Stella Immanuel, médica no centro de um vídeo que viralizou nesta semana e depois foi retirado do Facebook e do Twitter, em que um grupo de médicos defende o uso de hidroxicloroquina como tratamento para covid-19, não é estranha às teorias da conspiração.
O Facebook e o Twitter retiraram o vídeo na terça-feira (28/7), uma live de cerca 45 minutos gravada nas escadarias em frente à Suprema Corte dos EUA em Washington, dizendo que viola suas políticas sobre desinformação mas não antes de ser retuitado por Donald Trump e um de seus filhos.
O presidente dos Estados Unidos se defendeu, dizendo que considerou Immanuel, que nasceu nos Camarões e vive na cidade texana de Houston, "muito impressionante".
"Ela disse que teve um tremendo sucesso com centenas de pacientes diferentes, pensei que sua voz era uma voz importante, mas não sei nada sobre ela", disse ele na terça-feira (28).
No vídeo, juntamente com outros médicos de um grupo chamado America's Frontline Doctors (Médicos da Linha da Frente dos Estados Unidos, em tradução livre), Immanuel, que também é pastora cristã, disse que os americanos estavam negando uma cura potencial para a covid-19.
O vídeo foi publicado pela primeira vez pelo site de direita Breitbart, na segunda-feira (27), onde teve milhões de visualizações e centenas de milhares de compartilhamentos.
"Ninguém precisa ficar doente. Este vírus tem uma cura é chamada hidroxicloroquina, tratei mais de 350 pacientes e não tive uma morte", disse Immanuel.
Apesar de alguns estudos iniciais terem aumentado esperanças de que o medicamento pudesse ser usado para curar o coronavírus, um estudo subsequente em larga escala mostrou que não é eficaz como tratamento.
O que sabemos sobre a hidroxicloroquina?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) interrompeu seus testes, dizendo que não reduz as taxas de mortalidade em pacientes com coronavírus.
No mês passado, a Food and Drugs Administration (FDA), a agência de vigilância sanitária americana, alertou contra o uso da droga no tratamento de infectados, após relatos de "graves problemas de ritmo cardíaco" e outros problemas de saúde.
E Anthony Fauci, um dos principais membros da força-tarefa contra a covid-19 na Casa Branca, reiterou essas opiniões.
"Sabemos que todo bom estudo e por bom estudo, quero dizer estudo aleatório de controle no qual os dados são firmes e confiáveis mostrou que a hidroxicloroquina não é eficaz no tratamento para a covid-19", disse ele à BBC na quarta-feira (29 de julho).
Mas Immanuel reiterou que hidroxicloroquina não é prejudicial porque é amplamente utilizada em seu país natal, Camarões, onde a malária é endêmica.
Bruxas e demônios
Nascida em 1965, Immanuel se formou em medicina pela Universidade de Calabar, na vizinha Nigéria e possui uma licença médica válida, de acordo com o site do Texas Medical Board, a associação médica desse Estado americano.
Ela também é pastora e fundadora do Fire Power Ministries em Houston, uma plataforma que usou para promover conspirações ligadas à medicina.
Seus sermões estão disponíveis em uma conta do YouTube criada em 2009.
Há cinco anos, ela alegou que DNA alienígena estava sendo usado em tratamentos médicos e que os cientistas estavam preparando uma vacina para impedir que as pessoas fossem religiosas.
Algumas de suas outras alegações incluem culpar bruxas e demônios pelo surgimento de doenças uma crença bastante comum entre alguns cristãos evangélicos embora ela diga que eles fazem sexo com pessoas em um mundo de sonhos.
"Eles se transformam em uma mulher e depois dormem com o homem e coletam seu espermatozoide ... depois se transformam em homem e dormem com um homem, depositam o esperma e se reproduzem mais", disse ela durante um sermão em 2013.
Immanuel também é ferozmente contra o casamento gay, que, segundo ela, pode resultar em adultos se casando com crianças, de acordo com o site Daily Beast.
Ela também oferece uma oração para remover uma maldição geracional, originalmente recebida de um ancestral, mas transmitida através da placenta, diz o perfil dela no site de notícias.
'Jesus vai fechar o Facebook'
Em seu último vídeo postado no Twitter na última terça-feira (28), ela pede a pacientes que ela teria curado de covid-19 para virem a público.
"Se você não se manifestar, estamos sendo prejudicados", diz ela, incentivando-os a usar uma hashtag ao publicar suas mensagens em vídeo.
Seu tuíte já foi compartilhado mais de 27 mil vezes.
Depois que o Facebook tirou o vídeo dos America's Frontline Doctors na terça-feira, ela declarou que Jesus Cristo destruiria os servidores da gigante das mídias sociais se seus vídeos não fossem restaurados na plataforma.
O Facebook não relatou uma interrupção em seus serviços.
Quem são os America's Frontline Doctors?
É um coletivo de médicos críticos do consenso científico em torno da pandemia de covid-19. O evento na segunda-feira foi apoiado pelo Tea Party Patriots, uma organização conservadora que busca reeleger o presidente Trump.
Os médicos acreditam que nem máscaras nem confinamentos são necessários para combater a disseminação do coronavírus.
A fundadora do grupo, Simone Gold, organizou uma carta a Trump pedindo o fim das medidas de confinamento em maio.
Membros do grupo foram incentivados a buscar entrevistas com influenciadores de mídia social, pois essa foi determinada como a melhor maneira de atingir o maior número de americanos.
Ralph Norman, congressista republicano da Câmara dos Representantes (o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil), estava ao lado dos médicos quando eles fizeram sua entrevista coletiva.
O debate tem dividido cada vez mais os americanos. Defensores da hidroxicloroquina contam com o apoio de Trump, enquanto acusam os críticos de encobrir a possível eficácia da droga.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro já defendeu repetidas vezes o uso do medicamento no combate ao coronavírus.
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