Com uma inflação de três dígitos e no meio da pior crise econômica em duas décadas, 55,9% dos argentinos preferiram a plataforma de mudança do candidato antissistema Milei, contra 44% que votaram em Massa, segundo os resultados oficiais parciais.
"Os resultados não são o que esperávamos. Me comuniquei com Javier Milei para parabenizá-lo e desejar-lhe sorte porque é o presidente que a maioria dos argentinos elegeu para os próximos quatro anos", disse Massa em discurso aos militantes em seu comitê de campanha.
"A partir de amanhã [segunda-feira], a responsabilidade de dar certezas é do novo presidente eleito e esperamos que assim o seja", disse Massa.
O peronista acrescentou que serão iniciados "mecanismos de transição democráticos, para que os argentinos nos próximos 19 dias não tenham nem dúvidas nem incertezas a respeito do normal funcionamento econômico, social, político e institucional".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desejou "boa sorte e êxito" ao novo governo argentino, em mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter), sem mencionar o presidente eleito.
"Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos", escreveu Lula.
O comando de campanha de Milei em Buenos Aires ficou lotado de seguidores que cantavam seu lema, "a casta tem medo", em alusão à classe política, e também "Argentina sem Cristina", em referência à vice-presidente Cristina Kirchner, e "que saiam todos, que não fique nenhum".
A posse de Milei, um economista de 53 anos, será em 10 de dezembro, para um mandato de quatro anos.
O índice de participação no pleito foi de 76% em um universo de 35,8 milhões de eleitores.
- 'Esperando os golpes' -
Com uma inflação de 143% em termos anuais e a pobreza que afeta 40% da população, a Argentina enfrenta a pior conjuntura econômica nas últimas duas décadas.
"Independentemente do que aconteça, não vemos um bom futuro. Estamos esperando os golpes. Não acontece como nas outras eleições, em que votei com convicção, agora voto sem convicção", disse à AFP Mariano Delfino, eleitor de 36 anos, na periferia de Buenos Aires.
Para recuperar a terceira maior economia da América Latina, Milei propõe medidas drásticas como a dolarização e o fechamento do Banco Central, para acabar com a inflação e a emissão de moeda.
"As medidas de Milei seriam todas rápidas e simultâneas", prevê o economista Víctor Beker, da Universidade de Belgrano, que destacou que o libertário vai aproveitar tanto a lua de mel com o eleitorado como o período de recesso do Parlamento pela temporada de verão.
A Argentina tem um acordo de crédito desde 2018 com o Fundo Monetário Internacional (FMI) de 44 bilhões de dólares (quase 215 bilhões de reais na cotação atual), negociado pelo então presidente Macri, e aplica desde 2019 um sistema de controle cambial.
Esse acordo contempla um compromisso de reduzir o déficit fiscal para 0,9% do PIB em 2024, o que Milei considera insuficiente.
Contudo, "cortar o gasto social é complicado, porque tem impacto sobre a pobreza", alertou a economista María Laura Alzua, da Universidade de La Plata, que calcula que os subsídios para os serviços de energia elétrica, gás e transportes representam 2% do PIB.
BUENOS AIRES