"Estou chocado com as deturpações de algumas das minhas declarações de ontem no Conselho de Segurança, como se estivesse justificando atos de terrorismo do Hamas", disse Guterres à imprensa.
"Ao iniciar minha observações ontem, disse claramente: 'condeno inequivocamente os atos de terrorismo horríveis e sem precedentes cometidos pelo Hamas em Israel em 7 de outubro. Não pode haver justificativa para matar, ferir e sequestrar deliberadamente civis nem para lançar foguetes contra alvos civis", declarou.
Após reafirmar que havia feito referência a "queixas do povo palestino", o secretário-geral da ONU insistiu, entretanto, em que estes apelos "não podem justificar os ataques atrozes do Hamas".
"Acho que era necessário deixar as coisas claras, especialmente para as vítimas e suas famílias", ressaltou ele que, um dia antes, também denunciou as "claras violações ao direito internacional humanitário" em Gaza, sem mencionar Israel.
Na terça-feira, representantes israelenses haviam expressado sua ira com os comentários de Guterres, sinalizando em particular para a parte de seu discurso em que ele disse que os ataques do Hamas "não vieram do nada".
"Senhor secretário-geral, em que mundo você vive?", questionou o ministro israelense das Relações Exteriores, Eli Cohen. "Sem dúvida alguma, não é o nosso" mundo, completou.
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, pediu rapidamente a demissão imediata de Guterres, acusando-o de "ser compreensivo com o terrorismo e com os assassinatos" do grupo islamita palestino.
Nesta quarta-feira, Erdan rejeitou as explicações de Guterres e voltou a defender sua exoneração.
"É uma vergonha para a ONU que o secretário-geral não se retrate de suas palavras nem sequer seja capaz de se desculpar pelo que disse ontem. [Ele] deve demitir-se", afirmou o embaixador israelense em um comunicado.
"Israel enviará uma mensagem clara à ONU e seus dirigentes de que não aceitaremos que essa organização continue mostrando parcialidade e ódio contra Israel", acrescentou.
O ataque lançado pelo Hamas em Israel em 7 de outubro e os bombardeios israelenses de represália na Faixa de Gaza deixaram mais de 1.400 mortos em Israel, segundo autoridades do país, e mais de 6.500 mortos em território palestino, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas. Em ambos os lados, a maioria das vítimas eram civis.
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