Uma multidão invadiu o aeroporto no domingo (29), em um momento de grande tensão provocada pelos bombardeios israelenses contra a Faixa de Gaza, em represália ao sangrento ataque do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro.
Os confrontos foram "o resultado de uma provocação planejada e dirigida do exterior", na qual Kiev desempenhou um papel "chave e direto", disse a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, em um comunicado divulgado nesta segunda.
A Rússia lançou uma ofensiva na Ucrânia em fevereiro de 2022. O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, já havia indicado que os acontecimentos foram "em grande parte resultado de ingerência externa", sem especificar a origem.
O porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, denunciou, nesta segunda-feira, uma "tentativa de responsabilizar" o seu país.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, de confissão judia, considerou, no dia anterior, que os incidentes mostravam a presença da "cultura russa de ódio contra as outras nações".
O presidente russo, Vladimir Putin, abordará "as tentativas ocidentais de usar os acontecimentos no Oriente Médio para dividir a sociedade russa", em uma reunião hoje à noite.
- Busca de passageiros -
"O que aconteceu foi uma tentativa de semear a discórdia entre muçulmanos e judeus na Rússia, que mantêm boas relações de amizade e cooperação durante séculos", declarou o patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa russa e um ferrenho defensor de Putin, também em uma nota.
Vídeos publicados nas redes sociais e por veículos da imprensa russa mostraram um grupo de pessoas inspecionando os veículos que deixavam o aeroporto, derrubando portas no terminal e cercando um avião na pista.
Um dos manifestantes levava um cartaz que dizia "os assassinos de crianças não têm lugar no Daguestão", de acordo com um dos vídeos.
O site Flightradar informou que um voo da companhia Red Wings procedente de Tel Aviv pousou em Makhachkala às 19h (13h de Brasília).
O site independente russo Sota informou que era um voo de trânsito, que decolaria em direção a Moscou duas horas mais tarde.
As autoridades locais não informaram até o momento se o voo e os passageiros conseguiram seguir a viagem.
Nesta segunda, um grande dispositivo de segurança cercava o aeroporto, enquanto os funcionários começavam a reparar as barreiras danificadas, conforme um jornalista da AFP presente no local.
O aeroporto sofreu "danos significativos", relatou seu diretor-geral, mas conseguiu reabrir na tarde de hoje, de acordo com a agência de aviação russa.
A polícia prendeu 60 pessoas, e mais de 150 "participantes ativos nos distúrbios" foram identificados, informou um comunicado do Ministério russo do Interior, acrescentando que nove policiais ficaram feridos e dois deles foram hospitalizados.
- 'Traidores' da Ucrânia -
Serguei Melikov, presidente do Daguestão, uma república do Cáucaso russo, afirmou nesta segunda-feira que os distúrbios foram organizados em território ucraniano, em pleno conflito armado entre Kiev e Moscou.
"Os iniciadores desta ação são evidentemente nossos inimigos, os que a organizaram no território ucraniano", disse Melikov, segundo a agência RIA Novosti.
Melikov acusou, em particular, um canal de Telegram crítico às autoridades locais, "Utro Daguestão", liderado por "traidores" da Ucrânia.
O canal, que tem quase 60.000 seguidores, divulgou uma convocação de protesto no aeroporto de Makhachkala no domingo à noite para impedir a chegada de passageiros "indesejáveis" no voo da Red Wings procedente de Tel Aviv.
Durante os incidentes, Israel pediu à Rússia para proteger "todos os cidadãos israelenses e todos os judeus". O governo dos Estados Unidos condenou as "manifestações antissemitas".
A agência de notícias RIA Novosti reportou no domingo que um centro judaico foi incendiado em Nalchik, a capital de Kabardia-Balkaria, outra república do Cáucaso Norte.