Esse é o quadro atual do Japão, apenas três meses antes dos Jogos Olímpicos.
O Japão registrou 3,2 mil novos casos na segunda-feira (26/04), os piores números desde o final de janeiro, quando o país ainda estava imerso em sua terceira onda.
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Na semana passada, o país asiático impôs seu terceiro estado de emergência desde o início da pandemia em Tóquio, a capital, e nas prefeituras de Osaka, Kyoto e Hyogo.
O governo anunciou que o estado de emergência seria "curto e intenso", e que as medidas de contenção durariam duas semanas, entre 25 de abril e 11 de maio.
Durante esse período, lojas de departamentos, restaurantes, bares e karaokês que servem bebidas alcoólicas ficarão fechados.
Os restaurantes que não servem bebidas alcoólicas fecharão mais cedo e as empresas deverão tomar medidas para facilitar o trabalho remoto. As escolas permanecerão abertas.
Tudo isso em meio a dúvidas e críticas sobre a celebração dos Jogos Olímpicos, que já foram adiados no verão de 2020.
"Os Jogos Olímpicos não serão muito divertidos se o coronavírus e novas variantes continuarem a se expandir. Empresários e políticos dizem que será emocionante e divertido. Pode ser verdade, mas é assustador se não estivermos devidamente protegidos", disse a professora de Ciências Sociais da Universidade Waseda, Mieko Nakabayashi, para a BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).
Quarta onda impulsionada por novas variantes
O impacto do coronavírus no Japão foi menor do que em muitos outros países. No total, o país acumula cerca de 570 mil casos e 10 mil mortes, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins.
No entanto, o crescimento mais recente de infecções é preocupante devido à velocidade e também ao aumento da ocupação de leitos hospitalares nas regiões afetadas.
Nos últimos 15 meses, o Japão enfrentou três ondas de coronavírus — a última, em janeiro, foi a mais grave e mortífera.
Agora, os especialistas temem que essa quarta onda, impulsionada por variantes mais contagiosas do coronavírus, dure mais, como admitiu o professor Koji Wada, da Universidade Internacional de Saúde e Bem-Estar de Tóquio, no início de abril, segundo a agência Reuters.
"O caso de Osaka já está sendo devastador e agora Tóquio está lutando muito para evitar uma situação semelhante", disse Nakabayashi.
Vacinação lenta
Somado ao preocupante aumento de casos está uma campanha de vacinação muito lenta, principalmente se comparada a outras economias poderosas.
Até o momento, o Japão vacinou menos de três milhões de pessoas de sua população de 126 milhões, longe dos mais de 140 milhões de doses administradas nos EUA ou os mais de 46 milhões no Reino Unido.
Entre os vacinados estão principalmente trabalhadores de saúde.
Especialistas apontam que a demora na vacinação se deve a maiores entraves burocráticos para a homologação de vacinas. Até o momento, as autoridades japonesas deram luz verde apenas para a vacina da Pfizer. A aprovação das vacinas AstraZeneca e Moderna não deve acontecer neste mês.
Na terça-feira (27/04), o governo central anunciou a instalação em Tóquio de um grande centro de vacinação, onde se espera que o processo seja agilizado, priorizando os maiores de 65 anos, segundo o jornal The Japan Times.
"Vacinar o maior número possível de pessoas e fazê-lo o mais rápido possível ajudará a aliviar a pressão sobre o sistema de saúde", disse Taro Kono, o ministro japonês encarregado da campanha de vacinação, em entrevista coletiva.
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"Agora que a nova variante está fazendo com que os pacientes mais jovens também sofram de doenças graves, é importante que os pacientes mais velhos sejam vacinados o mais rápido possível para que possamos nos concentrar naqueles com doenças pré-existentes."
A Olimpíada está em risco?
A taxa de vacinação e a incerteza gerada por esta quarta onda de coronavírus aumentam o debate sobre a viabilidade e segurança dos Jogos Olímpicos que devem começar em 23 de julho.
A realização dos Jogos já conta com forte oposição da opinião pública. No início de 2021, uma pesquisa da TV NHK mostrou que 80% dos japoneses consideravam que o evento deveria ser cancelado ou adiado.
Na semana passada, Toshihiro Nikai, secretário-geral do partido governista, disse em uma entrevista à televisão que "cancelar" as Olimpíadas seria uma "opção" se as infecções por coronavírus continuassem a aumentar.
No ano passado, o Japão já havia adiado a Olimpíada. Há um mês, foi anunciado que não haverá espectadores estrangeiros no evento.
Apesar da falta de apoio do público, tanto o governo quanto o Comitê Olímpico Internacional e o Comitê Organizador do evento insistem que ele será realizado com segurança.
"Espero que a situação do coronavírus melhore com as medidas que o governo, Tóquio e outros governos regionais implementaram", disse Seiko Hashimoto, presidente do Comitê Organizador, após o anúncio do estado de emergência.
"Nós continuamos a esperar um rápido retorno à normalidade e continuaremos a trabalhar em estreita colaboração com as partes relevantes para garantir que os Jogos Olímpicos sejam seguros."
O comitê recentemente pediu às autoridades de Tóquio 500 enfermeiras para cuidar de atletas estrangeiros, "mas a maioria da equipe médica diz que isso será impossível se os hospitais japoneses estiverem enfrentando falta de trabalhadores", disse Nakabayashi.
"Essa notícia pode preocupar ainda mais a população. Além disso, atletas e equipes de todo o mundo podem trazer variantes que se espalham rapidamente. Alguns dizem que Tóquio pode ter um coquetel de variantes", diz a especialista.
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