Jornal Estado de Minas

FATALIDADE

Nova morte de médico por COVID-19 em Wuhan causa indignação na China


Imagens do médico com o rosto mais escuro divulgadas em abril chamaram atenção da opinião pública chinesa (foto: BTV)

A morte de um médico que estava na linha de frente contra a COVID-19 na China provocou uma reação contra a forma como as autoridades locais têm conduzido a resposta à pandemia no país.



Hu Weifeng morreu nesta terça-feira (02/06), depois de lutar por quatro meses contra a doença causada pelo novo coronavírus.

Seu caso ganhou as manchetes na imprensa local em março, quando foram divulgadas imagens do médico internado e com a pele escurecida por problemas que vinha apresentando no fígado.

A causa exata da morte não foi divulgada - segundo o jornal Global Times, controlado pelo governo, sua situação era grave e ele vinha apresentando quadro de "instabilidade emocional".

A notícia causou uma onda de indignação nas redes sociais chinesas.

Quem era Hu Weifeng?

O urologista Hu Weifeng tratava pacientes no Hospital Central de Wuhan - onde a COVID-19 foi identificada pela primeira vez.

Ele testou positivo para o novo coronavírus em janeiro, ainda no início do surto na China, e foi transferido para diferentes hospitais para receber tratamento nos dois meses seguintes.



Sua saúde chegou a melhorar em meados de março. No fim de abril e em maio, entretanto, ele sofreu hemorragias cerebrais.

Hu e o colega Yi Fan, cardiologista, ficaram nacionalmente conhecidos em abril, depois de a imprensa oficial chinesa publicar sobre sua "dura batalha contra o vírus".


Li morreu em fevereiro e gerou onda de indignação na China (foto: Dr Li Wenliang)

Usuários do microblog Sina Weibo, semelhante ao Twitter, comentaram na época sobre como a coloração do rosto de ambos os médicos havia mudado e estava bastante escura - o que a imprensa oficial atribuiu a "possível anormalidade nas funções hepáticas".

O quadro grave dos dois sensibilizou a opinião pública chinesa. A Liga da Juventude Comunista passou a chamá-los de "anjos que lutaram contra a morte".

Nas redes sociais, os chineses comentaram sobre como a pele dos profissionais da saúde tinha se tornado uma espécie de "cicatriz" com a qual ambos teriam de conviver depois de lutar na linha de frente contra a pandemia.



Segundo o jornal China Daily, Yi recebeu alta no dia 6 de maio - mas Hu não conseguiu se recuperar.

No epicentro da pandemia na China

De acordo com a imprensa local, Hu trabalhava no mesmo hospital que Li Wenliang, médico que tentou alertar sobre o surto de coronavírus na região de Wuhan ainda em dezembro de 2019.

Sua morte, em fevereiro, provocou uma onda de indignação na China, diante das notícias de que as autoridades locais teriam tentado silenciá-lo quando ele tentou chamar atenção para um potencial novo vírus que estaria circulando no país.

Não se sabe se os dois se conheciam, já que trabalhavam em departamentos diferentes - e o Hospital Central de Wuhan conta com 4,2 mil funcionários.

Também não se sabe se um poderia ter sido contaminado pelo outro. Ambos foram infectados em meados de janeiro, mas, segundo o jornal Global Times, 68 funcionários do estabelecimento contraíram a COVID-19 e outros 200 estão sob observação.



A reação popular à morte de Hu, contudo, tem sido semelhante à de Li Wenliang.

Há dezenas de milhares de manifestações na rede social Sina Weibo. Alguns têm postado emojis de velas, um costume local que denota respeito à pessoa que morreu, outros questionam as causas de sua morte e cobram a saída de diretores do hospital.

"Quando dirigentes do Hospital Central de Wuhan serão responsabilizados?", questiona um usuário. "Esse é o quinto profissional de saúde do Hospital Central de Wuhan que morre por causa do novo coronavírus", escreve outro.

O jornal Epoch Times, cujo acesso é bloqueado na China, afirma que membros do alto escalão do hospital "reprimiram vigorosamente os primeiros avisos (em relação à COVID-19) feitos à equipe médica, forçando-a a se expor a um número elevado de pacientes contaminados com o novo coronavírus sem a devida proteção".




Alguns usuários da Weibo têm mencionado a suposta "instabilidade emocional" de Hu, questionando como os diretores do hospital têm se sentido.

Preocupação com a transparência

Parte dos internautas também questiona a transparência dos dados divulgados pelo estabelecimento. "Os pacientes em Wuhan não haviam sido liberados muito tempo atrás?", pergunta um usuário.

O fato levantou dúvidas sobre a possibilidade de que ainda haja pacientes sendo tratados por problemas causados pela COVID-19, mas que tenham testado negativo recentemente.

No dia 27 de abril, a Comissão Nacional de Saúde afirmou que os hospitais de Wuhan já haviam dado alta a todos os pacientes com o novo coronavírus.

Na época, ainda havia mais de 50 mil casos de COVID-19 confirmados na região - e o Hospital Central de Wuhan era um dos locais que concentravam maior número de pacientes.

A agência de notícias estatal Xinhua afirma que "o número de mortes e a taxa de infecção ali eram as maiores entre todos os hospitais em Wuhan" durante o surto.


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