Patricia, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, disputado no domingo, anunciou que irá apoiar "a mudança" representada pelo ultradireitista Milei, com quem manteve duros embates na campanha presidencial.
"Temos diferenças com Milei, por isso competimos. No entanto, enfrentamos o dilema da mudança, ou da continuidade mafiosa. A maioria escolheu a mudança, nós a representamos", disse Patricia durante coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira. Ela liderou a coalizão de centro Juntos pela Mudança, movimento do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), adversário tradicional do peronismo.
O anúncio solitário de Patricia expôs as profundas diferenças dentro da coalizão. A ex-candidata, que obteve quase 24% dos votos (6,2 milhões) no primeiro turno, esclareceu que não falava em nome de sua formação, o Partido Proposta Republicana (PRO, direita), nem da Juntos pela Mudança, integrada também pelos social-democratas da União Cívica Radical e da Coalizão Cívica.
"Ratificamos nossa defesa até o fim dos valores de mudança e liberdade. A urgência do tempo nos pede para não sermos neutros diante da continuidade do kirchnerismo através de Massa", apontou a ex-candidata, após se reunir com Milei.
Massa é ministro da Economia do governo do presidente Alberto Fernández, cuja vice é a ex-presidente Cristina Kirchner. Milei, um economista de 53 anos que propõe o "anarco-capitalismo" e condena o que chama de "casta política ladra", era o favorito nas pesquisas.
Às vésperas da votação, se disse pronto para vencer a eleição no primeiro turno. Mas seu desempenho (30%), quase idêntico ao das primárias de agosto, o deixou em segundo lugar. Massa, ao contrário, cresceu 15 pontos em relação à sua votação nas primárias.
- 'Nem acordo, nem pacto' -
Ao lado de seu companheiro de chapa, o radical Luis Petri, a ex-candidata destacou que seu apoio a Milei não significa um pacto em um eventual governo.
"Demos por encerrados certos enfrentamentos. Nós não falamos sobre o governo. Não estamos em um acordo, nem em um pacto com Javier Milei. Falamos sobre nossa postura frente à sociedade que votou em nós e que quer nos ouvir", acrescentou.
Durante a campanha, Milei acusou Patricia de "pôr bombas em jardins de infância", durante sua militância na juventude peronista nos conturbados anos 1970. A ex-candidata o denunciou criminalmente por essas declarações.
Mas, em busca de apoio para o segundo turno, Milei propôs esta semana integrar Patricia em um hipotético governo seu. Também disse que ofereceria um cargo à Frente de Esquerda.
O analista político Sergio de Piero, da Universidade de Buenos Aires, avaliou que a posição de Patricia era "esperada, mas incompreensível".
"Confunde os eleitores de Patricia. Será preciso ver se aceitam votar em Milei. Mas, acima de tudo, desconcerta os próprios eleitores de Milei. É preciso ver se vão aceitar esta guinada. Agora, é outro Milei", declarou à AFP.
- 'Nenhum dos dois' -
A Juntos pela Mudança ainda não anunciou uma posição comum com vistas ao segundo turno das presidenciais, mas a União Cívica Radical decidiu não apoiar nenhum candidato. "Nenhum dos dois garante um futuro de progresso para a Argentina", manifestaram seus dirigentes.
Ao anoitecer, o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, que perdeu nas eleições primárias para Patricia Bullrich, expressou em entrevista coletiva sua rejeição aos dois candidatos do segundo turno: "Massa é a reeleição do populismo kirchnerista, do desastre deste governo, de continuar vivendo em um país tomado pela máfia. Já Milei é um novo populismo. Não acredito em nada do que propõe. São ideias ruins, perigosas."
A coalizão Juntos pela Mudança conta com nove dos 23 governadores, além do prefeito da cidade de Buenos Aires.
Nas eleições de domingo, nas quais também foi renovado parcialmente o Congresso, nenhuma força política obteve a maioria parlamentar. A Juntos pela Mudança ficou em segundo lugar, com 24 senadores e 93 deputados, atrás da governista União pela Pátria (peronismo de centro esquerda), com 72 senadores e 108 deputados.
A Liberdade Avança, de Milei, que tinha três deputados, eleitos há dois anos, agora tem um total de 38 representantes na Câmara baixa e oito assentos no Senado.