"Acredito que a procuradora da nação deve responder a toda esta investigação que nos causou surpresa há alguns dias. Ela perdeu a objetividade para que possa continuar no cargo", disse Boluarte em um curto pronunciamento à imprensa sobre o conflito interno no Ministério Público.
A presidente peruana evitou se aprofundar sobre a denúncia que a procuradora apresentou ao Congresso na segunda-feira, na qual acusa a chefe de Estado do suposto crime de homicídio, como responsável pela repressão aos protestos contrários a seu governo, que deixou mais de 50 mortes, após sua chegada ao poder há um ano.
Até agora, a procuradora era vista como uma aliada da coalizão conservadora do Executivo e do Congresso.
O escândalo no Ministério Público fez com que o Conselho Nacional de Justiça, que nomeou Benavides em 2022, avaliasse medidas disciplinares contra a procuradora, que podem acarretar uma suspensão e até mesmo o afastamento do cargo.
A denúncia contra Boluarte foi apresentada após Benavides ser acusada por outra procuradora de liderar uma suposta rede criminosa instalada na cúpula do MP, de onde supostamente exerceu tráfico de influência com o Congresso e troca de favores políticos.
A chefe do MP disse que não vai renunciar ao cargo, enquanto algumas vozes no Congresso se levantam em sua defesa e afirmam que se trata de um complô para atrapalhar investigações.
A acusação contra Boluarte, que pode levar ao impeachment da presidente, ainda deve levar algumas semanas para ser admitida, mas também pode ser usada como elemento de pressão em uma disputa entre governo e Congresso.
Boluarte mencionou na segunda-feira a possibilidade de a denúncia ter sido apresentada como uma cortina de fumaça para encobrir o escândalo na cúpula do MP.
"Causa estranheza que tal denúncia foi apresentada depois que a população em todo o país tomou conhecimento das diligências e prisões envolvendo a equipe da procuradora da nação por supostos atos de corrupção", disse a presidente na segunda.
Boluarte assumiu o poder em dezembro do ano passado, após a destituição de Pedro Castillo por sua tentativa de dissolver o Congresso e governar por decreto.
Sua ascensão ao poder foi recebida com manifestações contrárias que duraram até março deste ano e resultaram na morte de 54 pessoas, incluídos seis soldados.
De acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), cerca de 20 pessoas morreram por tiros disparados pelas forças militares enviadas para controlar as manifestações.
LIMA