A partir da quinta-feira (05/10), o novo lockdown deve entrar em vigor, proibindo pubs e restaurantes de abrir suas portas (exceto para vender comida para viagem ou em sistema delivery), bem como atividades não essenciais de compras e lazer.
Interações com pessoas de outras casas (ou de outras "bolhas") também estão vetadas, embora atividades ao ar livre e aulas escolares e universitárias continuem sendo permitidas.
O plano delineado pelo premiê Boris Johnson tem previsão de durar quatro semanas e será votado no Parlamento britânico na quarta-feira.
Johnson afirmou que o Reino Unido estará diante de "um desastre médico e moral" se não agir para conter o contágio. O país tem o maior número de mortos por COVID-19 na Europa (quase 50 mil) e registrou 18.950 mil novos casos do novo coronavírus na segunda-feira.
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Donos dos tradicionais pubs britânicos, porém, se queixam do governo e antecipam novas dificuldades para o setor.
"(O plano do governo) é a quarta mudança de estratégia afetando o setor de hospitalidade nas últimas seis semanas, e não acho que será a última", afirma à BBC Jonathan Neame, executivo-chefe da cervejaria Shepherd Neame, que se declara a mais antiga do Reino Unido.
Diante do temor de que não consiga escoar sua produção sequer para retiradas ou delivery, Neame afirma que "teremos de jogar nossa cerveja no ralo".
A cervejaria já demitiu 10% de sua equipe e manteve outra parte de licença. "As pessoas pagando o preço são as que já estavam mais fragilizadas, tendo passado por um lockdown e apenas começando a reencontrar seu caminho", afirma Neame.
O executivo prevê que os efeitos do novo lockdown se estendam até o Natal e afetem particularmente os pubs dos centros das cidades. "É difícil imaginar que eles renascerão tão cedo."
"Durante o primeiro lockdown, houve um apoio incrível das comunidades aos pubs locais", ele prossegue. "As pessoas querem seus pubs, querem que eles sobrevivam."
O setor teme que as medidas a serem votadas pelo Parlamento impeçam até mesmo o delivery ou a retirada de cerveja nos pubs para consumo em outros lugares.
Mark Newcombe, presidente do grupo comunitário que dirige o pub Craufurd Arms, em Berkshire, afirma ser "ridícula" a ideia de que pubs não possam entregar a cerveja.
"No último lockdown, fizemos um serviço de delivery e, embora sequer estivéssemos cobrindo nossos custos, pelo menos havia dinheiro entrando no pub", afirma.
O Craufurd Arms, especializado em cerveja do tipo ale, não serve comida. "Ale não tem uma vida longa. Quando chegar quinta-feira, o que não tiver sido vendido terá de ser jogado fora", afirma Newcombe.
"Gastamos tanto dinheiro e tempo para preparar nossos pubs para uma reabertura segura, e agora isso (um novo lockdown). Como se planejar? Pode durar quatro semanas, pode durar cinco. Pode durar até janeiro, não sabemos."
Para evitar ter de jogar sua produção fora, a cadeia de pubs Wetherspoon está oferecendo a "pint" de ale por 99 centavos de libra (cerca de R$ 7) até quarta-feira à noite.
"É melhor que os consumidores possam desfrutar da ale por um bom preço enquanto os pubs puderem ficar abertos", afirma Eddie Gershon, porta-voz do Wetherspoon. Ele afirma que a promoção não vai causar aglomerações, uma vez que "cada um de nossos pubs está adotando medidas contra a COVID e restringindo o número de pessoas".
Para James Calder, executivo-chefe da Sociedade de Cervejeiros Independentes (Siba, na sigla em inglês), diz que é urgente que o governo esclareça quais serão as restrições para a venda de cerveja no novo lockdown. O setor também pede apoio financeiro, incluindo mais crédito e a extensão de cortes de impostos para pubs.
Em discurso no Parlamento nesta segunda, o premiê Boris Johnson afirmou que "o governo continuará a fazer todo o possível para apoiar empregos e a subsistência (dos britânicos) nas próximas quatro semanas. Protegemos 10 milhões de empregos com as licenças (remuneradas) e vamos estender isso até novembro".
Johnson tem enfrentado resistência para o segundo lockdown até mesmo dentro de seu partido, o Conservador, e de críticos que dizem que o governo está sendo ineficaz em antecipar os ciclos da pandemia no país.
O premiê argumenta que as medidas mais duras são necessárias para evitar as previsões mais pessimistas, de que o Reino Unido poderia alcançar 80 mil mortes por COVID-19 e sobrecarregar ao extremo o serviço público de saúde. "Estamos enfrentando uma doença. (...) Quando os dados mudarem, nós também vamos mudar de curso", afirmou.
O chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse por sua vez que se trata de "mais um momento crítico para a ação" de líderes mundiais, à medida que diversos países da Europa e Estados americanos enfrentam uma nova onda de contaminações. "É também mais um momento crítico para as pessoas se unirem em um propósito conjunto."
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