Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, o bombardeio contra o campo de refugiados de Jabaliya, no norte do território palestino, deixou "mais de 50" mortos.
Um vídeo feito pela AFP mostra pelo menos 47 corpos cobertos por panos brancos no chão do pátio de um hospital, depois que foram retirados dos escombros. Foi "como um terremoto", contou Ragheb Aqal, morador do campo de Jabaliya, de 41 anos.
Horas depois, o Exército de Israel confirmou o bombardeio, que cumpriu seu objetivo de matar Ibrahim Biari, comandante do Hamas envolvido no ataque de 7 de outubro em território israelense.
O porta-voz do Exército israelense, Jonathan Conricus, disse que Biari encontrava-se "em um vasto complexo de túneis subterrâneos, de onde comandava as operações".
"Atacamos esse complexo e estimamos que dezenas de combatentes do Hamas estavam com ele e também morreram quando o complexo subterrâneo foi destruído", explicou.
Durante o dia, as forças israelenses travaram "duros combates com os terroristas do Hamas no interior da Faixa de Gaza", informou o Exército, assegurando que dezenas de combatentes palestinos foram mortos nas últimas horas.
Dois soldados israelenses morreram nas operações no norte do território palestino, segundo o Exército, em seu primeiro balanço de baixas desde o início da campanha de represálias.
Anteriormente, Israel havia indicado que tinha atingido 300 alvos na quarta noite de incursões terrestres em Gaza. Os soldados israelenses se depararam com tiros antitanque e disparos dos combatentes do Hamas, que governa o território de 362km² desde 2007.
As brigadas Ezzedin al-Qassam, o braço armado do Hamas, assinalaram que Gaza se tornou um "cemitério" para os soldados israelenses e prometeram impor ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, um revés que "marcará o fim de sua carreira política".
Desde 7 de outubro, os bombardeios israelenses causaram pelo menos 8.525 mortes em Gaza, 3.450 delas crianças, segundo as autoridades do Hamas.
- 'Cemitério de milhares de crianças' -
Netanyahu ignorou as pressões internacionais para um cessar-fogo e, na segunda-feira, afirmou que isso equivaleria a uma "rendição", após ter prometido "aniquilar" o movimento islamista palestino.
As brigadas Ezzedin al-Qassam afirmaram que vão libertar "nos próximos dias" alguns dos reféns estrangeiros.
As agências humanitárias da ONU afirmam que o tempo está se esgotando para muitos dos 2,4 milhões de habitantes desse território palestino que está sob cerco total, sem acesso a água, comida, combustível e medicamentos.
Gaza tornou-se um "cemitério de milhares de crianças", disse o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), James Elder.
A ONG Médicos do Mundo denunciou que os cirurgiões da Faixa têm que "operar no chão" e realizar cesáreas e amputações "sem anestesia" por falta de material.
Israel acusa o Hamas de usar os hospitais como quartéis e os civis como "escudos humanos", algo que o movimento islamista nega.
O Egito anunciou que, na quarta-feira, receberá 81 feridos de Gaza pela passagem de Rafah, ao sul do território, pela qual puderam entrar alguns caminhões de ajuda humanitária nos últimos dias.
Segundo o Cogat, o órgão do Ministério da Defesa israelense que supervisiona as atividades civis nos territórios palestinos, 70 caminhões de ajuda entraram em Gaza nesta terça-feira.
- 'Espiral da morte' -
O secretário-geral da ONU, António Guterres, e o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, ergueram suas vozes para pedir a suspensão da "espiral da morte" em Gaza com um "cessar-fogo humanitário".
"Um cessar-fogo humanitário pode pelo menos parar esta espiral de morte", disse antes de implorar aos 15 membros do Conselho que "superem suas divisões e exerçam sua autoridade" impondo essa medida.
Guterres manifestou-se "profundamente preocupado" com a "intensificação do conflito e advertiu do risco de uma "perigosa escalada para além de Gaza".
O Catar, país árabe que mantém contatos diplomáticos com Israel, denunciou o bombardeio do campo de refugiados como um "massacre" e advertiu que a extensão dos bombardeios israelenses podem "minar os esforços de mediação e de desescalada".
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, iniciará na sexta-feira uma viagem a Israel e outros países da região, informou o Departamento de Estado.
A Bolívia anunciou o rompimento de suas relações diplomáticas com Israel, em repúdio e em condenação à agressiva e desproporcional ofensiva militar israelense realizada na Faixa de Gaza.
A guerra também aumentou as tensões na Cisjordânia ocupada, onde mais de 120 palestinos morreram desde 7 de outubro por tiros de soldados ou de colonos israelenses, segundo o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina, que administra esse território.
O Exército israelense bombardeou a Síria e, na fronteira com o Líbano, multiplicaram-se os enfrentamentos com o grupo Hezbollah.
Os rebeldes houthis, do Iêmen, reivindicaram um ataque com drones contra Israel e o Exército israelense afirmou que interceptou um míssil lançado a partir da região do Mar Vermelho.