Chamada pela imprensa de Irmgard F., ela é moradora de um lar para idosos em Pinneberg, próximo a Hamburgo. Ela é acusada de ter sido cúmplice em "mais de 10 mil casos" de homicídio.
Ela foi secretária do comandante da SS (sigla para Schutzstaffel, uma organização paramilitar ligada ao Partido Nazista alemão e a Adolf Hitler) em Stutthof, um brutal campo de concentração localizado próximo à cidade polonesa de Danzigue. Nesse campo, 65 mil prisioneiros foram mortos durante a Segunda Guerra Mundial.
O papel de Irmgard F. no genocídio ainda está sendo investigado e ainda não está claro se ela será levada a julgamento.
O campo de Stutthof foi criado em 1939, em uma área que então era pertencente à Polônia e estava sob ocupação nazista. Câmaras de gás passaram a ser utilizadas ali a partir de junho de 1944. O local foi libertado por tropas soviéticas em maio de 1945, próximo ao fim da guerra.
Cerca de 100 mil prisioneiros foram mantidos em Stutthof em condições desumanas. Muitos morreram de doenças ou de fome, alguns foram levados à câmara de gás e outros receberam injeções letais.
Muitas das vítimas eram judeus, mas também foram mortos poloneses não judeus e soldados soviéticos capturados.
Um tribunal em Eslésvico-Holsácia, na região norte da Alemanha, deve agora decidir se o caso da ex-secretária deve ser levado a julgamento. À época dos crimes, ela tinha menos de 21 anos, sendo considerada menor de idade pela legislação local — portanto o tribunal responsável pelo caso é um tribunal para menores.
A ex-secretária alega que nunca soube que as pessoas estavam sendo mortas em uma câmara de gás no campo de concentração.
Caso raro
O caso é incomum pois pouquíssimas mulheres foram julgadas pelas atrocidades cometidas em campos de concentração nazistas. E a maioria dos casos levados a julgamento tem como foco guardas dos campos de concentração e não secretárias, segundo informações do jornalista da BBC Damien McGuinness, em Berlim.
Promotores interrogaram Irmgard F. e começaram a investigar seu passado na SS em 2016. Um promotor também entrevistou sobreviventes de Stutthof que vivem atualmente em Israel, segundo informações da rede pública de televisão alemã ARD.
Ela é acusada de "auxiliar e ser conivente com assassinatos em mais de 10 mil casos", e de ser cúmplice em tentativas de assassinato.
A acusação diz que ela "ajudou os responsáveis pelo campo no assassinato sistemático de prisioneiros judeus, membros da resistência polonesa e prisioneiros de guerra soviéticos, em sua função como estenógrafa e secretária do comandante do campo" entre junho de 1943 e abril de 1945.
O ex-comandante Paul Werner Hoppe recebeu uma sentença de nove anos de prisão em 1957.
No ano passado, Bruno Dey, de 93 anos e ex-guarda de Stutthof, teve suspensa uma sentença de dois anos de prisão por conivência com assassinato em massa. Em seu julgamento, ele pediu desculpa às vítimas do Holocausto.
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