A vacina contra a COVID-19 que está sendo desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford gerou uma resposta "robusta" do sistema imunológico em idosos, de acordo o jornal britânico Financial Times.
Esta faixa etária é um dos grupos de risco da doença causada pelo novo coronavírus.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a vacina de Oxford é uma das dez vacinas contra a COVID-19, entre as quase 200 atualmente em desenvolvimento, que já estão na última fase de pesquisa em seres humanos.
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Na chamada fase 3, é verificado se elas realmente funcionam, ou seja, são capazes de nos proteger contra o Sars-CoV-2.
A vacina de Oxford também é testada no Brasil, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituto de pesquisa ligado ao Ministério da Saúde.
Há um acordo entre Oxford e o governo brasileiro para a compra de doses e a transferência de tecnologia para a produção nacional desta vacina, caso ela se mostre eficaz.
Estes resultados são referentes às duas primeiras fases da pesquisa, concluídas em maio, e reforçam dados divulgados em julho, que mostraram que a vacina também gerou uma resposta imune robusta em adultos saudáveis.
Estas descobertas são consideradas promissoras, mas não garantem que a vacina de fato funcione, o que está sendo investigado neste momento.
Procurada pelo Financial Times, a Universidade de Oxford não quis comentar sobre o assunto.
Como funciona a vacina de Oxford?
A vacina de Oxford é baseada em uma tecnologia conhecida como vetor viral não replicante.
Ela usa um adenovírus que causa um resfriado em chipanzés e foi modificado em laboratório para não ser capaz de se replicar em células humanas e nos deixar doentes.
Esse adenovírus também é alterado por meio de engenharia genética para passar a carregar em si as instruções para a produção de uma proteína característica do coronavírus, conhecida como espícula.
Ao entrar em nossas células, o adenovírus faz com que elas passem a produzir essa proteína e a exibam em sua superfície, o que é detectado pelo sistema imune, que cria então formas de combater o coronavírus.
Quais foram os resultados das primeiras fases da pesquisa?
As duas primeiras fase da pesquisa, realizadas em conjunto no Reino Unido entre abril e maio, investigaram se a vacina é segura e gera uma resposta do sistema imunológico.
Participaram 1.077 voluntários com idades entre 18 e 55 anos, distribuídos aleatoriamente em dois grupos: um recebeu a vacina contra a COVID-19 e outro, uma vacina contra meningite.
Nem os pesquisadores nem os participantes sabem em qual grupo cada pessoa está.
Em julho, um estudo publicado no The Lancet mostrou que a vacina de Oxford gerou uma resposta imune robusta. Isso significa que ela foi capaz de levar à produção tanto de anticorpos quanto de células T.
Muito do foco das pesquisas de vacinas contra o Sars-CoV-2 tem sido voltado para os anticorpos neutralizantes.
Estes anticorpos são pequenas proteínas produzidas pelo sistema imunológico que se fixam na superfície dos vírus e impedem que ele infecte células humanas.
Mas eles são apenas uma parte de nossa defesa imunológica. As células T, um tipo de glóbulo branco, ajudam a coordenar o sistema imunológico e são capazes de identificar quais células do corpo foram infectadas e destruí-las.
Quase todas as vacinas eficazes induzem uma resposta de anticorpos e células T.
Segundo o estudo divulgado em julho, os níveis de células T atingiram um pico 14 dias após a vacinação e os níveis de anticorpos, após 28 dias.
Estes níveis se mantiveram altos 56 dias após a vacinação, mas o estudo não durou tempo suficiente para entender quanto tempo exatamente essa resposta imune dura.
A resposta mais forte foi verificada em um subgrupo de dez participantes que receberam duas doses da vacina, o que, de acordo com os pesquisadores, indica que esta pode ser a estratégia mais eficaz de vacinação.
Agora, o Financial Times diz que esta mesma resposta imune robusta foi verificada em idosos, mas os resultados da análise dos dados desta faixa etária ainda não foram oficialmente divulgados.
O estudo publicado em julho também mostrou que a vacina é segura e não provocou nenhum efeito colateral grave.
No entanto, houve efeitos adversos leves: 66% dos voluntários que tomaram a vacina tiveram dor no local da aplicação, 70% relataram fadiga, 68% tiveram dor de cabeça e 17% tiverem febre.
O que está sendo pesquisado agora?
Os resultados positivos das duas primeiras etapas levaram à continuação da pesquisa. Agora, na fase 3, é verificado se a vacina realmente funciona, com a participação de um número bem maior de voluntários.
Estão sendo recrutadas 10,5 mil pessoas no Reino Unido, 30 mil participantes nos Estados Unidos e 2 mil na África do Sul. No Brasil, 8 mil já participam do estudo.
Novamente, eles são divididos em dois grupos e recebem a vacina contra a COVID-19 ou a vacina contra meningite. Os cientistas precisam esperar para que os voluntários entrem em contato com o vírus.
Os pacientes serão acompanhados ao longo de um ano e será verificado ao final a proporção de pessoas que ficaram doentes em cada grupo para atestar se a vacina protege ou não contra o Sars-CoV-2.
Houve algum problema nesta etapa da pesquisa?
Sim, em duas ocasiões.
A pesquisa chegou a ser suspensa em setembro por alguns dias no Reino Unido após ter sido constatado um efeito colateral em um participante.
Detalhes sobre a condição deste voluntário não foram oficialmente divulgadas, mas, de acordo com o jornal americano The New York Times, ele foi diagnosticado com mielite transversa, uma síndrome inflamatória que afeta a medula espinhal e pode ser causada por infecções virais.
Uma análise feita por um comitê independente e a agência reguladora britânica concluiu que seria seguro prosseguir com o estudo.
E, em 21 de outubro, foi confirmado que um dos voluntários do braço brasileiro da pesquisa morreu após contrair COVID-19.
O médico João Pedro Feitosa, de 28 anos, fazia parte do grupo que recebeu a vacina contra meningite, de acordo com fontes próximas do estudo ouvidas pela TV Globo.
Após a avaliação de um comitê independente, foi decidido que os testes não seriam suspensos.
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