Uma deputada escocesa foi suspensa de seu partido e agora enfrenta pressão para renunciar ao cargo depois de ter viajado de trem de Glasgow, na Escócia, a Londres, na Inglaterra, para uma sessão no Parlamento britânico com sintomas de COVID-19 - e voltado para casa também em transporte público após receber o diagnóstico positivo da doença.
Margaret Ferrier, que representa o Condado de Rutherglen e Hamilton West pelo SNP (Partido Nacional Escocês), teve "sintomas leves" do coronavírus no sábado (26/09) e fez um teste. Mesmo assim, decidiu viajar de trem para uma sessão no Parlamento na segunda-feira (28/09) antes de receber seu resultado porque estava "se sentindo muito melhor".
Ela falou por quatro minutos na Câmara dos Comuns durante um debate sobre o coronavírus - chegando a tuitar um vídeo de seu discurso - mas foi informada na noite daquele dia que ela tinha testado positivo para o vírus.
Apesar disso, Ferrier pegou um trem de volta para a Escócia no dia seguinte. Os representantes do seu partido só souberam do diagnóstico na quarta-feira.
Ela teria dito inicialmente que iria para casa porque um membro de sua família não estava bem.
Um porta-voz do partido disse que o chefe do SNP informou imediatamente as autoridades do Parlamento após saber do teste positivo de Ferrier na quarta-feira.
Mas ele disse que só na quinta-feira o SNP descobriu que Ferrier havia feito o teste antes de viajar para Londres e que depois retornou a Glasgow, apesar de seu diagnóstico.
A líder do SNP e primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, disse que só foi informada sobre o caso na tarde de quinta-feira - logo depois de enfrentar os líderes da oposição na sessão de perguntas no Parlamento escocês.
Ela disse que "deixou claro seu ponto de vista" para Ferrier de que ela deveria "fazer a coisa certa" e renunciar.
Ferrier foi suspensa pelo SNP, mas não pode perder o mandato como deputada a menos que renuncie ao cargo.
O porta-voz do Parlamento britânico, Lindsay Hoyle, disse não acreditar no comportamento dela.
'Indefensável'
Em um comunicado, Ferrier se desculpou e disse que "lamentava profundamente" por seus atos, mas ainda não deu qualquer indicação se pretende ou não continuar como parlamentar sem partido (independente).
Em seu briefing diário sobre o coronavírus, Sturgeon disse que Ferrier tinha cometido a "pior violação imaginável" e disse que havia deixado "muito claro" que deveria renunciar a seu cargo no interesse da integridade geral da mensagem de saúde pública.
"Margaret é uma amiga minha, então tudo o que estou prestes a dizer é obviamente com o mais pesado dos corações e, claro, desejo a ela uma rápida recuperação da COVID", disse a premiê escocesa.
"Mas nada disso muda o fato de que suas ações foram imprudentes, perigosas e completamente indefensáveis - e eu me sinto muito zangada em nome de todos vocês."
Lindsay fez coro com Sturgeon e disse estar "muito, muito zangado" com o fato de Ferrier ter colocado pessoas em risco de infecção por sua decisão "imprudente" de viajar para Londres e discursar na Câmara dos Comuns.
O caso de Ferrier se tornou público quando ela tuitou um pedido de desculpas por volta das 18h de quinta-feira.
Fontes do SNP disseram inicialmente que esperariam o resultado de uma investigação policial sobre suas ações antes de decidir se ela seria suspensa ou não.
Mas o partido anunciou sua suspensão cerca de uma hora depois.
Multa e risco de expulsão
A polícia da Escócia confirmou que foi contatada por Ferrier e informou que os policiais estavam "investigando as circunstâncias" bem como fazendo contato com o Serviço de Polícia Metropolitana.
Ferrier pode ter que pagar uma multa de 4 mil libras (cerca de R$ 30 mil) por ter entrado em contato com outras pessoas mesmo sabendo que havia recebido um diagnóstico positivo para o vírus. Ela deveria ter se isolado em casa por 14 dias, segundo o que dizem as regras do governo britânico.
Ian Blackford, o líder do SNP em Westminster, disse à BBC que "ninguém está acima da lei" e apelou a Ferrier para "fazer a coisa certa".
Os deputados do SNP David Linden, Kirsty Blackman e Stephen Flynn também pediram que ela renunciasse ao cargo.
Segundo o correspondente político da BBC na Escócia, Glenn Campbell, os eleitores de Ferrier podem expulsá-la se ela se recusar a renunciar.
Isso exigiria que ela primeiro fosse suspensa da Câmara dos Comuns.
Se 10% dos eleitores registrados em seu domicílio eleitoral assinassem uma petição por sua renúncia dentro das próximas seis semanas, seu assento ficaria vago e uma eleição parcial seria convocada.
Ironicamente, Ferrier foi uma das parlamentares que pediu ao conselheiro do primeiro-ministro Boris Johnson, Dominic Cummings, que renunciasse após a polêmica sobre sua visita ao Nordeste da Inglaterra durante o período em que o país estava sob lockdown.
Na época, ela disse que as ações de Cummings "minaram os sacrifícios que todos nós temos feito no lockdown para proteger uns aos outros do coronavírus" e descreveu sua posição como "insustentável".
O líder do Partido Conservador na Escócia, Douglas Ross, disse que as ações "imprudentes" de Ferrier colocaram a vida de outras pessoas em risco e questionou o SNP sobre a veracidade dos desdobramentos do caso.
"O SNP diz que só descobriu qualquer irregularidade na quinta-feira. Isso significa que devemos aceitar que o SNP descobriu que Margaret Ferrier tinha COVID-19 na quarta-feira - e não lhe perguntou nada".
"A explicação do SNP está cheia de lacunas e qualquer pessoa razoável pode ver isso."
Ferrier foi eleita pela primeira vez como deputada do SNP em 2015, mas perdeu seu assento para o Partido Trabalhista em 2017, antes de vencê-lo nas eleições gerais do ano passado com uma maioria de 5.230.
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