Em viagem à região montanhosa do Everest, no Nepal, Guterres manifestou preocupação com "a intensificação do conflito entre Israel e o Hamas e outros grupos armados palestinos em Gaza", com consequências para a população civil.
"Isso inclui a expansão das operações terrestres das forças militares israelenses, acompanhadas de ataques aéreos intensos, assim como o lançamento contínuo de foguetes a partir de Gaza em direção a Israel", assegurou o chefe das Nações Unidas.
Da tribuna do Conselho de Segurança, do qual participou para falar sobre a crise dos refugiados no mundo, Fillippo Grandi, pediu um "cessar-fogo humanitário" para que a ajuda possa entrar na Faixa de Gaza, bloqueada por Israel desde os ataques executados pelo movimento islamita palestino Hamas em 7 de outubro em território israelense.
"Um cessar-fogo humanitário pode pelo menos parar esta espiral de morte", disse, antes de implorar aos 15 membros do Conselho que "superem suas divisões e exerçam sua autoridade fazendo este apelo ante sua incapacidade de aprovar nenhuma das quatro resoluções apresentadas em menos de duas semanas.
"As decisões que vocês tomam ou deixam de tomar marcarão todos nós, e as gerações futuras", advertiu.
"O desprezo pelas regras básicas da guerra - o direito humanitário internacional - está se tornando cada vez mais a norma e não a exceção", denunciou, ao se referir tanto aos "ataques" contra civis israelenses do Hamas quanto ao "massacre de civis palestinos e à destruição maciça de infraestruturas, causados pela atual operação militar israelense".
Mauro Vieira, chanceler do Brasil, que presidiu o Conselho de Segurança em outubro, comprometeu-se a continuar as conversas com os demais membros "para atingir um acordo em torno da situação urgente e grave no Oriente Médio", ao fazer um balanço do mês.
- 'Sem solução justa não haverá paz' -
Aos 1.400 mortos do Hamas em Israel se somam os mais de 8.500 palestinos - 70% de crianças e mulheres - que perderam a vida na Faixa de Gaza na resposta militar israelense, segundo dados das autoridades locais.
"A prioridade é, naturalmente, permitir a entrada de mais mantimentos em Gaza para ajudar a população (...) antes que a crise humanitária se torne insustentável", disse.
Ao ser questionado, após o fim de sua intervenção no Conselho de Segurança, sobre as razões pelas quais os palestinos não fogem para o Egito, Grandi respondeu: "Os palestinos não querem sair de Gaza. Querem que a ajuda chegue a Gaza, e essa deveria ser a prioridade."
"Não haverá paz na região, nem no mundo, sem uma solução justa para o conflito israelense-palestino, que inclua o fim da ocupação israelense", afirmou, fazendo uma advertência que tem se repetido nas últimas semanas.
Tanto para Guterres quanto para Grandi, o risco é de que o conflito ultrapasse as fronteiras de Gaza. Este último mencionou outros conflitos, como os da Ucrânia, do Sudão, do Sahel, da República Democrática do Congo e da Armênia, entre outros.
Grandi também citou a América Central, onde "as crises não resolvidas são agravadas pelo crime, inclusive por gangues que causam deslocamentos". Esses conflitos, lembrou, fizeram com que haja mais de 114 milhões de refugiados e deslocados no mundo, contra 108 milhões no fim do ano passado.
Cada nova crise "parece empurrar as anteriores para um esquecimento perigoso. Mas elas permanecem conosco", ressaltou Grandi.
NOVA YORK