Até o momento, o Executivo só resolveu restrições operacionais que vão afetar o mercado cambiário nesta segunda-feira. Mas a frase categórica de Milei durante seu discurso de posse, no domingo, destacando que "não há alternativa ao ajuste" do gasto público, mantém a população na expectativa.
O "choque" é iminente. Milei tem dito e repetido que o corte dos gastos públicos será equivalente a 5% do Produto Interno Bruto (PIB), embora não tenha dado detalhes sobre como fará esta redução e que setores serão os mais afetados.
Por enquanto, reduziu o número de ministérios de 18 para nove.
Na terça-feira, seu ministro da Economia, Luis Caputo, fará os primeiros anúncios concretos.
Caputo "se alinhará a um forte corte fiscal, com alguma expansão nas receitas sociais", antecipou o porta-voz do governo, Manuel Adorni, acrescentando que o reordenamento das finanças públicas é "a prioridade" para uma gestão que "vai respeitar rigorosamente o equilíbrio fiscal".
Muitas das medidas que Milei esboçou durante sua campanha, como a dolarização da economia ou o desmantelamento do Banco Central, estiveram ausentes de seu primeiro discurso no domingo. De qualquer forma, em minoria no Congresso, acredita-se que no primeiro pacote de anúncios se concentre em decisões que podem ser adotadas diretamente pelo Executivo sem a necessidade de anuência parlamentar.
- Não há discussão -
O recém-empossado presidente não deixou espaço para dúvidas de que o corte de gastos começará imediatamente em um contexto de crise que não pode esperar.
Não "há lugar para a discussão entre o choque e o gradualismo", disse no domingo a simpatizantes reunidos em frente ao Congresso da Nação. "Para fazer gradualismo, é necessário que haja financiamento. E infelizmente, tenho que dizer-lhes de novo: não há dinheiro", enfatizou.
Algumas linhas de ação do governo foram antecipadas pelo próprio Milei.
À profunda redução do gasto do Estado federal se somarão privatizações de empresas públicas, como a petroleira YPF, para obter recursos para equilibrar as contas públicas em um país eternamente deficitário.
Milei ordenou revisar também os contratos no setor público, que na Argentina representam mais de 18% do emprego total, um dos percentuais mais altos da América Latina, com 3,4 milhões de pessoas que trabalham para o Estado.
"É preciso valorizar o funcionário público. A maioria das pessoas que trabalha para o Estado é válida e necessária. O que vamos combater é o emprego militante, o emprego que existe por uma questão política e que não aporta nada", explicou nesta segunda-feira seu porta-voz, Adorni.
"Serão revistas cada uma das contratações em virtude de encontrar contratações irregulares", afirmou. "Cada um dos contratos será revisto", explicou, diante do receio de demissões em massa.
A vice-presidente Victoria Villarruel disse à imprensa que a primeira reunião de gabinete "não foi simplesmente protocolar" pois foram tratados "diferentes temas, que vão informar os ministros de cada área".
- Expectativa por causa do dólar -
Uma eventual desvalorização do peso argentino - amplamente prevista por alguns economias - é motivo central da apreensão dos argentinos.
Na Argentina, país que apostou no controle cambial para gerenciar a constante escassez de divisas, a cotação do dólar, o refúgio por excelência para a poupança, é um parâmetro acompanhado no dia a dia, assim como a previsão do tempo.
Nesta segunda, o Banco Central, cujo presidente ainda não assumiu, anunciou que o mercado de câmbio vai funcionar com a "regra da conformidade prévia a todas as operações de demanda", isto é, com um mecanismo de operações autorizadas, o que torna o dia em um feriado bancário virtual.
A cotação oficial do dólar, que sobe um pouco a cada dia, será conhecida neste primeiro dia do governo de Milei no fechamento do mercado.
Mas, em um dia atípico após a medida do BC, às 14h15, o dólar oficial era cotado em alta de 459,49 pesos. Enquanto isso, o dólar "blue" ou paralelo registrava leve queda, a 980 pesos.
Na 'calle Florida', epicentro do câmbio informal em Buenos Aires, o dólar era vendido a 990 pesos, sem saltos bruscos. Uma dezena de "arbolitos" (arvorezinhas), como são chamados popularmente os cambistas, negociavam normalmente.
BUENOS AIRES