e existem vários monumentos que as recordam.
Yaacov Kozikaro, de 72 anos, vive perto da fronteira desde 1961. Segundo ele, sabe imitar perfeitamente o barulho dos foguetes do tipo Katiusha, lançados pelo Hezbollah.
O homem, que não pretende ir para lugar nenhum, afirma tentar "levar as coisas com calma", apesar dos "maus vizinhos" de Israel. "Não é nem a primeira nem a última guerra", riu.
Na noite de quinta-feira, um dos foguetes disparados a partir do Líbano atingiu uma casa e feriu levemente dois homens e uma criança de 5 anos, informou o Exército.
Autoridades israelenses disseram que, desde o dia 7 de outubro, mais de 1.400 pessoas já morreram em ataques do Hamas em Israel - a maioria civis que foram baleados, queimados vivos ou mutilados naquele mesmo dia.
Na Faixa de Gaza, os repetidos bombardeios perpetrados como resposta do exército israelense já deixaram mais de 4.100 palestinos - maior parte civis - mortos, segundo o último relatório do Hamas.