Jornal Estado de Minas

'Covidiotas': aérea e passageiros são criticados por voo que terminou com 16 infectados

Um voo que saiu da ilha grega de Zaquintos e deixou quase 200 pessoas em isolamento devido à preocupação com a covid-19 foi uma verdadeira "bagunça", segundo relataram passageiros presentes na viagem à BBC.



Uma passageira disse que o voo da companhia aérea Tui, em 25 de agosto, estava cheio de "covidiotas" e "tripulantes ineptos que não davam a mínima (aos cuidados)". Outro afirmou que "não havia muito" rigor, por parte da tripulação, com o cumprimento às regras.

Até agora, 16 passageiros do voo TOM6215, com origem em Zaquintos e destino Cardiff (País de Gales), testaram positivo para o coronavírus.

A Tui se posicionou afirmando que a segurança é uma prioridade e que está preocupada com as reclamações.

"Nossa tripulação é treinada segundo os mais altos padrões", disse a companhia aérea. "Uma investigação completa está em andamento, pois essas preocupações não haviam sido relatadas até agora ou durante o voo."



Os 193 passageiros e tripulantes presentes foram orientados a se isolar por duas semanas.

Autoridades de saúde afirmaram que sete pessoas de três grupos diferentes a bordo eram potenciais transmissoras da doença.

Giri Shankar, do serviço público de saúde de Gales, disse à rádio BBC Radio Wales que as pessoas voltando de Zaquintos estão "pegando o vírus e acendendo um alarme".

A Grécia e suas ilhas permanecem na lista do Reino Unido de lugares isentos de quarentena, o que significa que pessoas vindas de lá não precisam se isolar após retorno.

'Fiasco'

'Muitas pessoas estavam tirando as máscaras e vagando pelos corredores para falar com outras', relata Stephanie Whitfield (foto: Stephanie Whitfield)

Stephanie Whitfield disse que ela e o marido decidiram se isolar antes mesmo de saberem dos casos positivos.

"Este voo foi uma bagunça. O cara ao meu lado estava com a máscara no pescoço. Não só a companhia deixou de exigir que ele a colocasse no rosto, como também lhe deu uma bebida de cortesia quando o homem disse que conhecia um membro da tripulação", lembra Whitfield.



"Muitas pessoas estavam tirando as máscaras e vagando pelos corredores para falar com outras."

"Assim que o voo pousou, um monte de gente tirou as máscaras imediatamente. O voo estava cheio de 'covidiotas' egoístas e uma tripulação inepta que não dava a mínima."

Whitfield disse, no entanto, que chegou a ver um funcionário pedindo que um passageiro colocasse a máscara.

"Mas a grande maioria das pessoas não foi abordada", lembra.

O casal resolveu fazer um teste, porque apresenta sintomas leves, mas o resultado não foi divulgado.

Victoria Webb também estava no voo e disse que só ficou sabendo do surto quando sua mãe lhe enviou um link de uma matéria da BBC News — e ela estava no meio de outra viagem, de Cardiff para Londres.

"Fiquei surpresa e um pouco perdida sobre o que fazer quanto a isso", diz.



"Falei com o gerente do trem (que estava quando leu a notícia). Ele ficou preocupado mas foi profissional e, após uma conversa com sua equipe, me transferiu para um vagão onde fiquei sozinha pelo resto da viagem."

"Também trocamos informações para que eu pudesse informá-lo quando recebesse o resultado do meu teste."

Ela agora está em quarentena, seguindo as orientações das autoridades, mas diz não ter recebido qualquer contato do governo para rastreamento ou acompanhamento.

'Feira livre'

Lee Evans descreveu também problemas no aeroporto, como funcionários tocando no celular de clientes (foto: Lee Evans)

Outro passageiro do voo, Lee Evans, também descreveu cenas caóticas no aeroporto de Zante, onde segundo ele funcionários mexiam nos celulares dos passageiros para verificar os cartões de embarque e a distância de dois metros entre as pessoas na hora do embarque não era respeitada.

Embora a exigência de usar máscaras tenha sido reforçada a bordo, Evans acrescentou: "Não havia muito em termos de monitoramento do que os clientes faziam no avião".

Uma semana após o voo, ele recebeu um email da companhia aconselhando que ele e a família fizessem isolamento. Após o aviso, ele diz ter ficado "chocado".



"Alguém precisa ser responsabilizado", reclama.

Avião sujo

Outro passageiro, que quis ser identificado apenas como "Lewis", disse que nas últimas seis semanas pegou 11 voos com diferentes companhias aéreas, e apenas o da Tui foi problemático.

"O voo foi mal administrado pela empresa", avalia. "Avisamos a tripulação de que algumas pessoas estavam tirando constantemente suas máscaras. Ninguém da tripulação se aproximou dessas pessoas. Não vi isso em qualquer outro voo (de outras empresas)."

Ele lembra que algumas pessoas responderam a pedidos de funcionários para informar se tinham sintomas — e estas foram transferidas para a frente, onde a cortina estava fechada.

O passageiro também relata problemas de limpeza.

"Havia lenços usados ​​no bolso do meu assento quando entrei, então o avião não estava tão limpo como eles disseram", acrescentou.



"Devíamos ter sido informados para nos isolarmos antes de sair do avião. Só descobrimos o que aconteceu pelo noticiário."

"Cinco dias depois, não sei dizer com quantas pessoas tive contato."

Especialista do mercado de turismo, Simon Calder diz que a demora no contato com os passageiros é preocupante.

"É absolutamente necessário que as pessoas sigam as regras", disse ele.

"Por outro lado, pensando na tripulação, e não na Tui, é muito difícil impor regras em um voo noturno de uma ilha festiva como Ibiza — ou, neste caso, Zaquintos."

"As pessoas têm que se preocupar com sua própria segurança. Além disso, pode haver brechas legais para o uso de máscara, então tudo se torna bastante complicado."

"Mas o que realmente me preocupa é a cronologia de tudo isso. Já se passaram seis dias desde que o voo pousou."



A Tui afirmou em um comunicado na segunda-feira que "os passageiros são informados antes da viagem e por meio de anúncios no voo que eles devem usar máscaras durante todo o tempo e não têm permissão para se movimentar na cabine."

"As máscaras só podem ser removidas durante o consumo de alimentos e bebidas."

Giri Shankar disse que autoridades de saúde identificaram sete pessoas que tiveram resultado positivo no teste para coronavírus e eram potencialmente infecciosas no voo. Desde que começaram a alertar passageiros, o número de casos confirmados subiu para 16, mas não há certeza sobre onde essas pessoas contraíram o vírus.

O Aeroporto de Cardiff, que pertence ao governo galês, disse que está trabalhando em estreita colaboração com as companhias aéreas para "facilitar a viagem dos passageiros neste momento desafiador para a indústria".

"O Aeroporto de Cardiff está seguindo de perto as diretrizes estabelecidas pelas autoridades e já tomou uma série de medidas para garantir a segurança de nossa equipe e clientes, nossa prioridade número um", afirmou Spencer Birns, presidente-executivo interino do Aeroporto de Cardiff.


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