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Estado de Minas PANDEMIA

'Prefiro a vida da minha mãe que um trabalho': os brasileiros que abriram mão do emprego por medo da COVID-19

Quantidade de brasileiros que não estavam trabalhando nem procurando por trabalho é de 76,8 milhões, segundo IBGE


29/07/2020 05:35 - atualizado 29/07/2020 08:53

Jessica Tomaz, de 25 anos, decidiu deixar o trabalho pela saúde da mãe, Maria do Socorro, que é hipertensa.(foto: Arquivo pessoal)
Jessica Tomaz, de 25 anos, decidiu deixar o trabalho pela saúde da mãe, Maria do Socorro, que é hipertensa. (foto: Arquivo pessoal)

O trabalho como agente de portaria em um condomínio de prédios residenciais se tornou um risco grande demais para Jessica Tomaz, de 25 anos.

A possível exposição ao coronavírus, diz ela, não estava apenas no contato com quem passava pela portaria, mas também no trajeto que ela precisava fazer. Eram dois ônibus lotados e um metrô para chegar ao trabalho em Águas Claras, no Distrito Federal.

E o medo de ter COVID-19 não era por ela, mas pela mãe, Maria do Socorro, de 66 anos, que tem hipertensão. Foi por isso que, em março, no início da pandemia, ela pediu demissão.

"Fiquei com medo por conta de minha mãe, que é do grupo de risco. Entre a vida dela e o trabalho, prefiro a vida dela. Um emprego eu posso conseguir depois", disse à BBC News Brasil.

Quatro meses depois de ter deixado o trabalho, o que pesa é o lado financeiro — "tá bem complicado", diz.

Mesmo sem conseguir receber o auxílio emergencial por ainda constar como empregada no sistema do governo, Jessica continua segura da decisão e diz que, no atual cenário, não pensa em procurar outro trabalho.

"Só saio para o necessário mesmo, e até isso é perigoso — banco ou mercado — porque tem contato muito grande", diz. "Mas a primeira coisa que vou fazer quando essa vacina sair é ir atrás de um emprego."

Por enquanto, ela afirma que está apertando as contas e que a família tem contado com a aposentadoria da mãe e a ajuda de uma ex-patroa da mãe.

Fora da força de trabalho

Nas estatísticas de emprego, as pessoas que não estão trabalhando e que também não estão procurando um emprego são classificadas como fora da força de trabalho. Houve um aumento de 9 milhões de brasileiros nessa situação na comparação de março a maio deste ano com o trimestre anterior.

A população fora da força de trabalho totalizava 76,8 milhões de pessoas no início de julho, segundo o dado mais recente da pesquisa Pnad Covid, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Desse total, mais de 28 milhões disseram que gostariam de trabalhar. Segundo o IBGE, "cerca de 19,4 milhões de pessoas fora da força que gostariam de trabalhar e não procuraram trabalho, não o fizeram por causa da pandemia ou por não encontrarem uma ocupação na localidade em que moravam".


A taxa desemprego ficou em 12,9% no trimestre encerrado em maio, 1,2 ponto percentual acima da taxa de 11,6% registrada no trimestre de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020.(foto: Getty)
A taxa desemprego ficou em 12,9% no trimestre encerrado em maio, 1,2 ponto percentual acima da taxa de 11,6% registrada no trimestre de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020. (foto: Getty)

E por que o desemprego não cresceu muito?

Quem está numa situação parecida com a de Jessica não é considerado desempregado exatamente porque não está em busca de um emprego.

Para ser enquadrado como desempregada, a pessoa precisa estar desocupada e procurando ativamente um trabalho.

É exatamente por isso, segundo especialistas, que a taxa de desemprego não aumentou tanto durante a pandemia.

"Passamos por um período atípico que acabou fazendo com que a estatística da taxa de desemprego perdesse um pouco da função de captar quanto o mercado de trabalho está sendo afetado por uma crise ou não", disse economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do Ibre/FGV. "O que observamos foi muita perda de emprego, mas aumento tímido do desemprego."

No trimestre que vai de março a maio, a taxa desemprego ficou em 12,9%, ou 1,2 ponto percentual acima da taxa de 11,6% registrada no trimestre de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020.

O IBGE informaria a taxa de desemprego do segundo trimestre de 2020 nesta quarta-feira (29), mas adiou a divulgação da pesquisa, que vem sendo feita por telefone, para 6 de agosto.

Bruno Ottoni projeta que essa taxa de desemprego do segundo trimestre vai subir para 13,7%. Ele acredita que, com medidas de isolamento sendo relaxadas em diferentes regiões do país, muitas pessoas que estavam desocupadas e sem procurar emprego vão passar a procurar emprego.

"Mas achamos que a taxa de desemprego também não vai subir muito mais que isso porque ainda vai ter gente que não vai procurar — como pessoas mais velhas e com comorbidades, que podem preferir esperar —, e algumas pessoas também vão conseguir emprego, com reabertura do comércio."

Propostas recusadas

A biomédica Fernanda Oliveira, de 30 anos, não faz planos de voltar ao trabalho em laboratórios antes de uma vacina contra a COVID-19.

Em março, quando o coronavírus começou a se espalhar com mais força no Brasil, ela trabalhava como coordenadora em um laboratório de análises clínicas em Brasília.

"Já naquela época, de cinco em cinco minutos entrava paciente perguntando se a gente fazia exame para detectar o coronavírus."

Foi quando o médico dela orientou que se afastasse do trabalho, por fazer parte do grupo de risco. Ela fez uma cirurgia para retirar o baço (que integra o sistema imunológico) aos 14 anos e tem infecções respiratórias de repetição.

Nesse contexto, Fernanda Oliveira foi demitida do trabalho. E diz que, se não tivesse sido demitida, teria ela mesma pedido demissão.

A maior preocupação: o filho, Rafael, de 2 anos.

"Claro que eu não queria precisar sair, mas também não queria correr o risco de pegar coronavírus, trazer para a minha casa, precisar de outras pessoas para ficar com meu filho", diz. "Hoje eu me sinto em uma sinuca de bico, porque é complicado financeiramente. Mas é melhor ficar em casa e sem emprego do que no hospital."

O marido, fisioterapeuta, continuou a trabalhar, com todos os cuidados possíveis, ela diz.

"Está difícil porque saímos de uma renda mensal confortável para um cenário de não saber quando vamos voltar a isso, mas eu me sinto muito privilegiada, porque ainda temos nossas famílias, que podem ajudar."

Fernanda diz que não imaginava que haveria propostas de emprego no meio da pandemia, mas já apareceram duas oportunidades.

"Só vou ter coragem de voltar com a cabeça tranquila quando tiver vacina", diz. "Eu trabalhava pensando que quero dar para o meu filho as oportunidades que eu tive. E agora tive que abrir mão do trabalho também pensando no meu filho. Não quero correr o risco de faltar para ele."


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O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 

Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

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