Em lugares com expectativa de vida alta, como o Brasil e os Estados Unidos, um percentual acima de 2% da população infectada com a COVID-19 poderá já ser capaz de quebrar uma histórica tendência de crescimento neste indicador, em que conforme os anos passam, mais longamente as pessoas tendem a viver.
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Seis efeitos da catástrofe provocada pela COVID-19 na educação da América LatinaA informação essencial que falta em todas as vacinas para COVID-19, segundo especialista italianaPor que a existência de 1 nonilhão de vírus na Terra é uma boa notíciaMédicos brasileiros investigam mortes de crianças por COVID-19Brasil tem 829 mortes em 24h, e óbitos por COVID-19 chegam a quase 135 milÉ o que diz um estudo publicado nesta quinta-feira (17/9) no periódico PLOS ONE, que combinou em um modelo matemático dados da probabilidade de se infectar e morrer por COVID-19 dentro de um ano em diferentes faixas etárias, além de números sobre outras causas de mortalidade e expectativa de vida em quatro grandes regiões do mundo.
Com a nova doença, é esperado um declínio pelo menos em curto prazo na expectativa de vida em vários países, sobretudo aqueles com maior expectativa de vida, na Europa e na América do Norte; e particularmente em localidades específicas fortemente afetadas pela doença, como Nova York, nos EUA, e Bergamo, na Itália.
De acordo com a publicação, uma prevalência (parcela de infectados em relação à população total) de 10% poderá levar à perda de um ano na expectativa de vida na Europa, América do Norte, América Latina e Caribe.
Para que tal perda aconteça no Sudeste Asiático e na África Subsaariana, seria necessária uma prevalência de 15% e 25% respectivamente. O impacto é menor em lugares com expectativa de vida mais baixa pois, neles, a sobrevivência em idades mais avançadas já é menor.
Com uma prevalência de 50% de COVID-19 na população dentro de um ano, a expectativa de vida poderia cair de 3 a 9 anos na América do Norte e Europa; de 3 a 8 anos na América Latina e Caribe; de 2 a 7 anos no Sudeste Asiático; e de 1 a 4 anos na África Subsaariana.
"A Europa levou quase 20 anos para que a expectativa de vida média ao nascer crescesse seis anos - de 72,8 anos em 1990 para 78,6 anos em 2019. A COVID-19 pode fazer retroceder este indicador para valores de algum tempo atrás", diz um dos autores do estudo, Sergei Scherbov, do Centro Wittgenstein para Demografia e Capital Humano Global, na Universidade de Viena, Áustria.
Ele assina o trabalho junto com Guillaume Marois, do Instituto de Pesquisas Demográficas da Ásia, na Universidade de Xangai, China; e Raya Muttarak, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido.
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"No entanto, não temos certeza do que vai acontecer ainda. Em muitos países a letalidade da COVID-19 está diminuindo fortemente, provavelmente porque o protocolo de tratamento ficou melhor definido", pondera Sherbov sobre a possibilidade dos cenários serem confirmados ao longo do tempo ou não.
No último século, a expectativa de vida cresceu significativamente em várias partes do mundo.
Este é um dos indicadores que entra na conta do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e é influenciado por condições sociais, econômicas, e de acesso à educação e saúde.
O artigo na PLOS ONE considerou a seguinte classificação por regiões do mundo: expectativa de vida muito alta (América do Norte e Europa, 79,2 anos); alta (América Latina e Caribe, 76,1 anos); média (Sudeste Asiático, 73,3 anos); e baixa (África Subsaariana, 62,1 anos).
Epidemias do passado já mostraram que curvas podem ser alteradas de repente, como a pandemia de influenza em 1918 e o surto de ebola em 2014, que diminuíram a expectativa de vida em 11,8 anos nos EUA e de 1,6 a 5,6 anos na Libéria, respectivamente, segundo calcularam estudos anteriores.
Os autores destacam, porém, que o impacto da COVID-19 na expectativa de vida pode não ser tão óbvio.
Isto porque, por um lado, o vírus é mais letal em idades mais avançadas, então o número de anos perdidos não é tão grande na soma final da expectativa de vida; por outro, a doença pode ter impacto devastador e rápido em certas localidades, sendo capaz de afetar, sim, o indicador de um país ou região.
Outra ressalva feita pela equipe é sobre os dados de prevalência e mortalidade por COVID-19, que não são tão confiáveis e completos; por isso, foi escolhido um modelo matemático que combinasse vários tipos de dados, apontando para tendências e diferentes cenários e focado em grandes regiões.
Só para se ter um parâmetro da situação do Brasil, o país contabilizava, até esta quinta, 4,4 milhões de diagnósticos positivos de COVID-19, cerca de 2% da população de 212 milhões estimada pelo IBGE.
Sabe-se, no entanto, que os números são provavelmente subestimados. O balanço mais recente do estudo EpiCovid-19, feito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e financiado pelo Ministério da Saúde, apontam que o total de infectados no país pode ser até sete vezes maior.
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