Depois de se reunir com o presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo Neto, defendeu a substituição do consumo de arroz por macarrão.
"Vamos estar promovendo o consumo de massa, macarrão, que é o substituto do arroz. E vamos orientar o consumidor que não estoque", disse.
Em meio ao aumento no preço de alimentos, a sugestão levou logo a comparações com a frase "Não tem pão? Que comam brioches!", que virou lenda ao ser atribuída a Maria Antonieta, embora não haja registro de que tenha sido de fato dita por ela. A expressão virou símbolo da falta de entendimento da nobreza em relação às necessidades da população.- Não é só o arroz: os preços de alimentos vão continuar subindo nos próximos meses?
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De tempos em tempos, o brasileiro ouve uma sugestão de produto a ser substituído na mesa. Em setembro de 2014, diante de uma alta da inflação de alimentos, o então secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, sugeriu que a população brasileira ficasse atenta para a possibilidade de substituir carne por aves e ovos.
Agora, a discussão está nos carboidratos. Embora outros alimentos tenham tido uma alta de preço ainda maior neste ano, é o arroz que vem dominando o debate — ele ficou quase 20% mais caro desde o início do ano, enquanto o preço do feijão mulatinho subiu 32,6%, da abobrinha, 46,8%, e da cebola, 50,4%, segundo dados divulgados na quarta (09/09) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A BBC News Brasil ouviu especialistas nas áreas de nutrição, sociologia e economia sobre quais fatores devem ser levados em conta ao se falar em substituição do arroz pelo macarrão. Um spoiler: ao menos no município de São Paulo, o macarrão continua saindo mais caro que o arroz.
1.Inflação
A sugestão da substituição veio diante da alta de preço do arroz: enquanto ele subiu 19,25% neste ano até agosto, o preço do macarrão ficou estável, segundo os dados do IBGE.
O arroz subiu em todas as regiões pesquisadas, chegando a uma alta de 27,8% em Salvador. Já o preço do macarrão cresceu um pouco em algumas regiões e caiu em outras, resultando em uma variação igual a zero quando pensamos no país todo.
Professor de economia da Universidade Federal do ABC, o economista Fábio Terra explica que a lógica por trás da sugestão na troca dos produtos é o chamado efeito substituição, que, nesse caso, consiste em substituir a demanda do arroz pela demanda do macarrão. No entanto, ele pondera que, na prática, a mudança não é simples como quer a teoria econômica.
"A racionalidade que colocamos na teoria da economia não considera cultura, gosto, rotina, hábito. Então é muito fácil falar pra substituir arroz por macarrão, mas 95% dos brasileiros comem arroz. Não é uma mudança tão simples de ser feita."
Um estudo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), publicado em 2015, menciona que "quase 95% dos brasileiros consomem arroz e mais da metade o fazem no mínimo uma vez por dia". O mesmo documento aponta que a preferência nacional de consumo é pelo arroz da classe longo fino, comercialmente conhecido como "arroz-agulhinha".
Terra lembra que o aumento do preço do arroz é uma combinação de fatores, e muitos estão fora do Brasil. "Está acontecendo um choque que se dá, em parte, porque pode ter ocorrido aumento de demanda (pelo fato de as pessoas estarem mais em casa, e não pelo auxílio emergencial), e isso está combinado com a colheita de produtores internacionais ainda não ter começado e com exportações do Brasil terem aumentado significativamente."
2. Preço na prateleira e rendimento
O ritmo de aumento do preço do arroz não significa, no entanto, que o quilo do arroz tenha necessariamente ficado mais caro que o macarrão, especialmente considerando as diferenças regionais.
Dados do levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 17 capitais aponta uma média de preço do quilo do arroz que vai de R$ 3,20 em Curitiba a R$ 4,54 no Rio de Janeiro em agosto. Em São Paulo, a média é de R$ 3,37.
O preço médio do pacote de 500g de macarrão em agosto ficou em R$ 2,64 no município de São Paulo. Isso significa que a média do quilo do macarrão (R$ 5,28) ainda é mais cara que a média do quilo de arroz. (Não há dados do preço de macarrão em outras capitais pois o item não integra a cesta básica do Dieese.)
