Convocados pelo México, os presidentes se reunirão em Palenque, no estado de Chiapas (sul), porta de entrada para centenas de milhares de pessoas que se lançam à perigosa travessia para fugir da pobreza, que segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), atinge 32,3% dos latino-americanos.
Somente em 2023, 1,7 milhão de pessoas chegaram à fronteira com os Estados Unidos através do México, de acordo com o governo do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador. Muitos o fizeram após pagarem grandes somas a traficantes de pessoas, muitas vezes aliados a cartéis do narcotráfico. "Há muito dinheiro envolvido" no tráfico de pessoas", ressaltou à AFP uma fonte do governo americano.
"Precisamos concordar porque podemos fazer muitas coisas sozinhos. E também, se concordarmos, buscar a cooperação do governo dos Estados Unidos para ajudar", disse López Obrador.
O presidente do México confirmou a presença de seus pares de Colômbia, Gustavo Petro; Cuba, Miguel Díaz-Canel; Equador, Guillermo Lasso; Guatemala, Alejandro Giammattei; Honduras, Xiomara Castro, e Venezuela, Nicolás Maduro, que chegou a um acordo com os Estados Unidos sobre um programa de deportações em massa. O primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, também participará do encontro.
Desses países sai a maioria dos migrantes, muitos dos quais atravessam a selva de Darién, localizada entre Colômbia e Panamá.
- Enfoque regional -
A chanceler do México, Alicia Bárcena, explicou ao Congresso que o acordo de Palenque visa criar condições de bem-estar social que desestimulem a migração, além de abordar as sanções de Washington contra países como Venezuela e Cuba e "vias de mobilidade laboral" para os Estados Unidos.
O objetivo do México é tirar a pressão que recai sobre o país e dar um enfoque regional para o problema. "Será uma cúpula muito declarativa, mas, pelo menos, vemos o início de um diálogo com os países do sul", disse Dolores París Pombol, especialista do Colegio de la Frontera Norte, em Tijuana (noroeste).
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu hoje ao Congresso 13,6 bilhões de dólares para reforçar a fronteira com o México, gerir a imigração ilegal e lutar contra o fentanil. A crise migratória é um dos obstáculos no caminho do democrata para a reeleição em 2024.
Biden chegou a um acordo com Maduro para permitir que os Estados Unidos deportem venezuelanos em voos diretos e suspendam temporariamente as sanções econômicas.
Não importa quantos agentes da patrulha fronteiriça americana haja no rio Bravo se a situação no Haiti ou na Venezuela não mudar. "Não adiantará se não forem combatidas as causas da migração", advertiu a fonte da Casa Branca.
- 'Política incongruente' -
Em mensagem sobre a reunião de cúpula em Palenque, a Anistia Internacional pediu para se "garantir o direito de solicitar asilo e o princípio da não devolução", além do fim da estigmatização e discriminação dos migrantes.
"Os migrantes voltam a ser usados como moeda de troca, mas o problema é de tal magnitude que isso é mais um gesto político do que um passo real para uma solução", observou Dolores Pombol. Segundo a especialista, as medidas rígidas impostas pelo ex-presidente republicano Donald Trump foram seguidas por uma "política incongruente" de Biden.
"Dão certa prioridade a determinados países, mas, depois, fecham abruptamente a porta e mudam os programas, o que gera um efeito de 'chamada' que é aproveitado pelas redes de tráfico de pessoas", ressalta, em uma referência à regularização de milhares de haitianos, venezuelanos, cubanos e nicaraguenses.
Em setembro, o México aceitou receber os migrantes que a Patrulha Fronteiriça expulse pela ponte em Ciudad Juárez, que liga os dois países, para repatriá-los. Até então, essas pessoas permaneciam livres em território mexicano e tentavam repetidamente entrar nos Estados Unidos
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