"Depois da aprovação das vacinas pelos rigorosos órgãos reguladores, nós esperamos começar a vacinar em dezembro. O grosso do programa de vacinação seria em janeiro, fevereiro e março. E esperamos que em algum momento logo após a Páscoa, as coisas começarão a voltar ao normal."
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A previsão acima foi feita pelo ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, no mesmo dia que foram divulgados os resultados da eficácia da vacina Oxford/AstraZeneca (de até 90%).
O país europeu de 68 milhões de habitantes encomendou até agora 100 milhões de doses dessa vacina. Essa, aliás, é a mesma quantidade prevista para o primeiro semestre de 2021 pelo Brasil, país de 212 milhões de habitantes.
Mas por que a Páscoa se tornou uma luz no fim do túnel e o que isso aponta para o Brasil?
Há dois pontos centrais aqui. Primeiro, a Páscoa (4 de abril) ocorre após o inverno britânico, período em que doenças respiratórias disparam. Segundo, estariam protegidos dois dos grupos mais atingidos pela COVID-19: os idosos e os profissionais de saúde.
Vacinar 12 milhões de pessoas no país com mais de 65 anos teria um impacto enorme na mortalidade. Afinal, mais de 90% das mortes no país atingiram essa faixa etária.
"Com o vento favorável, nós devemos conseguir imunizar até a Páscoa a grande maioria das pessoas que mais precisam de proteção", afirmou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
Mas o médico-chefe do Departamento de Saúde do Reino Unido, Chris Whitty, lembrou que a vida não voltará ao normal de uma hora para outra. "O vírus não vai desaparecer. Ele se tornará menos e menos perigoso para a população em etapas."
Especialistas ressaltam também que pandemia está longe de estar sob controle e que as perspectivas de vacinas eficazes contra COVID-19 não significam que as pessoas devem abandonar os cuidados adotados, como distanciamento social, uso de máscaras e higiene das mãos.
Um levantamento da Universidade Duke, nos Estados Unidos, aponta que o Reino Unido já comprou um montante de vacinas quase três vezes maior que o tamanho de sua população. E até agora, o Brasil, considerando governos federal e estaduais, garantiu doses suficientes para imunizar pelo menos 46% de sua população.
Mas quando isso vai acontecer e quem receberá primeiro essas doses caso a vacina seja aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)?
Ao menos 65 milhões de vacinados por semestre
Depois do anúncio dos resultados da vacina Oxford/AstraZeneca, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aumentou sua expectativa de vacinação com esse imunizante.
O órgão brasileiro é parceiro dos fabricantes e se prepara para fabricar doses que beneficiem até 130 milhões de pessoas em 2021.
Esse número é 30% maior do que as 100 milhões previstas inicialmente porque os resultados dos estudos apontaram que uma eficácia maior quando as pessoas são vacinadas com uma dose mais baixa e, um mês depois, com outra mais alta. Essa "equação", que ainda intriga os cientistas, rende um saldo de 30 milhões de doses para o país.
Dessa forma, a estimativa da Fiocruz passou de 50 milhões para 65 milhões de pessoas a serem vacinadas no Brasil em cada semestre de 2021. Cada uma receberá duas doses, com um intervalo de um mês.
Tudo isso sem contar a vacina a ser produzida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, em parceria com a fabricante chinesa Sinovac. São previstas 46 milhões de doses da CoronaVac no início de 2021. Mas esse imunizante ainda não apresentou dados preliminares sobre eficácia, o que deve acontecer no início de dezembro.
Vacinação pode começar em fevereiro
Os fabricantes brasileiros estimam que a Anvisa deve autorizar a distribuição das duas vacinas Oxford/AstraZeneca e CoronaVac até o fim de janeiro de 2021.
Assim, a vacinação teria início em fevereiro ou março.
Mas quem vai receber primeiro essas doses? O Ministério da Saúde ainda não bateu o martelo, mas apresentou as diretrizes em 19/11.
O público-alvo detalhado só será apresentado após a aprovação das vacinas, mas certamente estarão na frente da fila os grupos mais vulneráveis (idosos e pessoas com comorbidades) e os mais expostos (profissionais de saúde).
Segundo dados do governo brasileiro, 76% das mortes por COVID-19 até setembro no país atingiram pessoas com mais de 60 anos. Essa faixa etária reúne 28 milhões de brasileiros, ou 13% da população total.
Outro eixo dos 10 apresentados pelo Ministério da Saúde diz respeito a identificar as pessoas que integram os grupos de risco da COVID-19, entre elas, pessoas com comorbidades como diabetes, hipertensão, doenças cardíacas/cerebrovasculares, doenças pulmonares e renais, obesidade, câncer e anemia falciforme, além de quem recebeu transplante.
Um levantamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apontou que 86 milhões de pessoas no Brasil têm pelo menos uma dessas doenças que podem agravar seriamente uma infecção por COVID-19. Ou seja, 47% dos brasileiros com idade entre 18 e 65 anos estão nesse grupo de risco.
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