Jornal Estado de Minas

FRANJA DE GAZA

ONU alerta que ajuda a Gaza pode ficar paralisada por falta de combustível

A agência da ONU para os refugiados palestinos pode ter que interromper as suas atividades nesta quarta-feira (25) devido à falta de combustível na Faixa de Gaza, sitiada e novamente bombardeada por Israel em resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro.



A ajuda internacional chega a conta-gotas em Gaza. É apenas "uma gota em um oceano de necessidades", alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na terça-feira, quando pediu um "cessar-fogo humanitário imediato", condenando as "claras violações do direito humanitário" em Gaza.

Seu apelo provocou a ira de Israel. "Senhor secretário-geral, em que mundo você vive?", perguntou o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen. "Certamente não é o nosso", acrescentou, ao mostrar fotos de ataques do Hamas contra civis.

A incursão do Hamas deixou mais de 1.400 mortos, a maioria deles civis, segundo as autoridades israelenses. Quase 220 reféns israelenses, estrangeiros ou com dupla nacionalidade, foram levados para Gaza. Quatro foram libertados.

De acordo com o Hamas, dentro da Faixa de Gaza, mais de 6.500 pessoas, a maioria civis, foram mortas em bombardeios incessantes de retaliação.

- Operações sem anestesia -

A ONU solicita combustível com urgência para alimentar os geradores dos hospitais. Seis estabelecimentos na Faixa de Gaza já tiveram que fechar por falta de combustível, segundo a Organização Mundial de Saúde.



Ahmad Abdul Hadi, cirurgião ortopédico do hospital Nasser, disse à AFP que teve que operar vários feridos sem anestesia. "Não há produtos anestésicos suficientes (...), os feridos estão sofrendo muito e não podemos esperar para operá-los", explicou.

Segundo Mohammed Abu Selmeya, diretor do hospital Shifa, "10 hospitais estão fora de serviço" e "mais de 90% dos medicamentos e produtos estão esgotados".

Mas para os Estados Unidos, um cessar-fogo "neste momento beneficiaria apenas o Hamas". Em vez disso, a Casa Branca sugeriu "pausas" para facilitar a entrega de ajuda humanitária.

A Faixa de Gaza, um território onde 2,4 milhões de pessoas vivem em superlotação, tem sido alvo de um bloqueio israelense por terra, mar e ar desde que o Hamas assumiu o poder, em 2007. Desde 9 de outubro, Israel cortou o abastecimento de água, energia elétrica e alimentos.

- "O tempo está se esgotando" -

Na terça-feira, um quarto comboio de oito caminhões de ajuda entrou em Gaza procedente do Egito, através da passagem fronteiriça de Rafah, mas seriam necessários pelo menos 100 veículos por dia, segundo a ONU.



"O tempo está se esgotando. Precisamos urgentemente de combustível", afirmou Juliette Touma, chefe da agência da ONU para os refugiados palestinos.

Mas Israel se recusa a permitir a entrada de combustível, alegando que isso beneficiaria o Hamas.

"Não, no momento não temos interesse em que a máquina militar do Hamas receba mais combustível e não autorizamos nenhum combustível", disse o conselheiro de Netanyahu, Mark Regev, à CNN.

Desde 15 de outubro, o Exército de Israel pede à população do norte da Faixa de Gaza, onde os bombardeios são mais intensos, que se retirem para o sul. Segundo a ONU, pelo menos 1,4 milhão de palestinos fugiram de suas casas.

"À meia-noite, enquanto dormíamos, sentimos pedras caindo sobre nós", disse Amin Abu Jazar, um refugiado em Rafah, nesta quarta-feira. "Onde estão as Nações Unidas e o mundo inteiro?".

- "Ataques em larga escala" -

Além disso, Israel concentra dezenas de milhares de soldados nos arredores de Gaza com o objetivo de "esmagar" o Hamas.



Mas uma ofensiva terrestre seria extremamente perigosa neste território densamente povoado, repleto de túneis e na presença de reféns. "Há muitos obstáculos", admitiu um soldado israelense de uma unidade de engenharia, que não revelou seu nome.

"O inimigo está nos bombardeando com foguetes e outras coisas que não posso detalhar, para nos impedir de avançar".

- Ataques contra a Síria -

O presidente francês, Emmanuel Macron, está no Cairo para se reunir com o presidente do Egito, depois de visitar Israel, os Territórios Palestinos e a Jordânia, em busca de retomar um "processo de paz" para a criação de um Estado palestino.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou que abandonou os planos de viajar para Israel e condenou a incapacidade do Ocidente de deter a guerra em Gaza.

Por outro lado, o Exército israelense anunciou nesta quarta-feira que atacou infraestruturas militares na Síria, em resposta aos disparos contra o seu território na terça-feira. Oito soldados sírios morreram, segundo a imprensa oficial síria.

As tensões também são muito fortes na Cisjordânia ocupada e na fronteira de Israel com o Líbano, onde ocorrem diariamente trocas de disparos entre o Exército israelense e o Hezbollah.

O líder do movimento pró-iraniano Hezbollah se reuniu com líderes do Hamas e da Jihad Islâmica para discutir formas de apoiar estes movimentos palestinos na sua guerra contra Israel, informou o grupo libanês nesta quarta-feira.