Um grupo de homens armados cria uma milícia, se reúne em segredo e planeja sequestrar uma governadora e iniciar uma guerra civil.
Parece o enredo de um filme de ação de terceira categoria, mas simplesmente acaba de acontecer nos Estados Unidos.
O FBI (polícia federal americana) anunciou na quinta-feira (8/10) que frustrou uma conspiração para sequestrar e derrubar a governadora democrata do Estado de Michigan, Gretchen Whitmer, que era vista pelos organizadores como o início de um "movimento civil maior".
Segundo o FBI, seis homens dos 13 detidos planejavam realizar um "julgamento por traição" contra Whitmer, que se tornou alvo dos céticos do coronavírus depois de estabelecer rigorosas medidas de mitigação da pandemia, que foram derrubadas por um juiz na semana passada.
"Ódio, intolerância e violência não têm lugar" em Michigan, disse Whitmer em entrevista coletiva.
A governadora relacionou o complô contra ela à retórica do presidente Donald Trump, que, segundo ela, passou os últimos meses "alimentando desconfiança, fomentando a raiva e dando conforto aos que espalham medo, ódio e divisão".
Whitmer lembrou que Trump não condenou explicitamente os supremacistas brancos no primeiro debate presidencial na semana passada e incentivou os comentários que se tornaram desde então (ele pediu para uma milícia se "preparar") um "grito de guerra" para grupos de ódio.
O que se sabe sobre o plano frustrado?
O FBI explicou que tomou conhecimento dos planos depois que uma fonte disfarçada foi a uma reunião em junho em Dublin, Ohio, onde uma milícia de Michigan chamada de "Wolverine Watchers" discutiu a derrubada de governos estaduais "que acreditavam estar violando a Constituição dos Estados Unidos. "
"Vários membros falaram sobre assassinar 'tiranos' ou 'tomar' um governador", diz o documento de acusação.
Em um vídeo gravado durante o encontro, um dos suspeitos questionou o papel do Estado na decisão de quando reabrir as academias durante a pandemia do coronavírus.
De acordo com o FBI, a milícia queria reunir "200 homens" para invadir o prédio do Capitólio local e fazer reféns, incluindo a governadora.
Eles esperavam colocar o plano em ação antes da eleição presidencial, em novembro.
Se isso falhasse, eles planejavam atacar a governadora na casa dela, de acordo com as autoridades.
Os suspeitos "coordenaram a vigilância da residência de férias dos governadores", disse o procurador-geral do Distrito Oeste de Michigan, Andrew B. Birge.
Ele acrescentou que também planejaram ataques com coquetéis molotov contra policiais, compraram uma arma de choque e levantaram fundos para comprar explosivos e equipamento tático.
Quem são os acusados?
De acordo com o FBI, os principais suspeitos são seis homens, cinco de Michigan e um de Delaware, que serão acusados em tribunal federal por planejar o sequestro.
Os detidos foram nomeados como Adam Fox, Barry Croft, Kaleb Franks, Daniel Harris, Brandon Casert e Ty Garbin, cuja casa foi invadida pelas autoridades na quarta-feira (7/10).
Os outros sete enfrentam acusações de terrorismo e crimes relacionados a gangues em um tribunal estadual, em conexão com o plano de sequestro.
Whitmer foi amplamente criticada depois de impor medidas locais para controlar o coronavírus. Isso gerou manifestações e levou homens armados que se opunham ao bloqueio a invadir a capital do Estado.
Na época, Trump insinuou seu apoio aos manifestantes, tuitando "LIBERTEM MICHIGAN".
Na sexta-feira passada, a Suprema Corte estadual decidiu que Whitmer não tinha autoridade legal para emitir ordens executivas de emergência e que essa responsabilidade cabia à legislatura estadual.
Após a decisão, o advogado que defendeu o caso no tribunal recomendou que os cidadãos "queimem suas máscaras", uma das medidas de proteção que as autoridades de saúde dizem ser necessárias para evitar a disseminação da covid-19.
O que se sabe do grupo?
Os acusados realizaram treinamento com armas em vários Estados e, algumas vezes, tentaram criar bombas, afirma o FBI.
A procuradora-geral de Michigan, Dana Nessel, disse que, além das acusações de sequestro, o Estado acusará sete membros dos "Wolverine Watchers" de afiliação a gangues e de apoio material a terroristas.
Segundo Nessel, os membros da milícia "esperavam iniciar uma guerra civil".
"Os policiais de Michigan estão unidos em nosso compromisso de erradicar o terrorismo em qualquer forma e tomaremos medidas rápidas contra qualquer pessoa que pretenda causar violência ou dano em nosso Estado", disse o coronel Joe Gasper, diretor da Polícia do Estado de Michigan.
Nos últimos anos, vários incidentes violentos foram associados a milícias de civis nos Estados Unidos.
Os adeptos, que geralmente são homens brancos, às vezes carregam armas durante os protestos.
O Departamento de Segurança Nacional alertou esta semana em um relatório anual que a violenta supremacia branca era a "ameaça mais persistente e mortal" para os Estados Unidos.
Joe Biden, que está concorrendo à Presidência contra Trump, condenou as milícias como "uma ameaça genuína" e criticou seu oponente por encorajá-las.
"As palavras de um presidente são importantes", disse ele."Por que o presidente não pode simplesmente dizer para eles pararem?"
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