A coordenadora da pesquisa da cesta básica do Dieese, Patrícia Costa, lembra que o macarrão é feito de farinha de trigo, e grande parte do trigo consumido do Brasil é importado. "Importar alimentos com o real desvalorizado significa pagar mais pelo grão em real e encarece o valor médio dos derivados — como se observa no preço do macarrão e do pão francês."
Ela destaca, ainda, que "é muito complicado para as famílias brasileiras pagarem pelo aumento de produtos tão básicos e tão importantes como arroz, macarrão, carne bovina, leite, pão francês".
A professora de Nutrição da UnB Raquel Botelho lembra que, para não cair em armadilha, é importante comparar os preços levando em conta o valor do quilo, e não do pacote de macarrão (que, em geral, contém 500g do produto).
Especialista na área de técnica dietética, que contempla cozinha e preparações, ela também destaca que o arroz rende mais que o macarrão. Segundo ela, um saco de um quilo de arroz, bem preparado, rende na panela pelo menos 2kg. Se for um arroz do tipo 1, chega a virar 2,5kg após o preparo. Já o macarrão, segundo ela, a tendência é não passar de 2kg.
3.Características nutritivas
O sociólogo Carlos Alberto Dória, autor do livro A culinária caipira da Paulistânia, diz que há uma "perspectiva colonialista" na fala do representante dos supermercados, que aponta apenas o macarrão como substituto do arroz. Ele lembra que o Brasil tem alternativas de qualidade nutricional e sabor.
"Ao arroz não se contrapõe apenas o macarrão, mas também a outros carboidratos, como farinha de milho, farinha de mandioca, o cuscuz — importante na alimentação brasileira de norte a sul."
O Guia alimentar para a população brasileira, do Ministério da Saúde, aponta que o arroz é o principal representante do grupo dos cereais no Brasil e que o consumo mais frequente é na mistura com o feijão. No grupo dos cereais, também estão milho (incluindo grãos e farinha) e trigo (incluindo grãos, farinha, macarrão e pães), além de aveia e centeio.
Por que, então, mencionar apenas o macarrão? Dória diz que é a "lógica do supermercado": o macarrão é mais padronizado e tem várias faixas de preços, enquanto soluções mais regionais estão ligadas principalmente à agricultura familiar ou pequenas indústrias locais.
Raquel Botelho diz que, analisando puramente os macronutrientes, o macarrão é, sim, substituto do arroz, mas desencoraja a substituição.
"Em termos de calorias, se for arroz puro e macarrão puro, não faz diferença. São parecidos. Mas a gente não come puro — e sim alho e óleo, molho de tomate, molho branco. Dependendo de como combinar, tem um adicional de calorias."
Já o valor do arroz, ela diz, está exatamente na popular combinação com o feijão. Por isso, ela diz, deve-se encorajar a população a consumir arroz com feijão, que é "marcador de identidade no Brasil".
"A combinação arroz com feijão é muito feliz porque o arroz tem aminoácido que o feijão não tem e vice-versa. Eles se completam. Por isso que, como nutricionistas, encorajamos o consumo, principalmente em populações que não consomem tanta proteína animal. É uma forma de garantir minimamente o aporte desses aminoácidos."
Ela destaca que o feijão é fonte de ferro e de fibra, especialmente importante numa população que come cada vez menos frutas e vegetais.
"Tirando o arroz com feijão, você tira quantidade de fibra da dieta do brasileiro."
Mas não pode comer macarrão com feijão?
Pode. Raquel Botelho diz, no entanto, que a combinação só dos dois não é tão comum no Brasil quanto o arroz com feijão.
Dória lembra da popular pasta e fagioli na Itália, que é uma espécie de sopa de feijão com macarrão.
"Quando as pessoas falam que não combina, há primeiro um viés elitista e segundo um desconhecimento, porque uma das coisas mais populares no Brasil é o arroz, feijão e macarrão, juntos no mesmo prato."
4. Sensibilidade ao glúten
Outro fator importante apontado pela nutricionista é que o macarrão contém glúten.
Como a estimativa é de que 10% da população seja sensível ao glúten, segundo ela, o macarrão não é uma opção para essas pessoas. Esse percentual inclui celíacos, alérgicos e pessoas com sensibilidade ao glúten.
"A alternativa seria o macarrão de... arroz", diz.
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O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
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Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
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Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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